Diversidade e resiliência no agro: como a Bayer enxerga o cenário para 2025

Em entrevista à Bloomberg Línea, o presidente da Bayer CropScience América Latina, Maurício Rodrigues destacou perspectivas mais favoráveis após ano mais desafiador

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Bloomberg Línea — Entre estandes de empresas, cooperativas, bancos e cerca de 3.000 pessoas presentes no Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, em São Paulo, Maurício Rodrigues, presidente da Bayer CropScience América Latina, fez um balanço do que foi este ano para o conglomerado alemão e para o agro como um todo, ao mesmo tempo em que expressou um otimismo cauteloso para 2025.

“Não temos elementos para dizer que 2025 será um ano extraordinário, mas imagino que seja melhor do que foi esse ano”, disse Rodrigues em entrevista à Bloomberg Línea.

Se por um lado empresas de proteína animal, como BRF e JBS, foram beneficiadas pela baixa nos preços de soja e milho no mercado global, já que a maior parte dos custos de produção vem da ração animal, por outro, empresas de grãos e insumos sofrem efeitos negativos.

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No caso da Bayer, que comercializa insumos e grãos beneficiados, as dificuldades do mercado do agro ainda estão sendo sentidas e avaliadas.

Como os preços dos grãos comercializados em valores mais baixos, produtores brasileiros seguraram as compras de insumos e fertilizantes para a próxima safra.

Além disso, a conjunção de fatores climáticos adversos na América Latina, como as enchentes no sul do Brasil no meio do ano e o clima mais quente na região do Meio-Norte do Brasil e no México, além da infestação da praga “cigarrinha” na Argentina, dificultaram um cenário mais rentável para a divisão.

“Quem está no agro há muito tempo sabe que temos um mercado cíclico, e agora estamos vivendo um daqueles ciclos de baixa. Mas particularmente acho que teremos uma estabilização”, disse.

“Eu acredito que muita gente se preparou para essa crise que vivemos e, inclusive, ela nos ajudou a termos uma musculatura melhor, para quando houver um ambiente um pouco mais favorável.”

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No segundo trimestre de 2024, a divisão agrícola da Bayer no mundo registrou um pequeno aumento nas vendas, de 1,1%, para 4,9 milhões de euros.

O crescimento foi desacelerado pela queda na demanda de produtos sem base de glifosato em todas as regiões, especialmente na América Latina devido às condições climáticas adversas citadas; e, no caso asiático, pela queda dos preços de commodities no mercado, segundo explicou a Bayer em seu último balanço financeiro divulgado em agosto.

Melhorar práticas de manejo, para o solo e em termos de produtividade, é o que poderá ajudar a Bayer a se prevenir no longo prazo, afirmou Rodrigues.

A união da digitalização com soluções pensadas em parceria, como as últimas desenvolvidas com a Embrapa, também poderão contribuir para um horizonte mais favorável, defendeu.

A era da diversidade

Outro dos temas prioritários para a Bayer, segundo o CEO CropScience América Latina, é o aumento da diversidade não só na empresa mas no mercado de maneira mais abrangente.

Nesse contexto, a operação da companhia alemã no país ajudou a promover o Prêmio Mulheres do Agro, em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), durante o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio na semana passada. Foi a sétima edição da premiação.

A promoção da diversidade em companhias como a Bayer, que dependem de inovação, se reflete em aumento da rentabilidade, disse Rodrigues.

Na divisão agrícola da Bayer, 34% dos cargos de liderança são desempenhados por mulheres. Na empresa como um todo no Brasil, são 41%. É um processo de aumento da diversidade que acontece gradualmente, ressaltou o executivo. Ele está no comando da companhia desde junho de 2021.

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Como reflexo dessa estratégia, a empresa tem como meta global alcançar a mesma quantidade de mulheres e homens em cargos de liderança até 2030.

O presidente do conglomerado alemão na América Latina destacou a importância do trabalho pela equidade em todos os principais marcadores de diversidade, seja sexual, racial e de pessoas com deficiência. “Nós buscamos refletir a sociedade dentro da empresa”, afirmou.

Neste mês, a Bayer passou a integrar o Movimento pela Equidade Racial (Mover) - iniciativa da qual empresas como Cargill, Marfrig, Ambev, Vale, Coca Cola e Heineken são também associadas, entre outras. Anteriormente, a Bayer já contava com um programa de trainee exclusivo para pessoas negras.

Engenheiro de formação, Rodrigues acumula experiência em diversas empresas de agro da América Latina. Atualmente, é membro do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) e da CropLife. Antes da conclusão da aquisição da Monsanto pela Bayer, trabalhou por 19 anos na empresa americana de defensivos agrícolas, em que foi CFO no Brasil e na América Latina.