Bloomberg — As autoridades americanas investigam o aparecimento de uma cepa de gripe aviária identificada nos Estados Unidos pela primeira vez, um sinal preocupante de que o vírus está evoluindo de maneiras que podem dificultar sua contenção.
Detectado em uma fazenda de patos no condado de Merced, na Califórnia, esse é o primeiro caso confirmado de H5N9 em aves domésticas nos Estados Unidos, de acordo com o site da Organização Mundial de Saúde Animal, um grupo sediado em Paris que se concentra em doenças animais.
O caso da Califórnia não foi anunciado pelas autoridades de saúde dos Estados Unidos, pois o governo Trump suspendeu as comunicações oficiais sobre tópicos de saúde enquanto aguarda uma revisão política.
Os cientistas temem que isso possa atrasar a divulgação de informações essenciais ao público, inclusive sobre surtos de doenças.
"É extremamente incomum e acredito que isso reflete a decisão política de que todos fiquem no escuro", disse Michael Kinch, especialista em vacinas e diretor de inovação da Stony Brook University. "É preocupante porque qualquer tipo de gripe não típica é particularmente problemática quando ganha a capacidade de saltar entre espécies."
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Novas cepas de gripe aviária são preocupantes, pois a doença causou centenas de mortes em pessoas ao longo dos anos, principalmente por meio da exposição a animais infectados, e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e as autoridades estaduais estão investigando o caso.
Uma cepa mais comum de gripe aviária, a H5N1, tem se espalhado recentemente em animais de fazenda nos Estados Unidos, embora casos graves em pessoas tenham sido raros.
O H5N9 é um subtipo de gripe aviária, e uma versão que apareceu na China há mais de uma década era "altamente patogênica", de acordo com um artigo acadêmico de 2015 elaborado por pesquisadores do país. Acredita-se que a versão H5N9 seja proveniente de uma combinação genética de outros vírus da gripe aviária, inclusive o H5N1.
As autoridades dos Estados Unidos são obrigadas a relatar doenças em animais à Organização Mundial de Saúde Animal, de acordo com o site do USDA. A agência dos Estados Unidos não respondeu aos pedidos de comentários sobre o motivo de não ter relatado o caso publicamente.
As preocupações com o H5N1, que é conhecido e estudado há mais de uma década, vêm aumentando desde que uma morte foi associada ao vírus na Louisiana no início deste mês.
O H5N9 é uma cepa viral menos pesquisada. Se ela se espalhar entre os seres humanos, os cientistas provavelmente terão que começar do início, desenvolvendo vacinas e pesquisando o vírus, disse Kinch.
"Esta é a época errada do ano e o vírus errado para se brincar", disse Kinch.
As autoridades de saúde dos Estados Unidos têm monitorado o vírus H5N1 em busca de mutações genéticas que possam torná-lo mais perigoso. Por enquanto, eles dizem que não há evidência de disseminação entre humanos e que o risco para o público em geral permanece baixo.
Ainda assim, o novo caso mostra que o H5N1 está começando a misturar material genético com outros vírus da gripe, "o que é preocupante", disse Peter Hotez, especialista em vacinas e reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical do Baylor College of Medicine.
Jude Children's Research Hospital, em Memphis, disse que o novo caso de H5N9 não parece, por si só, aumentar o risco para humanos ou animais. Ainda assim, segundo ele, os pesquisadores precisam examinar atentamente a sequência genética para verificar se ocorreu alguma mudança importante.
"Sempre que um vírus da gripe sofre mutação ou evolui, não podemos prever o resultado final disso", disse Webby.
-- Com a colaboração de Michael Hirtzer e Ilena Peng.
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