Bunge diz que lucro deve perder força depois de ganhos impulsionados pelo Brasil

Gigante do agronegócio mundial prevê menor lucro em quatro anos, abaixo da estimativa de analistas; vendas no Brasil, na Europa e no Canadá impulsionaram os ganhos do quarto trimestre

Sede da Bunge nos EUA
Por Gerson Freitas Jr
07 de Fevereiro, 2024 | 04:52 PM

Bloomberg — A Bunge (BG) alertou os investidores que o aumento do lucro dos últimos anos têm perdido força mais rápido do que o previsto, fazendo com que as ações da gigante do comércio agrícola oscilassem.

Os lucros ajustados devem cair um terço este ano, para aproximadamente US$ 9 por ação, disse a Bunge em comunicado dos resultados trimestrais divulgado nesta quarta-feira (7).

O guidance de lucro para o ano fechado, que seria o mais baixo em quatro anos, fica aquém da estimativa média de US$ 10,42 por ação dos analistas consultados pela Bloomberg.

“Olhando para 2024, esperamos atualmente um ambiente de mercado menos robusto do que o que vivenciamos recentemente”, disse o CEO Greg Heckman no comunicado.

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A perspectiva pessimista da Bunge foi parcialmente eclipsada por um crescimento de 14% no lucro no quarto trimestre. O lucro líquido ajustado foi de US$ 3,70 por ação, superando até mesmo a estimativa mais alta dos analistas compilada pela Bloomberg.

A Bunge viu os lucros dispararem para níveis recordes nos últimos anos, à medida que grandes perdas de colheita e interrupções causadas pela guerra na Ucrânia levaram a aumentos expressivos de preços nos mercados de grãos, provando ser uma bênção para as tradings de commodities.

Os preços se estabilizaram em níveis mais baixos, em meio a um aumento nos estoques globais e a uma demanda em declínio, tornando mais difícil replicar o desempenho passado.

As ações da empresa caíram 1,7%, para US$ 88,47 às 12h55 em Nova York (14h55 no horário de Brasília), reduzindo as perdas anteriores de até 4,4% - a mínima intradiária desde 2022. A Bunge caiu cerca de 24% desde o pico em agosto.

Os agricultores estão relutantes em vender e os consumidores têm incentivo para esperar, pois os preços futuros agora são mais baixos do que os atuais, disse Heckman em uma teleconferência com analistas, acrescentando que “os preços estão se equilibrando e a cadeia de suprimentos não está tão apertada”.

Um aumento na capacidade de processamento de soja nos EUA também pressiona as margens para a produção de farelo e óleo, reduzindo os lucros dos processadores.

É esperado que os preços significativamente mais baixos do etanol limitem os lucros da Bunge em 2024, de acordo com uma apresentação da empresa.

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O desempenho do quarto trimestre da Bunge foi impulsionado pelas operações na América do Sul, Europa e Canadá, que mais do que compensaram os resultados mais baixos nos EUA.

A Bunge se beneficiou de sua ampla presença no Brasil, onde o grande suprimento de soja ajudou suas exportações, em meio a margens de processamento em melhoria.

É claro que os lucros da Bunge em 2024 devem permanecer bem acima dos níveis observados nos anos anteriores. Além disso, os ganhos excederam significativamente as previsões iniciais em cada um dos últimos três anos, segundo o analista da Stephens, Ben Bienvenu.

“Esta equipe historicamente tem sido conservadora com as orientações e esperamos o mesmo este ano”, disse Bienvenu em uma nota aos clientes.

A previsão de lucros da Bunge para 2024 não leva em consideração o impacto das negociações esperadas para serem concluídas este ano, incluindo a aquisição de US$ 8,2 bilhões da Viterra.

Ainda assim, o fechamento da transação - previsto para o final de 2024 - não deve ter um impacto significativo nos lucros deste ano, disse a Bunge durante a teleconferência. A Bunge citou “progresso substancial” na transação da Viterra.

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