Bloomberg Línea — A alemã Boehringer Ingelheim continua a colher frutos de uma de suas apostas mais longevas: a divisão de saúde animal. Fundada em 1885, a companhia mantém o segmento como um dos pilares estratégicos do negócio global, mesmo diante das transformações do setor ao longo das décadas.
Joana Adissi, que assumiu em setembro a liderança da divisão de Saúde Animal da empresa no Brasil, explicou a relevância do portfólio veterinário para os resultados da companhia e a vantagem competitiva de operar como empresa de capital fechado — característica rara em um setor repleto de pares listados.
“Temos orgulho de ser uma empresa familiar de capital fechado. E nós vamos continuar assim”, disse Adissi em entrevista a jornalistas na última semana sobre os resultados trimestrais.
Antes de chegar à Boehringer, a executiva atuou como gerente de vacinas da Sanofi.
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Em 2024, as vendas da área de saúde animal da companhia cresceram 1,9% em relação ao ano anterior e somaram em receita € 4,7 bilhões (US$ 5,1 bilhões).
Desse resultado, as vendas de produtos pets, que engloba cães e gatos, responderam por 61%. Aqueles voltados para ruminantes e os suínos somaram 11% cada um, seguido por aves (9%) e os equinos (6%).
“A unidade [de saúde animal] entrega resultados consistentes. O desafio é seguir crescendo, mesmo com as bases comparativas altas e com mudanças profundas no perfil do mercado. Estamos focados na prevenção, na inovação e na educação”, afirmou Adissi em entrevista à Bloomberg Línea.
Ao considerar o braço de saúde humana, o avanço foi de 6,1%, totalizando uma receita líquida de € 26,8 bilhões (US$ 28,9 bilhões).
Segundo Adissi, o Brasil está entre os dez principais mercados da companhia e, por isso, é uma das apostas para que a empresa continue a crescer.
“Já trabalhei em mercados em que tive que fazer um grande turnaround e reverter um jogo. Aqui, por outro lado, está entregando muito, mas existe muita mudança que acontece no segmento e no mercado, e não necessariamente só na Behringer”, afirmou Adissi.
Essa mudança citada tem a ver com o maior nível de informação e cautela que o consumidor tem demonstrado com a saúde dos animais - desde os pets até os animais para consumo humano.
Esse movimento leva a Boehringer, assim como outras empresas, a olharem mais para a prevenção em vez do tratamento, disse Adissi.
“A competitividade está cada vez mais acirrada. O desafio é entender como olhamos para essa mudança no ambiente e entender o que dá para fazer aqui de ajuste, de revisão, de modelo de negócios”, afirmou.
O mercado pet
A planta de Paulínia, no interior de São Paulo, é uma das maiores da empresa no mundo e concentra a produção do Nexgard, carro-chefe da linha pet ao lado do Frontline, exportado para mais de 150 países.
José Carlos Júnior, diretor da unidade de Pets da empresa, estima que 90% da exportação global do produto seja feita a partir do Brasil. “O mercado interno ainda representa uma fatia pequena da produção total, mas crescer aqui aumenta nossa relevância estratégica”, explicou à Bloomberg Línea.
Cerca de 60% do portfólio da Boehringer está voltado para animais de estimação. E a empresa tem planos de continuar a apostar nesse mercado no país, onde a taxa de medicalização ainda é considerada baixa, especialmente em comparação com mercados mais maduros, como os EUA e a Europa.
“Há muitos tutores que ainda não conhecem os cuidados preventivos básicos, como o uso correto de antiparasitários e vacinas. Existe um trabalho educacional importante a ser feito”, disse Adissi.
A empresa tem 15,4% de market share no segmento de pets.
No segmento de incubatórios, com foco em imunização e proteção precoce de aves, a empresa cresceu 19%.
A área de equinos também se destaca nos negócios da empresa, especialmente em endoparasiticidas com os produtos Eqvalan e Eqvalan Gold, os únicos disponíveis no portfólio brasileiro.
Globalmente, a companhia possui 45% de market share em equinos e planeja expandir seu portfólio para cavalos no Brasil, incluindo novos produtos terapêuticos e vacinas que já estão presentes em outros mercados. O próximo lançamento está previsto para o primeiro semestre de 2026.
“O perfil do cavalo mudou: antes era lida, trabalho, e hoje é lazer e esporte. Isso abre espaço para inovação”, disse Roulber Silva, gerente de marketing e técnico de grandes animais da companhia, à Bloomberg Línea.
O Brasil possui o quarto maior rebanho de cavalos do mundo e movimenta R$ 30 bilhões ao ano, segundo levantamento da ESALQ citado por Silva.
Na América Latina, o México e a Argentina também são mercados importantes para a companhia.
P&D
Com um investimento global de € 498 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento para saúde animal, a Boehringer opera quatro centros de P&D - na Europa, na América do Norte e na Ásia - e conta com 1.150 cientistas.
Além de pets e grandes animais, a empresa reforça sua aposta na saúde única e integrada, que conecta o bem-estar animal à saúde humana.
“Doenças de origem animal, como a covid-19, mostram o quanto a prevenção é essencial”, afirmou Adissi.
Entre os lançamentos e as ações recentes da empresa estão um medicamento para insuficiência cardíaca para cães, uma vacina oral contra Salmonella em suínos e parcerias como uma com a Embrapa, que garantiu o selo de biosseguridade do leite da Xandô, que comercializa leites e sucos.
Segundo Adissi, a estratégia no país passa por crescer com ações que busquem inovação, prevenção e presença no campo.
“Queremos mostrar que vale a pena investir no Brasil. O crescimento é consistente, e ainda há muita demanda não suprida. Estamos confiantes de que temos muito a contribuir”, afirmou a executiva.
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