Brasil mira o Japão para ampliar exportações de carne bovina ainda em 2025

Em movimento que pode levar a uma disputa com as vendas dos EUA, setor está otimista de que vai conseguir superar questionamentos sobre controle de doenças como febre aftosa

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Bloomberg — Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil está em negociações avançadas para iniciar vendas para o Japão, de acordo com um importante grupo do setor, em um movimento que pode prejudicar as vendas dos EUA para o país asiático.

O Brasil tem fornecido ao Japão informações sobre seu sistema de produção e embarques há duas décadas, e agora o setor está otimista de que o terceiro maior importador mundial de carne finalmente abrirá seu mercado, de acordo com Roberto Perosa, que já trabalhou no Ministério da Agricultura do país e é o atual presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina.

“Não há mais problemas sanitários no Brasil”, disse Perosa em uma entrevista. O Japão havia questionado anteriormente os controles do Brasil sobre doenças como a febre aftosa.

"Agora temos um impulso político", após a visita do Ministro da Agricultura do Japão, Taku Eto, ao país no ano passado, acrescentou.

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Mercado em disputa

Uma medida para permitir a entrada da carne bovina brasileira no Japão colocaria em risco as remessas dos EUA.

Atualmente, os Estados Unidos são um dos principais fornecedores de carne bovina do Japão, mas o país está lidando com uma grave escassez de gado, que levou a um aumento nas importações de carne bovina do Brasil. Os futuros de gado estão sendo negociados em níveis recordes e espera-se que o aperto dure pelo menos até 2026.

Mais da metade do consumo de carne bovina do Japão vem de importações, disse Perosa, acrescentando que o país depende especialmente dos embarques de cortes de carne bovina usados como ingredientes pela indústria alimentícia.

Atualmente, a maior parte dos suprimentos do país asiático vem dos Estados Unidos e da Austrália, a custos mais altos do que os normalmente fornecidos pelo Brasil, disse ele.

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"O Brasil poderia complementar a produção local de carne bovina, pois geralmente consumimos menos do tipo de carne que o Japão exige e temos uma alta capacidade de fornecimento", disse ele.

Manobra política

Perosa planeja visitar o Japão e o Vietnã, outro mercado-alvo para a carne bovina brasileira, no início de fevereiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma viagem planejada para o poís em março.

O quarto maior importador de carne bovina do mundo, a Coreia do Sul, bem como o mercado turco, também estão entre as prioridades da associação neste ano.

Perosa estima que as exportações brasileiras de carne bovina devem aumentar cerca de 10% em 2025 com a abertura de alguns desses mercados. O grupo do setor está fortalecendo sua presença internacional, com planos no primeiro semestre do ano para abrir seus primeiros escritórios fora do Brasil: em Washington, Bruxelas e Pequim.

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Dentro dos gabinetes do governo brasileiro também há otimismo de que o Japão possa abrir seu mercado neste ano.

“Com o ministro Taku Eto, as negociações sobre a carne bovina melhoraram”, disse Luis Rua, que trabalha como secretário de comércio e relações internacionais no Ministério da Agricultura do Brasil.

Ele disse que, embora o mercado japonês para a carne bovina brasileira não possa ser aberto até março, isso pode acontecer até o final deste ano.

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