Lula logo será bem recebido pelo agronegócio, diz ministro Carlos Fávaro

Em entrevista à Bloomberg News, o ministro da Agricultura cita medidas como o novo Plano Safra com valor recorde de financiamento como medidas para apoiar o setor

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Bloomberg — As centenas de bilhões de reais do Plano Safra e a campanha do governo por taxas de juros mais baixas deveriam servir como prova ao agronegócio de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é inimigo, segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

O setor, responsável por quase metade das exportações brasileiras e com forte influência econômica e política, apoiou em peso o ex-presidente Jair Bolsonaro contra Lula na eleição do ano passado.

As relações pioraram ainda mais quando Lula acusou grupos do agronegócio de participarem da tentativa de golpe em 8 de janeiro deste ano.

Mas Fávaro, produtor rural e senador pelo Mato Grosso, maior exportador de grãos do Brasil, desde então lidera os esforços no governo para reconstruir os laços com o setor, tentando convencer os ruralistas de que seus interesses não estão necessariamente em conflito com o presidente.

“Todos aqueles que conseguem fazer essa análise clara do momento que estamos vivendo, já reconhecem que não precisa ter temor do governo”, disse Fávaro em entrevista em seu gabinete na terça-feira à tarde (27), após o lançamento do Plano Safra.

Fávaro tem desempenhado um papel de destaque nos esforços de Lula para fortalecer as relações comerciais agrícolas do Brasil com a China, uma prioridade para um setor que busca mais acesso ao país que mais importa commodities brasileiras. Centenas de líderes do agronegócio se juntaram a Fávaro em uma viagem oficial a Pequim em março.

Esta semana, Lula e Fávaro anunciaram que o governo destinará um valor recorde de quase R$ 440 bilhões ao Plano Safra. Os líderes do agronegócio receberam bem os esforços do governo, segundo o ministro.

“A implementação do plano Safra, a quantidade de políticas de abertura de mercado, incentivos promovidos pelo BNDES, pelo Banco do Brasil, pelo governo como um todo, tenho certeza que em menos de um ano Lula vai estar sendo bem recebido pelo setor”, disse.

Agora o ministro quer que os produtores rurais sejam mais enfáticos no apoio ao governo em sua batalha para reduzir a Selic, que o Banco Central manteve em 13,75% ao ano em reunião neste mês.

Vários líderes empresariais se juntaram a Lula em exigir cortes imediatos de juros nas últimas semanas. Os altos custos de empréstimos também tiveram efeitos “drásticos” no agronegócio, disse Fávaro, ao aumentar o custo do investimento e fortalecer o câmbio, reduzindo a receita em dólar das exportações agrícolas.

“O Brasil tem as taxas de juros mais caras do mundo. Isso tira a competitividade”, argumentou. “O produtor paga juro caro, porque o BC insiste em o juro ser caro, e perde muito dinheiro com a desvalorização do dólar forcada na especulação financeira, focada na taxa de juros atrativa para a especulação.”

Possíveis divergências entre produtores rurais e Lula persistem. Uma onda de invasões de terras apoiadas pelo MST – histórico aliado de Lula e do PT – ameaça o relacionamento. Fávaro tem trabalhado para conter a reação do setor, e o número de invasões diminuiu, pelo menos por enquanto.

Práticas sustentáveis

O Plano Safra divulgado nesta semana inclui benefícios a agricultores que usam práticas sustentáveis ​​e evitam o desmatamento, além de aumentar o financiamento a produtores com baixo nível de emissões de carbono. O objetivo é incentivar uma transição para uma produção mais limpa, embora a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tenha reconhecido que isso não acontecerá “da noite para o dia”.

Enquanto isso, as demandas da França por disposições antidesmatamento mais fortes, podem ameaçar a finalização de um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. O acordo pode dar mais um impulso ao agronegócio do país, maior exportador mundial de café, soja, carne bovina, entre outros alimentos.

Fávaro, que tem defendido a agenda verde do governo, criticou os esforços europeus, argumentando que o Brasil precisa definir suas próprias políticas de proteção ambiental.

“Não é o Congresso francês que vai dizer o que nós temos que fazer aqui em termos de sustentabilidade. O Brasil tem essa responsabilidade, não é porque eles nos impõem, é porque nós queremos ter responsabilidade com o meio ambiente.”

- Com a colaboração de Beatriz Reis e Dayanne Sousa.

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