Kepler Weber mira expansão em aluguel de silos com o aumento da safra de grãos

Bernardo Nogueira, CEO da companhia, explica o plano estratégico para 2030 e diz à Bloomberg Línea que a carteira da empresa não está exposta à variação do preço do aço

Estrutura da Kepler Weber
Por Naiara Albuquerque
28 de Novembro, 2024 | 01:59 PM

Bloomberg Línea — Uma das principais empresas que atuam no pós-colheita, a Kepler Weber aposta no arrendamento de silos para armazenagem agrícola como uma estratégia para alavancar os lucros e atender a demanda crescente dos clientes do agro diante do aumento da produção.

Segundo o CEO, Bernardo Nogueira, a empresa especializada em armazenagem aposta no mercado de aluguel de silos para oferecer novas soluções ao produtor no longo prazo. É uma mudança em relação à abordagem tradicional de venda e reposição dos equipamentos.

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“Estamos tentando colocar o ovo em pé”, disse Nogueira, durante o Investor Day da companhia, realizado na terça-feira (26), sobre a viabilidade financeira do novo negócio de aluguel de silos.

A iniciativa da companhia será feita, a princípio, via um fundo imobiliário fechado de R$ 500 milhões - a empresa também estuda aumentar o montante e até mudar o instrumento para leasing.

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A companhia quer conectar as partes interessadas da cadeia, com um investidor que busca alocar seus recursos no negócio e os clientes do agro, que podem utilizar a unidade a partir de um aluguel via contrato de longo prazo, que pode oscilar entre 10 e 20 anos.

A Kepler (KEPL) também prevê receber uma porcentagem de remuneração sobre a empreitada. O cap rate deve oscilar entre 8% e 10%, segundo previsão do diretor financeiro e de RI da companhia, Renato Arroyo, durante o encontro.

Em novembro de 2024, a Kepler elaborou a primeira proposta do projeto de arrendamento de uma unidade no Mato Grosso.

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O funcionamento das unidades de armazenagem da Kepler funciona do seguinte modo: caminhões chegam à unidade cheios de grãos para descarregar na moega de recebimento. Depois, os grãos passa por limpeza, e por um processo de secagem. Em um elevador, os grãos passam por um transportador até chegar ao silo, onde permanece armazenado.

Bernardo Nogueira durante o Kepler Day, em São Paulo, nesta terça-feira (26)

A nova aposta no aluguel de silos suscitou dúvidas e curiosidade da plateia do Kepler Day, composta principalmente por investidores, analistas e representantes de bancos, que questionaram a empresa sobre o tipo de instrumento financeiro que seria utilizado na empreitada.

Segundo o CEO, parte da equação é construir as unidades com melhor custo benefício possível.

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“Neste momento consideramos mais o fundo imobiliário porque a estrutura seria mais simples”, disse Nogueira, que antes era diretor comercial da empresa e assumiu o posto de CEO em abril de 2024.

Já o CFO, Renato Arroyo, afirmou que o intuito da companhia com o aluguel de silos é oferecer as melhores soluções para o produtor, como a “venda específica do equipamentos, além da recorrência futura de reposição de equipamentos e serviços”, disse ele, que assumiu o cargo no início de novembro, depois de passar quase 10 anos como CFO da Biomm, que trabalha com produção de insulinas.

O aço nos negócios

O CEO da companhia busca garantir que a empresa siga na contramão do agronegócio, que sofreu com margens mais apertadas devido ao ciclo de baixa da commodities neste ano.

Entre os fatores que explicam o bom momento da Kepler, segundo Nogueira, está no crescente gap de armazenagem que existe no mercado - que acompanha o crescimento das produções de soja e milho no Brasil, que têm batido recordes nos últimos anos.

“Não temos perspectiva de queda nos negócios, o que percebemos é que a cadeia inteira está mais estressada com margens apertadas do que dos últimos três anos, mas priorizando a armazenagem”, disse Nogueira.

