Bloomberg — A China lançou uma investigação antidumping sobre as importações de carne suína da União Europeia, em uma medida de alvo restrito que é o mais recente movimento nas tensões comerciais latentes entre Pequim e Bruxelas.
A China é o maior mercado externo de carne suína da UE, embora os volumes de exportação tenham caído nos últimos anos devido ao excesso de oferta doméstica e aos preços baixos.
O valor do comércio foi de US$ 1,83 bilhão no ano passado. Espanha, Dinamarca e Holanda os maiores beneficiários.
Ainda assim, trata-se de uma pequena parcela do comércio geral com o bloco. A China importou US$ 282 bilhões em mercadorias da UE no ano passado, de acordo com dados oficiais.
A investigação - que, segundo o Ministério do Comércio da China, teve início na segunda-feira (17) - é vista como um contraponto de Pequim a investigações semelhantes conduzidas pela UE, que analisa os subsídios chineses em uma série de setores e imporá tarifas sobre as importações de carros elétricos a partir de julho. Em janeiro, a China anunciou uma investigação antidumping sobre o brandy europeu.
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A Comissão Europeia analisa a investigação da China e “intervirá conforme apropriado para garantir que a investigação esteja em total conformidade” com as regras da Organização Mundial do Comércio, disse o porta-voz Olof Gill em Bruxelas.
Esperava-se que a China adotasse uma retaliação limitada e direcionada contra a UE após a última medida do bloco. Pequim está receosa de que uma resposta mais robusta pudesse sair pela culatra.
Embora a retaliação possa ajudar a dissuadir outras medidas de proteção ao comércio em todo o mundo, o perigo para Pequim é que uma resposta muito forte encorajaria um maior alinhamento de países contra a China - indo contra os esforços do presidente Xi Jinping para encorajar a “autonomia estratégica” na Europa.
Nos dias que se seguiram à decisão da UE sobre veículos elétricos, Pequim foi altamente crítica e continuou a acusar o bloco de protecionismo.
O principal órgão de planejamento econômico da China, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, publicou três comentários consecutivos criticando a UE e chamando suas ações de “armamento” e “politização” do comércio.
Em um dos artigos, a comissão observou que algumas marcas de automóveis europeias, como Volkswagen e Mercedes Benz, têm mais de 30% de suas vendas na China.
Por enquanto, é difícil avaliar quais serão as consequências da investigação. Ainda assim, as possíveis restrições chinesas à carne europeia atingiriam o setor na Dinamarca de forma “incrivelmente dura”, disse Ulrik Bremholm, vice-presidente do Conselho Dinamarquês de Agricultura e Alimentação. Ele pediu a todas as partes envolvidas que considerem as consequências para os empregos e a segurança alimentar.
“As guerras comerciais não são boas para ninguém, especialmente em relação aos produtos agroalimentares”, disse o ministro da Agricultura da Espanha, Luis Planas, a jornalistas em Madri na segunda-feira (17). Ele acrescentou que espera que as tarifas possam ser evitadas e que ele “fará tudo” para evitar uma guerra comercial.
"Deve haver um diálogo direto com a China para garantir que tudo isso nos afete o mínimo possível", disse Pedro Matarranz, que supervisiona o setor de carne suína na UPA, a união dos agricultores espanhóis.
A agricultura costuma ser um terreno fértil para conflitos comerciais, especialmente no caso de produtos para os quais existem outros fornecedores que podem ser trocados por compradores nacionais.
A China impôs taxas sobre as importações de soja dos EUA no auge da guerra comercial com o governo Trump. Sua recente disputa com Canberra envolveu medidas comerciais contra a cevada, a carne bovina, o algodão e as lagostas australianas, além do vinho.
No caso da cevada e do vinho australianos, a China era um destino importante para as exportações, portanto, as tarifas impostas foram prejudiciais, mas os compradores chineses conseguiram encontrar outros fornecedores.
O país também pode obter suprimentos de carne suína de outros lugares, tanto no mercado interno quanto no exterior. E agora que as tarifas chinesas sobre o vinho australiano foram suspensas, esse produto poderá substituir as garrafas europeias se for bloqueado.
Comércio de carne suína da UE
Antes do anúncio de Pequim, a demanda chinesa por carne suína já estava diminuindo em meio à desaceleração da economia doméstica e à forte recuperação do rebanho suíno do país. As exportações de carne suína da UE para a China já haviam caído 16% em relação ao ano anterior nos dois primeiros meses de 2024.
No início deste ano, a maior produtora de carne suína da Europa, a Danish Crown, disse que planeja mudar para negócios mais voltados para o consumidor, como refeições prontas na Europa, à medida que as exportações para a China se tornam menos competitivas.
Recentemente, a França fechou um acordo sobre as vendas de carne suína e vinho para a China. O país é o principal destino das exportações francesas de carne suína, de acordo com a associação do setor Inaporc, que disse estar acompanhando a investigação de perto.
-- Com a colaboraçao de Jing Li, Celia Bergin, Nayla Razzouk, Clara Hernanz Lizarraga, Lyubov Pronina e Áine Quinn.
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