Bloomberg Línea — A BrasilAgro (AGRO3) teve um prejuízo líquido de R$ 19,6 milhões no segundo trimestre do ano fiscal, ante R$ 10,1 milhões de prejuízo no mesmo período do ano passado.
Nos seis primeiros meses do ano fiscal, o prejuízo foi de R$ 30,1 milhões, versus um resultado positivo de R$ 19,4 milhões no mesmo período do ano anterior.
A companhia segue apostando na diversificação dos negócios com compra e arrendamento de terras sem deixar de lado a produção de commodities nessas localidades, mas sofreu o impacto do câmbio para a estratégia de hedge, disseram seus executivos em teleconferência com jornalistas nesta semana.
Segundo o diretor financeiro e de RI (Relações com Investidores) da companhia, Gustavo Javier Lopez, o prejuízo dos primeiros seis meses do ano fiscal sofreu efeito da desvalorização do real frente ao dólar.
“Essa desvalorização da moeda no período impactou negativamente o resultado financeiro. No entanto os preços em reais das commodities, principalmente da soja, estão acima do orçamento da companhia”, explicou a empresa no documento com os números trimestrais e semestrais.
O Ebitda (lucro antes de juros e impostos) ajustado para o segundo trimestre foi de R$ 31,1 milhões, contra um resultado negativo de R$ 12,6 milhões na comparação anual.
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No compilado dos seis primeiros meses, o Ebitda ajustado foi de R$ 200,4 milhões, contra R$ 10,9 milhões no mesmo período do ano passado.
A receita líquida para o segundo trimestre ficou estável em R$ 153,1 milhões, contra R$ 151,9 milhões. No semestre, o resultado de R$ 607,7 milhões representou crescimento de 43% frente aos R$ 403,1 milhões um ano antes.
“[O crescimento da receita líquida operacional foi] impulsionado principalmente pelo aumento nas vendas de soja e pela valorização do preço da cana-de-açúcar (considerando o mix da Companhia). Essa combinação impactou positivamente as margens e consequentemente o Ebitda ajustado das operações”, apontou a empresa no resultado.
A venda de fazendas desempenhou um papel importante ao somar R$ 129,3 milhões ao caixa da empresa, graças à conclusão da segunda etapa da venda da Fazenda Alto Taquari e da Fazenda Rio do Meio, ambas na Bahia.
A empresa também utiliza a soja como moeda de negociação para facilitar as transações com produtores.
A quantidade de produtos agrícolas vendidos no segundo trimestre do ano fiscal foi de 398,2 mil toneladas, contra 409,7 mil toneladas no mesmo período um ano antes (recuo de 3%). Em receita, porém, o avanço nessa frente de negócios foi de 4% e passou de R$ 147,2 milhões para 153,1 milhões.
Entre os produtos, a cana-de-açúcar segue como a principal commodity agrícola dos negócios da companhia, com R$ 63,4 milhões em receitas, um crescimento de 82% no período.
No setor sucroenergético, a safra de cana-de-açúcar em Mato Grosso e São Paulo transcorreu conforme o esperado, enquanto no Maranhão condições climáticas adversas entre outubro e dezembro impactaram negativamente a produtividade, o que atrasou o início da safra.
A soja também teve um desempenho importante, com a receita crescendo 44%, de R$ 32 milhões para R$ 46 milhões. A redução de 20% nos custos de produção da oleaginosa, impulsionada pela queda nos preços de insumos, contribuiu para a melhoria dos resultados operacionais.
A atividade pecuária segue como uma estratégia transitória para conversão de áreas, com um estoque de 16,3 mil cabeças de gado distribuídas em 16.720 hectares no Brasil e Paraguai.
A receita com a venda no segmento da pecuária caiu 69%, de R$ 10,8 milhões no segundo trimestre do ano passado para R$ 3,4 milhões.
O milho também perdeu espaço nos negócios da companhia: a receita no período foi R$ 13,8 milhões, recuo de 69% frente aos R$ 44,5 milhões no período anterior.
Perspectivas
A BrasilAgro segue com o foco na geração de valor para a sua estratégia de compra e venda de terras. A empresa prioriza a venda de propriedades maduras, que demoram de cinco a sete anos para serem plenamente desenvolvidas.
Para as compras de terras, a taxa alta de juros da Selic a 13,25% ao ano pode ser um fator a mais de dificuldade, mas é algo entendido como um “cenário dado”, segundo o CEO da companhia, André Guillaumon.
“Nunca podemos falar que acabou, mas no curto prazo eu não consigo ver taxa de juros negativas nas economias. Por isso a importância de ter um mix de terras próprias e terras arrendadas que garanta uma segurança financeira maior”, disse o executivo em teleconferência na quarta-feira (5).
De acordo com Guillaumon, no mercado de terras é importante saber aproveitar as oportunidades em situações de estresse financeiro para adquirir novas áreas com potencial de valorização.
Recentemente, um estudo da EXM Partners ao qual a Bloomberg Línea teve acesso indicou que o número de recuperações judiciais no agronegócio deve crescer neste ano, o que abre a possibilidade de compra de terras por um preço mais atrativo.
Guillaumon projetou que em 2025 a empresa deve seguir com arrendamento de mais terras em cana-de-açúcar e menos em soja e milho, dado que a liquidez de venda de terra para grãos é maior.
A previsão é a de aumento na produtividade da cana-de-açúcar entre 2% e 2,5%, com crescimento de 3,5% na concentração de açúcar.
Para reduzir os impactos das oscilações cambiais, a BrasilAgro adota estratégias como hedge, vendas antecipadas e controle de custos logísticos.
A empresa realizou hedge para 46% da soja da safra 2024/25 a um preço médio de US$ 11,25 por bushel e protegeu 67% da exposição cambial a um preço de R$ 5,43. E também optou por vender 50% da soja a US$ 11,65 por bushel antes da desvalorização do real, o que lhe garantiu margens de contribuição favoráveis.
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