Com safra recorde, BB espera queda da inadimplência do agro, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg News, Tarciana Medeiros avalia que o aumento da produção deve ajudar os produtores e trazer alívio para os preços; banco é o maior credor de empresas agrícolas

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Bloomberg — Os indicadores econômicos já apontam para uma colheita recorde no Brasil neste ano, um alívio bem-vindo para os consumidores que enfrentam um aumento dos preços dos alimentos que tem pesado na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois de graves secas e enchentes em 2024, as chuvas se normalizaram este ano. Isso provavelmente significa alimentos mais baratos, de acordo com Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, o segundo maior banco do país e maior credor de empresas agrícolas.

“Quando você olha para o histórico de anos de safra recorde, você vê uma cesta básica controlada”, disse Medeiros em entrevista à Bloomberg News em seu escritório em Brasília na quinta-feira (27).

Isso é uma boa notícia não só para Lula. O Banco do Brasil (BBAS3), que tem uma carteira de crédito agrícola de R$ 400 bilhões, também será beneficiado.

A estatal espera que a taxa de inadimplência para empréstimos vencidos há mais de 90 dias caia este ano, depois de subir para 3,32% em 2024, principalmente devido a empréstimos ao agronegócio.

“O ano passado foi difícil para muitos produtores, mas esperamos que a inadimplência se acomode em 2025″, disse Medeiros.

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A popularidade de Lula caiu para o nível mais baixo de todos os tempos, principalmente devido ao aumento dos preços dos alimentos que levou o Banco Central a aumentar a taxa de juros.

A instituição liderada por Gabriel Galípolo elevou a taxa Selic para 13,25% ao ano este mês e prometeu um aumento de um ponto percentual pela terceira vez consecutiva no próximo mês.

O presidente pediu à sua equipe econômica que apresentasse medidas para reduzir os preços e ajudar os brasileiros a obter crédito mais barato.

Vários ministérios, incluindo Fazenda, Agricultura e Desenvolvimento e Comércio, têm discutido alternativas como a redução de impostos de importação para alguns itens. Mesmo assim, o governo também conta com a safra recorde para trazer algum alívio.

Recuperação judicial no agro

Os agricultores brasileiros enfrentaram tempos difíceis no ano passado devido à queda nos preços das principais culturas e ao aumento dos juros.

Os pedidos de recuperação judicial no segundo trimestre de 2024 triplicaram em comparação com os primeiros três meses do ano passado e depois caíram 51% no trimestre seguinte, de acordo com os últimos números do Serasa Experian.

Apesar das perspectivas positivas para uma safra recorde este ano, os produtores provavelmente continuarão a procurar proteção contra os credores, uma vez que as margens de lucro deverão permanecer apertadas enquanto os custos de financiamento aumentam juntamente com a Selic, de acordo com André Pessôa, presidente da Agroconsult.

A produção agrícola brasileira deverá saltar 9,4%, para um recorde de 325,7 milhões de toneladas na safra 2024-25, impulsionada pela colheita de soja, seguida por milho, arroz, trigo e feijão.

O governo também anunciou um plano para incentivar os empréstimos consignados para o setor privado, o que deve reduzir as taxas de juro para os trabalhadores que precisam pedir dinheiro emprestado ou renegociar empréstimos existentes.

Isso oferece outra oportunidade de mercado para o Banco do Brasil, que também possui a maior carteira de empréstimos consignados para servidores públicos, de R$ 137 bilhões. Segundo Medeiros, a expertise do banco nessa área pode ser estendida ao setor privado.

O governo estima que o novo programa aumentará esses empréstimos para R$ 120 bilhões, dos atuais R$ 40 bilhões. “Temos um oceano azul para navegar nesse segmento”, disse Medeiros.

O Banco do Brasil reportou um lucro líquido de R$ 37,9 bilhões em 2024, um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior. Este ano, o banco espera um lucro entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões, enquanto enfrenta uma perspectiva mais adversa para as taxas de juros.

Pressão política

A iniciativa de Lula para estimular o crédito não deve ser confundida com pressão política ou uma tentativa de intervenção no banco, segundo Medeiros. “O presidente Lula tem consciência de que o crédito crescerá de acordo com as condições do mercado”, disse ela. “Não há e nunca houve qualquer apelo para fazer algo fora das boas práticas de mercado.”

Mesmo assim, o mercado desconta as ações do Banco do Brasil por preocupações de que o governo possa intervir na instituição, algo que Medeiros considera injusto.

“Somos seguidos de perto por acionistas públicos e privados e seguimos protocolos rígidos de governança”, disse ela.

Os mercados também olham para o banco com “preconceito”, disse ela, devido ao seu elevado nível de crédito no setor agrícola. “A carteira de crédito do agronegócio tem garantias muito maiores”, disse ela, “o que dá segurança ao banco e mitiga riscos”.

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