Em meio a guerra comercial, EUA devem ter recorde de importações de produtos agrícolas

Segundo o Departamento de Agricultura, déficit comercial agrícola do país deve alcançar US$ 49 bilhões, maior valor já registrado; açúcar e café são alguns dos responsáveis pelo aumento

Abacate; agricultura
Por Michael Hirtzer - Ilena Peng - Dominic Carey
28 de Fevereiro, 2025 | 02:30 PM

Bloomberg — Os Estados Unidos, conhecidos por serem uma potência agrícola global, nunca importaram tantos alimentos.

Espera-se que os embarques de topo tipo de produto, desde abacates até café e açúcar, levem o déficit comercial agrícola do país a um recorde de US$ 49 bilhões este ano, informou o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em seu relatório de perspectivas comerciais.

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Ao mesmo tempo, as culturas mais cultivadas nos Estados Unidos vêm perdendo mercados no exterior nas últimas décadas.

Essa é uma reviravolta radical para uma nação que já usou seus abundantes suprimentos de alimentos como uma ferramenta de política, uma vez que os Estados Unidos agora enfrentam um futuro de déficits comerciais agrícolas persistentes.

O país importou mais alimentos do que exportou desde 2023. Antes disso, os únicos outros déficits anuais foram em 2019 e 2020, durante a guerra comercial do presidente Donald Trump com a China, e uma sequência anos antes de 1960.

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“O que estamos vendo não é animador quando se trata de aumentar nossa dependência de um pequeno número de mercados”, disse Mark Powers, presidente do Northwest Horticultural Council, ligado ao Departamento de Agricultura na quinta-feira (27), durante o Agricultural Outlook Forum.

A organização sediada em Washington “gostaria de aumentar o número de mercados para os quais vendemos em todo o mundo, mas, cada vez mais, somos forçados a nos concentrar em proteger o mercado doméstico e, para nós, esse mercado é o Canadá, o México e os Estados Unidos”, disse Powers.

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Ele observou que os vizinhos do norte e do sul dos Estados Unidos recebem uma parcela maior das exportações de maçã dos Estados Unidos do que costumavam receber.

Ameaça das tarifas

Trump prometeu tarifas de 25% sobre os produtos do México e do Canadá a partir de março, juntamente com um imposto adicional de 10% sobre os produtos da China. Isso pode piorar a situação, aumentando o custo da importação de alimentos se os países retaliarem e os produtos agrícolas forem atingidos pelas tarifas.

A previsão é de que as importações americanas de produtos agrícolas aumentem 6,5% no ano que termina em 30 de setembro, para US$ 219,5 bilhões, sendo que os embarques de abacates, suco de laranja e café serão responsáveis por grande parte do aumento, informou o USDA.

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As exportações estão previstas em US$ 170,5 bilhões, 2,2% a menos do que no ano anterior.

“As importações de abacate do México, a maior commodity em termos de volume de importação, devem aumentar devido à forte demanda e às melhores condições de cultivo”, disse o USDA.

O cacau e o açúcar, que tiveram altas de preço, também estão aumentando a conta das importações. E, embora se espere que algumas exportações de grãos aumentem, as culturas americanas tradicionais vêm perdendo o domínio nas exportações há anos.

A Rússia ultrapassou os Estados Unidos como o maior exportador de trigo do mundo, e o Brasil ultrapassaou os Estados Unidos como o maior exportador de milho, algodão e soja.

Jim Sutter, diretor executivo do Conselho de Exportação de Soja dos Estados Unidos, disse que o setor tenta se diferenciar, concentrando-se na menor pegada de carbono da soja americana. Segundo ele, os Estados Unidos têm um protocolo para certificar e rotular seus produtos de soja como sustentáveis.

A maneira como a soja dos Estados Unidos é cultivada também leva a um melhor perfil nutricional para a ração, pelo qual algumas empresas estão dispostas a "pagar um prêmio sólido", disse ele.

Os agricultores também têm se concentrado mais em produtos de valor agregado, como o etanol, já que está “cada vez mais difícil competir em um mundo de commodities”, disse Ryan LeGrand, CEO do US Grains Council, no fórum.

A projeção do Departamento de Agricultura baseou-se nas políticas em vigor a partir de 11 de fevereiro - não inclui os 70 milhões a 100 milhões de ovos que o país buscará importar para enfrentar os preços recordes e o pior surto de gripe aviária da história.

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