Bloomberg Línea — A startup potiguar Carboflix, do empresário Thelis Botelho, acaba de receber um investimento de R$ 20 milhões do grupo Varejo Mais e da Cameo Investimentos para desenvolver um aplicativo cujo modelo de negócios tem como base parcerias com grandes companhias, como Bradesco Seguros e Bradesco Previdência, disponíveis a caminhoneiros do agro e de outras indústrias.
De um lado, o modal rodoviário segue como principal responsável pelo escoamento de grãos em longas distâncias no Brasil - sobretudo para o mercado interno e para a exportação.
Por outro, a idade média dos caminhoneiros autônomos segue aumentando, enquanto os mais jovens têm preferido outras carreiras em detrimento da vida na estrada.
Foi o que percebeu Thelis Botelho antes de criar o CarboFlix, um aplicativo lançado no fim de 2024 com benefícios tanto para os caminhoneiros quanto para seus veículos.
Segundo Thelis, muitos profissionais dessa categoria não têm acesso a serviços básicos, como check-ups médicos ou seguro de vida. A ideia é funcionar como uma espécie de one stop shop do caminhoneiro.
Leia mais: Importação de carne bovina atinge recorde na China e eleva o risco de barreiras
“O caminhoneiro autônomo é uma empresa de uma pessoa só, e ele precisa de suporte para enfrentar os desafios do dia a dia. Com o CarboFlix, nosso objetivo é oferecer soluções que facilitem a vida deles”, disse Botelho em entrevista à Bloomberg Línea.
O plano mensal para adesão do aplicativo é de R$ 199 e, inicialmente, foi lançado com 20 benefícios - mas Botelho prevê superar a marca de 30: desde a descarbonização de motores gratuita para assinantes a assistência contábil, seguro de vida com auxílio funeral e acesso a consultas de telemedicina.
“Muitas vezes o caminhoneiro morre a 2.000 quilômetros de distância de casa, na estrada, e o custo de translado do corpo é muito alto e a família não tem capital para custear o processo”, explicou.
Leia mais: Como a pecuária brasileira busca novos destinos de exportação além da China
Entre as empresas ligadas ao aplicativo está a Ambipar, que atua na gestão ambiental, a Bradesco Seguros e a Bradesco Previdência. “O motorista que sofrer um acidente ambiental pode entrar em contato diretamente com o atendimento da Ambipar, por exemplo”, disse.
Botelho disse que também está em contato com a Starlink, do bilionário Elon Musk, para levar planos de internet via satélite para o caminhoneiro na estrada - a falta de pontos de conectividade em lugares mais remotos dificulta o uso amplo de novas tecnologias no país.
A startup de Botelho também está em negociações avançadas com uma empresa que oferece descontos em combustíveis para fazer parte dos benefícios, apesar de não ter revelado qual companhia deverá passar a integrar o negócio.
Além disso, uma parceria com uma instituição financeira também está em negociação para facilitar o acesso a linhas de crédito para caminhoneiros, disse Botelho.
Atualmente, dado que a startup tem apenas “meses de vida”, 150 caminhoneiros estão conectados à plataforma, mas a meta é chegar a 50 mil usuários até o fim de 2025, com faturamento de R$ 120 milhões.
Além da Carboflix, Botelho também é dono da CarboVapt, empresa fundada em 2018 que atua na limpeza da câmara de combustão de motores a combustão interna, que pode ser realizada de forma preventiva e não invasiva, sem a necessidade de desmontar.
O acúmulo de resíduos de carbonização em motores afeta principalmente carros que atravessam longas distâncias, e com mais tempo de uso, como é o caso dos caminhões.
A empresa opera em dez estados, principalmente no Nordeste, a partir de licenciados. Até o fim do ano a expectativa é chegar a todos os Estados do país.
Leia mais: Parceria com Starlink e Bradesco: como a Deere quer vender mais máquinas no país
Thelis disse que o setor logístico ainda enfrenta barreiras, sendo a resistência cultural dos caminhoneiros em adotar novas tecnologias e práticas a principal delas.
“O maior desafio é educar e mostrar para eles que estamos aqui para somar, não para tirar nada deles”, afirmou. Com esse objetivo, a CarboFlix investe em conteúdos educacionais diários dentro do app, para ensinar os motoristas a adotar medidas preventivas que podem salvar vidas e reduzir custos
No aplicativo, o caminhoneiro também tem a opção de conversar com um assistente virtual chamado Gabriel. A ideia é de transformar essa figura de assistente em uma espécie de “anjo da guarda” na estrada, para tirar as principais dúvidas do motorista, disse Botelho.
Perfil do caminhoneiro brasileiro
No Brasil, a idade média do caminhoneiro autônomo é de 46 anos. A maioria é homem e está há mais de 15 anos na profissão. Eles trabalham 12 horas por dia e recebem cerca de R$ 39,50 por hora trabalhada, segundo dados de um levantamento feito no ano passado pela AGP Pesquisas e encomendado pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA).
Por trás dos dados, setores como o do agronegócio, que dependem do modal rodoviário para sobreviver, têm enfrentado falta de caminhoneiros. O aumento nos custos com frete e a falta de segurança na estrada foram alguns dos fatores que afetam a categoria, segundo os cerca de mil entrevistados.