No último balanço da companhia referente ao trimestre encerrado em outubro, a receita líquida foi de R$ 439,1 milhões, crescimento de 8,2% em comparação com o mesmo período de 2023.

Apesar do resultado robusto nessa frente, o lucro líquido da Kepler Weber foi de R$ 59,6 milhões no período, retração de 10,4% em comparação ao mesmo trimestre de 2023.

A queda do preço do aço impactou nos resultados da companhia do trimestre encerrado em outubro - cerca de 50% dos custos para a construção de um silo vêm da matéria-prima.

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Apesar disso, o CEO da companhia explica que a empresa não tem uma carteira exposta às variações diárias da matéria prima: “Nós trabalhamos com os maiores fornecedores. E um ponto importante é que a gente não especula com o aço. A gente nunca tá exposto a uma variação”, disse Nogueira em entrevista à Bloomberg Línea.

“Nós não ganhamos nem perdemos se o aço sobe ou desce de forma brusca, porque na nossa carteira a gente compra o aço de pedidos já feitos. Temos aço dos pedidos comprados para o segundo trimestre do ano que vem”, afirmou.

No acumulado do ano, os papéis da Kepler na B3 subiram cerca de 5%.

Planos para 2030

A companhia completa 100 anos em 2025 e os seus executivos detalharam três estratégias para o mercado de agro até 2030.

A primeira é seguir com os planos de crescimento em armazenagem agrícola, da qual é líder, com desenvolvimento de bons produtos e excelência no atendimento - 70% das vendas da empresa são de clientes recorrentes.

No trimestre encerrado em outubro de 2024, a empresa investiu R$ 26,1 milhões em capex. Desse montante, 35% foi alocado para o desenvolvimento de novos produtos. “A gente entende que esse é o caminho: continuar crescendo a receita, o que, consequentemente, vai levar a gente a crescer em capex”, disse Arroyo à Bloomberg Línea.

O diretor financeiro e de RI da Kepler Weber prevê que o percentual de investimentos da empresa deve oscilar entre 2,5% e 3% da receita no ano que vem.

A companhia vem reduzindo o tempo de lançamentos de produtos. Se entre 1996 e 2009 a empresa levava quatro anos para introduzir novos produtos no mercado, em 2019 esse intervalo caiu para um ano e meio - e a meta é chegar com uma novidade por ano.

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A segunda estratégia é a possível entrada da Kepler em novos mercados. Sementes e o setor de café estão no radar. Assim como a modernização de unidades com parque instalado da companhia.

Esse movimento já tem sido feito: em maio deste ano, a Kepler contratou um financiamento de R$ 150 milhões com o IFC, do Banco Mundial, para modernizar duas de suas principais fábricas em Panambi, no Rio Grande do Sul, e em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

A terceira e última tem relação com a Procer, empresa de agro inteligência que tem 51% das ações compradas pela companhia de pós-colheita em 2023.

Na prática, o novo braço da empresa busca ampliar o hall de serviços ao produtor, como a possibilidade de saber a quantidade de grãos em armazenamento nos silos.

A experiência e aprendizagem que a Kepler teve com a Procer, definida como positiva pelo CEO, também fez com que a companhia passasse a enxergar o mercado de aquisições com outros olhos. Atualmente, há 26 empresas mapeadas.

“Só que M&A é como colocar o foguete, e dar a ré no foguete, já que tem negócios que não dão certo”, afirmou Nogueira. “Aprendemos muito com a Procer”.

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Naiara Albuquerque

Naiara Albuquerque

É editora-assistente da Bloomberg Línea Brasil. Foi repórter na editoria de Agronegócios do jornal Valor Econômico. Já produziu podcasts, vídeos e reportagens para Capricho, Nexo Jornal, Exame e Jota. É mestranda em comunicação pela Unisinos e tem graduação em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero.