Cacau atinge o maior preço em 65 anos após clima prejudicar a produção na África

Contratos futuros do grão usado na fabricação de chocolate e doces superaram o valor recorde atingido em 1977; queda da produção na África ameaça a oferta

Granos de cacao
Por Mumbi Gitau - Dayanne Sousa
08 de Fevereiro, 2024 | 03:10 PM

Bloomberg — Os contratos futuros de cacau estenderam sua alta para um recorde em Nova York à medida que a escassez toma conta do mercado, ameaçando tornar o chocolate e outros doces mais caros.

Os preços dobraram no último ano, à medida que os produtores na África Ocidental — responsáveis pela maior parte da produção global — são atingidos por condições climáticas extremas.

Chuvas promoveram a disseminação de doenças nas plantações e atrasaram a colheita. As precipitações foram seguidas de de um período seco sazonal que ameaça prejudicar ainda mais a produção.

Os consumidores já estão pagando mais caro por doces, e o rali do cacau tende a prejudicar os resultados de fabricantes de chocolate como a Hershey (HSY). Os altos preços das commodities limitarão o crescimento dos lucros este ano, disseram executivos da empresa nesta quinta-feira (8).

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O pior pode estar por vir à medida que os fabricantes de chocolate ficam sem suprimentos reservados anteriormente e incorporam os preços atuais mais elevados. Embora os ganhos tenham levado alguns cultivadores a expandir a produção, novas árvores podem levar alguns anos para produzir os grãos de cacau.

“Estamos em um equilíbrio muito apertado”, que provavelmente se manterá por mais 18 meses a três anos, disse Paul Davis, chefe de cacau da importante empresa de softs Sucres et Denrees, em entrevista na feira Amsterdam Cocoa Week. “Não há nenhuma cavalaria vindo para o resgate.”

Davis, que também é presidente da European Cocoa Association, disse que não descartaria a possibilidade de os preços chegarem a US$ 6.000 por tonelada. A oferta global de cacau caminha para ficar abaixo da demanda pela terceira temporada.

O contrato de futuros de cacau mais ativo em Nova York atingiu um pico de US$ 5.600 por tonelada na quinta-feira (8), ultrapassando um pico de 1977 de US$ 5.379 por tonelada.

Isso coloca o contrato no nível mais alto em dados compilados pela Bloomberg ao longo de 65 anos. A safra começou a ser negociada em Nova York há um século. Um indicador chave entre os futuros de Nova York de março e maio também disparou para um recorde.

O custo das opções de compra disparou à medida que os futuros alcançavam máximas históricas. A volatilidade implícita para as opções de dinheiro em maio mais do que dobrou desde o meio de janeiro, enquanto o prêmio das opções de compra sobre as de venda aumentou de perto da paridade para mais de 20 pontos durante esse período.

Embora os preços estejam aumentando, a indústria tem lidado com um histórico de baixos retornos para os cultivadores. Melhores rendimentos são necessários para estimular investimentos em insumos e melhorias nas fazendas, garantindo colheitas mais confiáveis no futuro, disse Joseph Boahen Aidoo, diretor executivo do Conselho de Cacau de Gana, no evento em Amsterdã.

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Regulamentações de desmatamento recentemente promulgadas na União Europeia — que entram em vigor no final deste ano — podem aumentar o potencial de alta dos preços.

O bloco é o maior consumidor mundial de cacau e levará tempo para o mercado se ajustar às exigências de dados e rastreabilidade para atender aos padrões.

“Os consumidores precisarão entender que custará um pouco mais a curto prazo, mas a longo prazo será bom para o meio ambiente”, disse Davis.

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