Não foi o ouro: cacau sobe 200% e se torna a commodity com maior alta em 2024

Dificuldades na oferta, com questões que afetaram a África Ocidental, maior região produtora do mundo, estão entre os fatores que levaram à escalada dos preços

Há poucos sinais de que a oferta restrita e o cenário comercial frágil que provocaram sua trajetória quase vertical tenham uma solução rápida
Por Mumbi Gitau - Ilena Peng
21 de Dezembro, 2024 | 10:57 AM

Bloomberg — A valorização do cacau ultrapassou a de as todas as principais commodities em 2024, e há poucos sinais de que a oferta restrita e o frágil cenário comercial que provocaram sua trajetória quase vertical tenham uma solução rápida.

Os preços quase triplicaram - alta, portanto, perto de 200%, pois a produção vacilante na África Ocidental - a maior região de cultivo do mundo - provocou uma enorme escassez de oferta.

PUBLICIDADE

Muitos traders, afetados pelo aumento dos custos para manter suas posições, fugiram do mercado à medida que a alta ganhava força, e os fabricantes de chocolate ficaram de fora, protegendo novos estoques em uma tentativa de obter preços mais baixos.

Mas o clima severo e uma doença virulenta na safra levantaram novas preocupações sobre a colheita desta temporada, elevando os futuros de Nova York a um recorde histórico de quase US$ 13.000 por tonelada apenas nesta semana.

Leia também: Mondelez avança com cultivo de cacau em laboratório após preços recordes

PUBLICIDADE

Entretanto, em um mercado que pode continuar se recuperando, alguns chocolatiers não estão mais esperando para fixar os preços. A liquidez dos futuros, já baixa, também está contribuindo para as oscilações violentas, fazendo com que os ganhos do cacau ultrapassem até mesmo o Bitcoin.

“Nesses níveis, tudo é sofrimento”, disse Vladimir Zientek, trader da empresa de serviços financeiros StoneX. “Como vimos inúmeras vezes este ano, se este mercado quiser seguir uma tendência em uma direção, ele tem todo o poder para fazê-lo.”

  (Fonte: Bloomberg)

O mercado de cacau esfriou, depois de subir para pouco menos de US$ 12.000 a tonelada em abril, devido às expectativas de melhores colheitas na África Ocidental. A alta foi retomada em novembro, quando o clima se tornou desfavorável para o desenvolvimento das safras, diminuindo as esperanças de uma recuperação significativa.

PUBLICIDADE

“Não parece que nada no lado da oferta tenha sido corrigido neste ano, e estamos realmente a um soluço de ter um quarto déficit consecutivo”, disse Zientek. “Se tivermos essa queda, será que realmente teremos cacau suficiente para cumprir os contratos antigos e os novos contratos que foram vendidos a prazo?”

Leia mais: Fabricantes de chocolates enfrentam nova escalada de preços do cacau

Tanto a Costa do Marfim quanto Gana ainda estão lutando para cumprir os contratos que foram forçados a prorrogar da última temporada.

PUBLICIDADE

O avanço implacável causou problemas em várias frentes, especialmente para os fabricantes de chocolates que ficaram de fora da cobertura de novos estoques esperando que os preços continuassem a esfriar. Agora, confrontados com preços recordes, suas compras frenéticas ajudaram a impulsionar o mercado.

A manutenção de posições vendidas também se tornou “proibitivamente mais cara”, forçando alguns participantes a sair do mercado, pois “não têm a capacidade ou a disposição de refinanciar essas posições perdedoras”, disse Stephen Butler, diretor comercial da ChAI, uma plataforma que usa IA para analisar os mercados de commodities.

Leia mais: Crise de abastecimento de cacau se transforma em oportunidade para o oeste da Bahia

A venda limitada de futuros pelos participantes comerciais, após o déficit de entregas de cacau na última temporada, ajudou a levar suas posições brutas vendidas na bolsa de Nova York ao menor nível sazonal desde 2011, de acordo com Tracey Allen, analista da JPMorgan Chase. Isso reduziu ainda mais a liquidez, tornando o mercado ainda mais vulnerável a grandes oscilações de preços.

(Fonte: Bloomberg)

As remessas de cacau do maior produtor, a Costa do Marfim, têm se saído bem até o momento, ficando cerca de 33% acima do ritmo da temporada passada, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Mas o aumento é “um tanto enganoso”, já que o nível do ano anterior foi muito baixo, disseram os analistas do Commerzbank em uma nota na terça-feira (17).

Leia mais: Produção de cacau no Brasil renasce com mecanização e plantio no Cerrado

Após uma forte redução nos estoques globais, a reserva é pequena se a safra da África Ocidental não for satisfatória, "o que aumenta o risco de picos de preços", acrescentaram os analistas.

Embora os preços das amêndoas brutas tenham atingido recordes, um aumento nos custos da manteiga de cacau - um ingrediente essencial do chocolate extraído delas - foi atenuado pelo enfraquecimento da demanda, de acordo com dados da KnowledgeCharts, uma unidade da Commodity Risk Analysis.

Isso pode limitar os ganhos de preço no próximo ano, uma vez que os fabricantes de chocolate estão migrando para equivalentes feitos com ingredientes como o óleo de palma.

“A demanda é incerta nesse momento, e os dados de moagem do quarto trimestre serão examinados de perto quando forem divulgados em meados de janeiro, em busca de qualquer indicação de destruição”, disse Allen. Os níveis de preços atuais provavelmente serão sentidos na demanda no segundo trimestre de 2025, acrescentou.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Não é só choque de oferta. Como o mercado explica a disparada do preço do cacau