Bloomberg — Uma alta sem precedentes nos contratos futuros de cacau e café está deixando os traders tão sem dinheiro que muitos não têm mais capital suficiente para embarcar as duas commodities ao redor do mundo.
O aumento dos preços forçou os traders a depositar grandes somas de dinheiro na bolsa de Nova York para respaldar suas posições futuras. Com tanto caixa bloqueado, ficou muito mais difícil financiar cargas para exportar os grãos de onde são produzidos para os mercados consumidores.
Para piorar a situação, um mercado em alta levou alguns produtores rurais que venderam a preços mais baixos a entrar em default, deixando os traders sem o fornecimento necessário. A fabricante de chocolate Hershey argumenta que há uma “desconexão significativa” entre os preços no mercado físico e no mercado futuro, e que a falta de liquidez está permitindo uma volatilidade sem precedentes.
“O mercado à vista e a disponibilidade de financiamento, esse é o problema”, disse Pam Thornton, uma trader veterana de commodities, que é mais conhecida por seu papel no antigo hedge fund de cacau Armajaro Asset Management, à Bloomberg News.
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Os futuros de cacau negociados em Nova York quase triplicaram no ano passado com o clima seco e a disseminação de doenças que prejudicaram as safras na África Ocidental, que responde por cerca de 60% do fornecimento global da commodity. Embora os preços tenham caído 28% em 2025, eles ainda são mais do que o dobro da média da última década.
A alta do café ocorreu logo depois, com uma safra menor do que o esperado no maior produtor, o Brasil, ajudando a impulsionar os futuros de Nova York para uma alta de 20% este ano. Isso se soma a um ganho de quase 70% em 2024.
Muitas empresas que compram e vendem cacau também negociam café, tornando a crise de liquidez ainda pior. Há também uma série de pequenos participantes, que têm muito menos acesso a capital.
A Olam, que negocia café e cacau, viu seu capital de giro aumentar 68% em relação ao ano anterior “devido a aumentos acentuados e sem precedentes nos preços das commodities, principalmente cacau e café”, de acordo com uma apresentação de resultados financeiros no mês passado.
Arbitragem de mercado
No início deste ano, o preço do café e do cacau no mercado físico caiu o suficiente para que os traders pudessem lucrar com a compra dos produtos e o transporte deles para armazéns nos EUA para entrega na bolsa. No entanto, isso simplesmente não aconteceu de forma significativa.
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”No mês passado, era possível comprar cacau de vários países produtores, principalmente do Equador, e entregá-lo à bolsa com lucro — se você tivesse dinheiro para isso”, disse Thornton.
Atualmente, apenas algumas firmas têm o poder para assumir uma nova posição para movimentar café dos países produtores para os consumidores, mesmo que haja uma arbitragem, disse Tomas Araújo, associado de trading da StoneX, uma corretora de futuros que também opera no mercado físico.
Os traders de café também lutam com uma escassez de contêineres, o que está atrasando as remessas de alguns países.
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Os torrefadores também não têm incentivo para manter os estoques, pois os futuros com prazos mais longos valem menos — oque significa que eles perdem dinheiro quanto mais tempo mantêm o estoque.
“Oferta é uma coisa — acho que o mercado meio que sabe quanto café haverá”, disse Araújo. “O problema é: o café conseguirá sair do porto e chegar ao destino a tempo?”
Os suprimentos globais de café devem ficar abaixo da demanda por uma quinta temporada, de acordo com a Volcafe, uma das maiores tradings de café do mundo.
A Marex espera um pequeno excesso de oferta. O mercado de cacau finalmente deve retornar a um frágil superávit após uma escassez recorde na temporada.
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