Bloomberg — Os incêndios florestais e a seca no Brasil, que abalaram o mercado global de açúcar, colocaram a Tailândia e a Índia entre as principais alternativas para cobrir a perda de suprimentos. Mas ambos os países ofereceram lembretes recentes de que também enfrentam seus próprios riscos.
Os preços futuros do açúcar atingiram o valor mais alto desde fevereiro nesta semana, à medida que aumentam os temores sobre os danos às safras causados pelas queimadas, pelo calor e pela seca no Brasil, principal produtor e exportador.
A situação ameaça aumentar os custos dos produtos, de refrigerantes a doces, e mudar o foco dos traders para o desempenho em outros grandes países produtores.
A boa notícia é que se espera que a safra do segundo maior exportador, a Tailândia, se recupere na próxima safra de 2024-25. No entanto, as enchentes de setembro deram um novo alerta sobre os riscos climáticos, com preocupações começando a surgir de que a colheita pode ser atrasada se as chuvas fortes continuarem.
E na Índia, o segundo maior produtor, o apoio à produção de etanol significa que as autoridades provavelmente prolongarão as restrições à exportação de açúcar.
“O mercado de açúcar está sentado em um barril de pólvora e só precisamos de outra chama para incendiá-lo”, disse Henrique Akamine, diretor de açúcar e etanol da Tropical Research Services.
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O inesperado choque de oferta decorrente do clima no Brasil ajudou os futuros do açúcar bruto a subir 19% neste mês em Nova York.
O salto nos preços também foi impulsionado por especuladores que se tornaram otimistas pela primeira vez desde julho.
O mercado tem mais espaço para se recuperar, já que as posições líquidas compradas ainda estão muito abaixo dos picos históricos, de acordo com John Stansfield, analista sênior da DNEXT Intelligence.
“O açúcar tem um dos fundamentos mais claros para apoiar uma alta”, disse ele. “Os fundos podem ver o desequilíbrio na oferta de açúcar bruto no primeiro e segundo trimestres de 2025 e, assim como os comerciantes, veem dificuldades para a produção da Tailândia preencher a lacuna.”
O mercado de açúcar bruto deve ter um déficit comercial global de 2,2 milhões de toneladas no primeiro trimestre do ano que vem, de acordo com Akamine, enquanto o analista independente Claudiu Covrig estima o montante em 1,3 milhão de toneladas.
A Organização Internacional do Açúcar previu, no mês passado, que a produção de açúcar ficará abaixo do consumo em 3,6 milhões de toneladas em 2024-25, uma escassez maior do que na atual safra que está prestes a terminar.
A escassez de oferta significa que os preços podem subir ainda mais se houver mais contratempos na colheita.
Por enquanto, espera-se que a produção de açúcar da Tailândia em 2024-25 atinja 10,6 milhões de toneladas, acima das 8,8 milhões de toneladas do ano anterior, de acordo com a média de oito estimativas de analistas e traders compiladas pela Bloomberg.
Embora não haja sinais de que as inundações recentes tenham afetado as plantações, o mercado está atento às condições do clima. Se a chuva persistir até novembro, isso poderá atrasar a moagem da nova safra até janeiro - cerca de um mês mais tarde do que o normal - disse Virit Viseshsindh, secretário-geral do Office of the Cane and Sugar Board, em uma entrevista na terça-feira.
Quaisquer atrasos ameaçariam sufocar os suprimentos do mercado mundial em um momento em que os embarques do Brasil normalmente diminuem - algo que Akamine, da Tropical Research Services, disse que “teria graves consequências”.
Perspectivas da Índia
A produção da Índia deve totalizar cerca de 30 milhões de toneladas após os desvios para a produção de etanol, de acordo com a estimativa média de 11 traders e analistas pesquisados. Isso seria cerca de 2 milhões de toneladas abaixo do ano anterior, embora as perspectivas variassem em parte devido a diferentes visões sobre a área cultivada.
Não está claro se alguma parte será destinada a outros países. No ano passado, o governo ampliou as restrições à exportação para manter os preços locais sob controle antes das eleições.
No mês passado, o governo suspendeu as restrições às usinas e destilarias que utilizam o caldo de cana para produzir etanol, uma medida que ajudará a atingir a meta de aumentar a proporção do combustível nas misturas de gasolina e, ao mesmo tempo, provavelmente prolongará as restrições à exportação de açúcar.
Em teoria, a Índia deve ter açúcar suficiente para permitir o embarque de 1,8 milhão de toneladas em 2024-25 e pode aliviar as restrições à exportação se houver um amplo suprimento interno, disse Rahil Shaikh, diretor administrativo da Meir Commodities India Pvt.
Entretanto, muitos dos entrevistados na pesquisa da Bloomberg não acreditam que o governo permitirá as exportações. Stansfield, da DNEXT Intelligence, também não espera muito alívio da Índia.
"Agora está se tornando mais claro que a Índia priorizará o setor de etanol e o mercado mundial de açúcar, realisticamente, não pode esperar que a Índia venha em seu socorro", disse ele.
-- Com a colaboração de Dayanne Sousa e Charlotte Hughes-Morgan.
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