Cargill vê expansão de esmagamento de soja no país sob risco com tarifas de Trump

Empresa registrou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão no país em 2024, ante um lucro de R$ 2,5 bilhões no ano anterior; câmbio aumentou a dívida da empresa em reais

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Bloomberg — A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, com a China pode ser benéfica para as exportações de soja do Brasil, mas o principal executivo da Cargill no país vê um risco para os planos da empresa de expandir a capacidade de esmagamento da oleaginosa.

O aumento da demanda chinesa pela soja brasileira significaria mais concorrência no país pelos mesmos grãos usados por esmagadoras para produzir óleo de soja, biocombustíveis e farelo de soja, disse o presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa, em uma entrevista à Bloomberg News.

As incertezas relacionadas às tarifas podem influenciar os planos da empresa de aumentar a capacidade de esmagamento no Brasil.

“Sempre olhamos para o pipeline de investimentos, mas vamos ver, caso se solidifique que vamos ter essas tarifas desfavoráveis ao processamento brasileiro, aí tem que rever”, disse Sousa.

Ele acrescentou que a solução não é tão simples como dizer que basta o Brasil produzir mais, já que a demanda global permanece inalterada.

A maior trading de commodities do mundo sofreu um prejuízo em 2024 no Brasil, devido à taxa de câmbio desfavorável e a flutuações nos preços das commodities.

A Cargill tem feito investimentos significativos na potência sul-americana para expandir sua capacidade de esmagamento de soja. Em 2023, a maior parte deles foi destinada à aquisição de três usinas de esmagamento de soja e produção de biodiesel da processadora de grãos Granol, além de quatro armazéns.

No ano passado, a empresa investiu R$ 1,7 bilhão na melhoria das instalações da Granol, bem como em um novo terminal de grãos em Rondônia destinado a aumentar os embarques pelos portos da Amazônia.

A empresa planeja investir de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões este ano, em parte para elevar a produção de biodiesel e farelo de soja. A Cargill também ampliará sua frota de barcaças.

A Cargill divulgou nesta segunda-feira (28) um prejuízo contábil de R$ 1,7 bilhão no Brasil para 2024, ante um lucro de R$ 2,5 bilhões no ano anterior, devido principalmente ao fortalecimento do dólar que aumentou a dívida da empresa em reais.

O ano passado foi “especialmente desafiador” para a companhia e para o mercado de commodities como um todo, disse Sousa em um comunicado. Mas Sousa também afirmou que a empresa continuará investindo e expandindo no país.

A receita proveniente do Brasil diminuiu 14%, para R$ 109,2 bilhões, reflexo de uma queda de 12% no volume de todos os produtos embarcados pela empresa após perdas de safra relacionadas ao clima.

Para 2025, as margens de lucro provenientes das vendas de farelo e óleo de soja podem aumentar se Trump tomar uma decisão em relação às quantidades obrigatórias de etanol de milho e outros biocombustíveis adicionados à gasolina e ao diesel. Mas a guerra comercial ainda é uma incerteza que pode até ser prejudicial aos embarques de grãos, disse Sousa.

“O deslocamento da demanda de um país para outro gera ineficiência no sistema e portanto o produto vai chegar mais caro na ponta. Quando aumenta o preço do produto, tem efeito na demanda”, disse Sousa.

“Não consigo ver o lado bom da guerra comercial.”

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