Bloomberg — A Bayer prevê que a companha deve ter um terceiro ano consecutivo de queda nos lucros, uma vez que a empresa alemã luta contra litígios em massa nos Estados Unidos, queda nos preços dos produtos agrícolas e nova concorrência para um de seus medicamentos mais vendidos.
O lucro core deve cair para a faixa entre 4,50 euros e 5 euros por ação em uma base ajustada pela moeda, disse a empresa em um comunicado nesta quarta-feira (5). Isso representa uma queda em relação aos € 5,05 do ano passado e está em linha com a estimativa média dos analistas de € 4,61.
“O guidance para 2025 não é particularmente encorajador, mas a perspectiva de longo prazo da empresa e os planos para resolver os principais problemas oferecem alguma esperança de melhoria futura”, disseram os analistas do Deutsche Bank, liderados por Falko Friedrichs, acrescentando que o quarto trimestre apresentou algumas surpresas positivas.
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A perspectiva aumenta os riscos para o CEO Bill Anderson, que assumiu as rédeas do conglomerado alemão em 2023 e vem simplificando as operações e tentando resolver o litígio nos Estados Unidos sobre produtos químicos que a Bayer herdou com a aquisição da Monsanto por US$ 63 bilhões.
As ações da Bayer se recuperaram das quedas iniciais e estavam 2,5% mais altas às 12h53 na Alemanha, já que o guidance de lucro superou algumas estimativas e as ações europeias se recuperaram das perdas de terça-feira.
As ações da empresa ainda acumulam perda de quase 80% desde que a Bayer adquiriu a Monsanto em 2018.

No ano passado, Anderson decidiu não desmembrar a estrutura atual da empresa, pelo menos de imediato. A Bayer tem divisões voltadas para a agricultura, produtos farmacêuticos e medicamentos de venda livre.
Ele se comprometeu a reconquistar a confiança dos investidores, que foi abalada por anos de desempenho ruim e uma série de crises.
"A maior preparação que fazemos para uma possível separação ou para permanecermos juntos é colocar cada um de nossos negócios na liderança mundial", disse Anderson em uma ligação com jornalistas. "Fizemos um grande progresso no ano passado com relação a isso, mas ainda temos muito trabalho a fazer."
Ano crucial
Chamando 2025 de um ano crucial, Anderson está promovendo mais iniciativas destinadas a impulsionar as vendas e a lucratividade, e o desempenho financeiro deve melhorar em 2026 e nos anos seguintes.
Seus esforços para apertar o cinto operacional geraram 500 milhões de euros em economias no ano passado e devem gerar outros 800 milhões de euros este ano, disse a Bayer. Isso resultou em cerca de 7.000 cortes de empregos em todo o mundo.
Os lucros devem atingir entre 9,5 bilhões e 10 bilhões de euros este ano antes de juros, impostos, depreciação, amortização e itens especiais (Ebitda), disse a empresa.
Isso representa uma queda em relação aos 10,1 bilhões de euros do ano passado e se compara à estimativa média de 9,53 bilhões de euros dos analistas.
Os desafios da Bayer são inúmeros. A divisão agrícola continua a sofrer com os baixos preços das commodities.
A unidade farmacêutica precisa que o tratamento contra o câncer Nubeqa e o medicamento para os rins Kerendia continuem a crescer fortemente para contrabalançar o declínio das vendas do anticoagulante Xarelto, um sucesso de vendas.
Embora a divisão de saúde do consumidor tenha tido um bom desempenho, ela é a menor unidade da Bayer.
Em relação aos litígios, a Bayer disse que espera "passos tangíveis em direção à contenção no horizonte deste ano" e está comprometida em "conter significativamente" os riscos legais até o final de 2026.
A empresa reservou US$ 16 bilhões para os processos judiciais nos EUA sobre o herbicida Roundup, que os autores argumentam ter causado câncer e que a Bayer insiste ser seguro.
A empresa também já concordou em pagar quase US$ 2 bilhões em acordos em processos relativos a PCBs tóxicos movidos por estados, cidades e condados dos EUA. Mais julgamentos estão se aproximando em ambas as frentes.
Crescimento farmacêutico
A divisão farmacêutica deve voltar a crescer em 2027, disse a Bayer, com as vendas de Nubeqa e Kerendia devendo atingir um total de 2,5 bilhões de euros este ano, acima dos 2 bilhões de euros do ano passado.
A erosão das vendas do Xarelto será acelerada e provavelmente atingirá entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de euros em 2025, de acordo com o diretor da área farmacêutica Stefan Oelrich.
A Bayer também anunciou esforços para aumentar a lucratividade de sua divisão agrícola, onde a receita encolheu no ano passado em meio à queda dos preços de produtos químicos como o glifosato, um herbicida.
Ao fazer mudanças no portfólio de produtos da unidade, pesquisa e desenvolvimento e outras áreas, a Bayer poderia desbloquear mais de 1 bilhão de euros em ganhos adicionais até 2029, disse Anderson.
Questionado sobre o impacto da guerra comercial desencadeada pelas tarifas dos EUA, o CEO disse que vê um "efeito misto", já que a Bayer importa relativamente pouco do México, Canadá e China para os EUA, enquanto os níveis de produção farmacêutica na Europa são mais altos. "É realmente difícil dizer, neste momento, quais seriam os efeitos", disse ele.
-- Com a colaboração de Lisa Pham.
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