Bloomberg — Os agricultores que desembolsam US$ 37 bilhões por ano para pulverizar os campos com herbicidas líquidos cada vez mais testam um novo modelo: usar a tecnologia para usar menos.
Depois de quase um século de implementação de uma abordagem do tipo “mais é mais” para herbicidas químicos, o setor agrícola global rapidamente fez avanços que prometem reduzir o uso de sprays de controle de ervas daninhas em até 90%.
Com o uso câmeras alimentadas por inteligência artificial (IA), os novos pulverizadores podem identificar e atingir plantas invasoras, evitando as culturas comerciais.
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Se até mesmo uma fração dos produtores adotar as novas ferramentas, isso poderá significar uma grande mudança para as grandes empresas de produtos químicos agrícolas, como a Bayer e a BASF.
“Embora não reconheçam isso amplamente, elas percebem que a venda de milhões de galões de produto é um modelo cego e em extinção”, disse Jason Miner, diretor global de agricultura da Bloomberg Intelligence, sobre o setor de herbicidas.
A proteção de culturas é um grande negócio, avaliado em cerca de US$ 79 bilhões em 2022, de acordo com a S&P Global, sendo que os herbicidas representam quase metade do mercado.
Nos Estados Unidos, os herbicidas são usados em 96% dos hectares de milho plantados, em comparação com 19% dos campos que são tratados com fungicidas e 14% com inseticidas, de acordo com uma pesquisa do Departamento de Agricultura do país de 2021.
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Cerca de 28% das terras cultivadas são pulverizadas por meio de aplicações aéreas, mas a grande maioria depende de pulverizadores terrestres.
O uso de menos herbicida por meio de aplicações de precisão pode ajudar a reduzir os custos para os produtores, cuja renda geral deverá diminuir em 2024. Há também razões ambientais para considerar a possibilidade de recuar.
A deriva de pesticidas de um campo para outro, quando o produto é levado pelo vento, pode danificar as plantações e prejudicar os animais, incentivando o uso mais direcionado. A deriva pode levar a processos judiciais caros, como os que alegam que o composto dicamba chegou à área vizinha.
Os produtos químicos para lavouras também enfrentaram ações judiciais dispendiosas relacionadas à saúde humana.
A Bayer já gastou cerca de US$ 10 bilhões dos US$ 16 bilhões que reservou para lidar com o litígio em massa nos EUA sobre o Roundup, o herbicida de grande sucesso que adquiriu quando comprou a Monsanto e que dezenas de milhares de reclamantes insistem que causou câncer.
A Bayer afirma que o produto – e seu principal ingrediente, o glifosato – é seguro. A iniciativa da Europa de reduzir os pesticidas químicos pela metade até 2030 incentivou ainda mais a mudança na aplicação.
Máquinas mais precisas
Grandes e pequenas fabricantes de máquinas laçaram suas soluções. A Deere & Co. (DE), a maior fabricante de tratores do mundo, está no segundo ano de venda de seu pulverizador agrícola topo de linha que, segundo ela, pode reduzir as aplicações de produtos químicos em até 77% com o uso de IA e machine learning.
A Greeneye Technology, sediada em Israel, acaba de abrir sua primeira loja de varejo nos EUA para vender barras de pulverização com IA que podem ser adaptadas a qualquer máquina existente, com planos de expansão para outros oito estados no próximo ano.
A brasileira Solinftec está construindo pulverizadores robóticos em uma fábrica de Indiana que, segundo ela, permite que os produtores reduzam os volumes de herbicida em mais de 90%.
“As empresas químicas não podem lutar contra a redução de herbicidas”, disse Guilherme Guine, diretor de sustentabilidade da Solinftec. Essa tecnologia é uma “ameaça, com certeza, porque reduz drasticamente a quantidade de insumos”.
Até o momento, a tecnologia emergente ainda é de pequena escala e não parece causar muito impacto nos resultados financeiros das fabricantes de produtos químicos. Mas isso não significa que elas estejam de braços cruzados.
Algumas empresas estão tentando sair na frente, inclusive ao trabalhar mais de perto com os fabricantes de equipamentos e adicionar novos modelos de serviços que fornecem consultoria agronômica aos agricultores.
“Elas tentaram se posicionar para vender ‘melhor rendimento por hectare’ ao oferecer efetivamente consultoria e prescrições”, disse Miner.
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A BASF, por exemplo, tem uma joint venture com a fornecedora de tecnologia Bosch chamada One Smart Spray, que aplica automaticamente o produto apenas onde é necessário e integra o mapeamento de ervas daninhas que ajuda os agricultores a acompanhar a economia de custos em tempo real em um aplicativo para celular.
A Bayer, que fala há anos sobre a mudança de “volume para valor” quando se trata de soluções de proteção de culturas, desenvolveu sua própria ferramenta apoiada por IA para pulverizar produtos químicos que os agricultores podem usar com a compra de uma assinatura.
De modo geral, a Bayer disse que os novos avanços em pulverização do setor seriam “neutros”, já que as empresas químicas estão mudando junto com os agricultores.
“Estamos totalmente alinhados com empresas como a Deere e outras na área de automação e equipamentos que têm essa aspiração de ajudar o agricultor a ser realmente melhor em termos de uso preciso dos vários insumos que utiliza”, disse Bob Reiter, chefe global de pesquisa e desenvolvimento da divisão de ciências agrícolas da Bayer. “Queremos maximizar a produção que os agricultores podem criar, mas minimizar os insumos que eles usam.”
E, embora se espere que os produtos químicos aplicados após o surgimento das ervas daninhas diminuam com a nova tecnologia, alguns agricultores podem precisar aplicar mais produtos conhecidos como herbicidas residuais no início do processo, disse Matt Leininger, diretor administrativo para a América do Norte e Austrália na joint venture entre Bosch e BASF, ajudando a proteger o setor.
“A forma mais fácil de controlar uma erva daninha é não deixá-la crescer”, disse Leininger.
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