Bloomberg — As enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul terão efeitos duradouros na agricultura, em virtude dos solos encharcados que dificultarão o plantio de arroz e trigo para a próxima safra.
Produtores do Rio Grande do Sul provavelmente serão forçados a abandonar suas culturas tradicionais e adotar outras, segundo Silvia Massruhá, presidente da Embrapa.
A estimativa é que a produção de trigo deva ter uma queda de 4,3% na safra que começaria este mês, mas o recuo poderá ser ainda mais profundo após as enchentes.
As enchentes já prejudicaram a atual safra de soja e paralisaram unidades de esmagamento que processam a oleaginosa para produção de óleo de cozinha e ração animal.
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Alguns frigoríficos também interromperam operações no estado, que está entre os maiores produtores de soja, trigo e arroz, além de ser grande produtor de carne suína e de aves.
“Haverá necessidade de um reajuste das atividades agrícolas e pecuárias na região”, disse Massruhá em entrevista. “O solo absorveu muita água, por isso não sabemos que parcela dos produtores de arroz ou de trigo conseguirão plantar a próxima safra ou se terão que plantar outra coisa antes, até que o solo se recupere.”
Cerca de 1 milhão de toneladas de soja podem ter sido perdidas no Rio Grande do Sul, segundo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicado na sexta-feira (10). A corretora StoneX disse que o impacto pode ser três vezes maior.
O consultor agrícola independente Carlos Cogo disse que as perdas de tratores e caminhões também devem impedir produtores de plantar trigo como planejado originalmente.
Isso significaria uma perda ainda maior do que o declínio estimado de 4,3%, chegando a cerca de 4,2 milhões de toneladas, previsto pela Conab na terça-feira (14) para a safra 2024-2025.
A Embrapa planeja enviar pesquisadores às áreas afetadas para analisar o solo e diagnosticar a situação das lavouras quando o nível das águas baixar.
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Outras interrupções na produção agrícola da região
A Bunge suspendeu operações em sua planta de esmagamento de soja em Rio Grande como medida de precaução por causa das chuvas que caíram novamente nos últimos dias. As atividades no terminal da empresa no porto de Rio Grande também foram paralisadas até que seja possível um retorno seguro.
Já a Cargill retomou o esmagamento de soja em sua unidade de Cachoeira do Sul após dois dias de interrupção. Mas algumas atividades – como a produção de biodiesel – permanecem suspensas, já que as estradas bloqueadas pelas inundações restringem o escoamento do produto.
As instalações da Bianchini em Canoas foram inundadas, colocando em risco quase 100.000 toneladas da oleaginosas em seus armazéns, disse o diretor corporativo Gustavo Bianchini em entrevista por telefone. A empresa também suspendeu totalmente a produção de óleo e farelo de soja na fábrica, que normalmente processa 2.400 toneladas por dia.
Pelo menos duas unidades de processamento de carne de frango e suína ainda estavam com operações interrompidas no fim do dia no sábado (11), e outras enfrentam interrupções parciais, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
--Com a colaboração de Tarso Veloso.
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