Bloomberg — As marcas de café que apostaram em preços mais baixos optaram por não fazer o hedge – e agora os consumidores pagarão o preço.
As empresas que normalmente assumem posições no mercado de futuros para se protegerem das flutuações de preços mudaram de rumo quando os preços começaram a subir no ano passado, e apostaram que poderiam garantir um negócio melhor mais tarde.
Mas a escassez de oferta persistiu e os preços continuaram em alta, o que deixou as empresas – desde a JDE Peet’s NV até a Starbucks – sem opção a não ser aumentar os custos para os consumidores.
Um indicador de hedge do comprador está próximo do nível mais baixo em mais de 11 anos, e espera-se que os fabricantes repassem os custos mais elevados para os consumidores, que já estão pagando o preço mais alto de todos os tempos pelo café.
O preço médio da libra de café torrado e moído atingiu o recorde de US$ 7,25 por libra em fevereiro, de acordo com o Bureau of Labor Statistics dos EUA.
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“A realidade é que aumentos significativos de preços são inevitáveis”, disse Rafael Oliveira, CEO da JDE Peet’s NV, titã do café, em uma teleconferência de resultados em fevereiro.
A diretora financeira da Starbucks, Rachel Ruggeri, disse em janeiro que os produtos da empresa vendidos em supermercados serão afetados “de forma mais significativa” do que outras áreas de seus negócios.
Ambos os executivos disseram que esperam que os preços mais altos pressionem os volumes de vendas no varejo.
Os preços do café atingiram um recorde no início deste ano, depois que uma seca prejudicou as colheitas no Brasil, o maior produtor.
A escassez fez com que o mercado entrasse em uma situação de “backwardation”, em que os contratos com datas anteriores são mais caros do que os posteriores.
Como resultado, manter grãos em estoque tornou-se muito caro e os fabricantes estão operando “da mão para a boca” - comprando grãos crus em lotes muito pequenos e entrando no mercado no último momento possível.
Os comerciantes sem dinheiro também estão lutando para financiar o transporte dos grãos de onde são produzidos até onde são consumidos.
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“Os fabricantes estão enfrentando dificuldades”, disse Thiago Cazarini, corretor baseado na maior região produtora de café do Brasil. “Alguns deles, provavelmente, neste exato momento, estão trabalhando abaixo do custo das matérias-primas, de toda a operação.”
Enquanto isso, as fabricantes de pequeno e médio porte continuam a se afastar do mercado de futuros.
A Gregorys Coffee, uma empresa sediada em Nova York com mais de 50 estabelecimentos nos EUA, costumava usar futuros para fixar os preços de quase todo o seu café.
Mas agora, dada a estrutura do mercado e os altos preços, “a maioria das pessoas do nosso porte não está vendo uma grande oportunidade de fazer hedge”, disse o CEO Gregory Zamfotis.
Tomas Araujo, associado de negociação do StoneX, disse que os fabricantes estão esperando que o mercado caia mais um pouco antes de fazer novos hedges. “A questão é que não tenho certeza se vamos chegar lá.”
-- Com a ajuda de Daniela Sirtori.
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