De açúcar a soja: clima extremo ameaça elevar preços globais de alimentos novamente

Preços de commodities agrícolas são pressionados por secas e chuvas extremas que têm afetado todas as regiões; Bloomberg Agriculture Spot Index caminha para o maior ganho mensal desde a invasão da Ucrânia pela Rússia

Queimadas
Por Keira Wright - Bernadette Toh - Charlotte Hughes-Morgan
30 de Setembro, 2024 | 02:59 PM

Bloomberg — Secas, chuvas torrenciais e incêndios da Ásia às Américas geram preocupações com safras no mundo todo e já pressionam os preços das commodities agrícolas, o que pode acabar repercutindo no bolso do consumidor.

O Bloomberg Agriculture Spot Index — que acompanha as cotações de nove dos principais produtos agrícolas — caminha para um ganho mensal de cerca de 7%, o maior desde que a invasão russa da Ucrânia fez os preços dispararem no início de 2022.

Embora ainda esteja longe do pico daquele ano, a alta ocorre em meio a impactos climáticos do Brasil ao Vietnã e Austrália, com perdas para a produção de açúcar, grãos e café.

“Recentemente, vimos uma confluência de condições climáticas piores que elevaram os preços”, e a incerteza sobre a oferta deixa os compradores dispostos a pagar mais, disse Michael Whitehead, chefe de pesquisa de agronegócio do ANZ Group.

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É uma reviravolta em relação ao início deste ano, quando os preços dos alimentos ficaram sob controle diante da perspectiva de oferta elevada e demanda fraca em mercados-chave como a China.

Se a alta continuar, pode afetar os preços de alimentos nos supermercados, disse Dennis Voznesenski, diretor associado de economia sustentável e agrícola do Commonwealth Bank of Australia.

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O índice de commodities agrícolas rastreia safras usadas para alimentar gado, adoçar bebidas e fabricar pão. Outras culturas menores como cacau também subiram em 2024 diante da escassez na África Ocidental, e o clima também elevou os custos de legumes em vários países.

Os futuros de trigo em Chicago subiram em setembro em meio a preocupações de que o mau tempo nos principais exportadores poderia prejudicar ainda mais estoques que já caminham para uma mínima de nove anos.

As plantações australianas têm enfrentado tanto seca quanto geadas, e a falta de chuva na região do Mar Negro restringiu o plantio para a próxima safra.

Enquanto isso, os futuros de soja caminham para a maior alta mensal em dois anos, enquanto o Brasil enfrenta sua pior seca em décadas. As condições áridas — que restringiram o ritmo do plantio — devem persistir em algumas áreas, segundo a Maxar. E os incêndios nas plantações de cana do país elevaram os futuros de açúcar em quase 17% este mês.

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O café arábica atingiu a cotação mais alta desde 2011 com o mau tempo no país, que afeta as árvores durante o período crucial de floração. A variedade robusta, geralmente mais barata, também foi atingida pelo mau tempo, e se tornou quase tão cara.

A seca no Vietnã, seguida por fortes chuvas à medida que a colheita se aproxima, prejudicou a produção.

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Em outras partes do Sudeste Asiático, o fornecimento de óleo de palma diminui e os futuros atingiram uma máxima de cinco meses e são negociados com um raro prêmio em relação ao óleo de soja.

Tudo isso significa mais pressão em toda a cadeia de abastecimento. E os fundos alavancados apostam em mais ganhos, com posições compradas líquidas em futuros de açúcar, farelo de soja e cacau, segundo dados da CFTC, a comissão reguladora do mercado de derivativos dos EUA.

A seca em grande parte do norte e centro-oeste do Brasil provavelmente continuará a ameaçar as safras, segundo analistas do JPMorgan. Além disso, o mercado está de olho nas tensões no Oriente Médio e no Mar Negro, e em como o resultado da eleição nos EUA deve impactar as relações comerciais com a China, de acordo com Whitehead.

“Há um grau razoável de volatilidade que os mercados não podem ignorar”, disse.

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