Bloomberg — A situação do mercado global de açúcar começa a se assemelhar a um dos piores períodos de escassez da história.
Essa é a avaliação da maior trading de açúcar do mundo, para a qual anos consecutivos de déficits, danos climáticos a safras importantes e gargalos logísticos lembram 2010 e 2011, quando os preços atingiram cotações máximas em décadas.
“As condições atuais são assustadoramente semelhantes”, disse Mauro Angelo, CEO da Alvean, a trading controlada pela brasileira Copersucar.
A empresa espera um sexto ano consecutivo de déficit de oferta, com uma queda de produção na Índia que deve reduzir os estoques globais de açúcar. Para piorar a situação, o Brasil sofre uma repetição do congestionamento em portos do início da década passada, deixando o mundo subabastecido.
“As chuvas na Índia têm sido péssimas e os reservatórios de água estão extremamente baixos, por isso a próxima safra poderá ser ainda pior do que a atual”, disse Angelo em entrevista à Bloomberg News.
A Índia não deve exportar no ano comercial que acabou de começar, uma mudança em relação a duas temporadas atrás, quando os embarques chegaram a 11 milhões de toneladas. Isso significa que o mercado global depende do Brasil, disse Angelo. E torna os preços extremamente sensíveis a questões como chuvas que ameaçam interromper o corte da cana ou atrasar o carregamento de açúcar nos navios.
O açúcar já está se acumulando nos portos brasileiros, com a infraestrutura do país no limite de sua capacidade.
Safras gigantes de soja e milho que não podem ser escoadas por rios e igarapés secos no norte do país competem por espaço com o açúcar nos portos e ferrovias do sudeste, enquanto as fortes chuvas recentes aumentaram o tempo que os navios têm de esperar para carregar.
O CEO da Alvean disse acreditar que as questões logísticas provavelmente impediram o Brasil de embarcar pelo menos 1 milhão de toneladas de açúcar em outubro, perda que o país dificilmente conseguirá compensar nos próximos meses. Isso porque os portos lotados não terão capacidade para movimentar volumes extras e, em breve, uma nova safra de soja vai ocupar o espaço de armazenamento.
Com estoques baixos em países que dependem de importações para satisfazer a demanda, Angelo vê o risco de interrupções na cadeia de abastecimento.
“Os compradores estão atrasando as encomendas e têm comprado só o necessário nos últimos meses. O crescente envolvimento de governos nas compras e nas reduções de impostos de importação é um sinal importante de estoques apertados”, disse ele. “Todo o sistema está sob estresse.”
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