Na Bayer, dois dos maiores acionistas pressionam o grupo por plano de retomada

Deka Investment e Union Investment pedem que a empresa adote um plano mais claro para sair de sucessivas crises; empresas estão entre os 20 maiores acionistas

Ações da Bayer caíram quase 80% desde a aquisição da Monsanto, quando a empresa herdou vários produtos que agora estão sujeitos a litígios em massa nos EUA.
Por Tim Loh
23 de Abril, 2025 | 02:28 PM

Bloomberg — Dois importantes investidores alemães expressaram preocupação em relação às dificuldades recorrentes da Bayer, e exigiram um caminho mais claro, antes da reunião anual de acionistas na sexta-feira, para que o conglomerado saia de uma série de crises.

Ingo Speich, da Deka Investment, caracterizou os resultados atuais dos dois anos de mandato do CEO Bill Anderson como “desastrosos”. Ele apontou para a queda do preço das ações, os níveis de dívida ainda altos e os problemas legais nos EUA.

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A Bayer, que já foi um ícone da indústria alemã, está “em um beco sem saída estratégico”, disse Speich em comentários preparados antes da reunião. A Deka é um dos 20 maiores acionistas da Bayer.

Enquanto isso, Janne Werning, da Union Investment, argumentou que a divisão de ciências agrícolas da Bayer - a principal razão para a aquisição da Monsanto por US$ 63 bilhões pela empresa em 2018 - se transformou em uma “criança problemática”.

As operações da unidade enfrentam dificuldades, não há sinergias claras entre suas sementes e operações de proteção de cultivos e a onda de processos judiciais nos EUA sobre produtos antigos da Monsanto continua a crescer, disse Werning em sua própria declaração.

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“É um círculo vicioso”, concluiu.

No entanto, em um sinal da complexidade dos desafios da Bayer, ambos os acionistas reconheceram que não há solução imediata e se comprometeram a apoiar a maioria das resoluções a serem apresentadas na reunião anual.

De acordo com Speich, não é o momento de considerar a divisão do negócio, que combina produtos farmacêuticos, saúde do consumidor e agricultura.

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Ambos os investidores elogiaram algumas medidas tomadas para melhorar as perspectivas da divisão farmacêutica.

As ações da Bayer caíram quase 80% desde a aquisição da Monsanto, quando a empresa herdou vários produtos que agora estão sujeitos a ações coletivas nos EUA.

A empresa já pagou cerca de US$ 10 bilhões dos US$ 16 bilhões reservados para lidar com as alegações de que o herbicida Roundup causa câncer, algo que a Bayer nega. A Bayer também enfrenta bilhões em custos legais potenciais de processos sobre PCBs tóxicos.

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Aumento de capital

Tanto a Deka quanto a Union disseram que apoiariam o pedido da Bayer de autorização para levantar bilhões de euros no caso de qualquer potencial aumento de capital no futuro para enfrentar os problemas legais - embora Werning tenha apontado que “acordos generosos” nos últimos anos não conseguiram parar o ataque dos litígios.

“Por que, de repente, seria possível interromper a onda de ações judiciais com mais dinheiro, o que não foi possível no passado?” disse Werning.

Ambos os investidores ressaltaram que Anderson disse no ano passado que não recorreria a um aumento de capital.

Leia também: Bayer é condenada a pagar US$ 2,1 bilhões nos EUA após novo revés com o Roundup

Speich também criticou a Bayer por só ter divulgado a intenção de pedir permissão para um aumento de capital em uma carta aos acionistas dois dias após a divulgação dos resultados financeiros - uma surpresa que fez com que as ações caíssem até 10%.

Os esforços para explicar a situação posteriormente não foram suficientes, disse ele.

“A criança já havia caído no poço”, disse ele. “Se você realmente quiser realizar um aumento de capital, a comunicação deve ser diferente.”

Desde o acordo com a Monsanto, tornou-se uma espécie de rito anual para os investidores frustrados, que compararam a empresa a uma pilha de vidro quebrado, a um gigante que se tornou anão e a uma casa em chamas.

Desta vez, Speich advertiu que era melhor que Anderson oferecesse soluções no “ano decisivo” de 2025.

-- Com a colaboração de Eyk Henning.

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