Banco John Deere busca ampliar crédito rural após joint venture com Bradesco, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Alex Ferreira diz que parceria busca aprimorar oferta de produtos financeiros para o agronegócio; Bradesco comprou fatia de 50% do banco no ano passado

John Deere e Bradesco formam joint venture
20 de Fevereiro, 2025 | 12:14 PM

Bloomberg Línea — Há cerca de dois anos, o Banco John Deere convidou grandes instituições financeiras para explorar oportunidades de parceria no Brasil.

O Bradesco (BBDC4) não apenas aceitou o convite para as negociações como foi além: propôs a aquisição de uma fatia de 50% dos negócios, o que deu origem a uma joint venture com a fabricante de máquinas agrícolas, em um acordo assinado em agosto do ano passado.

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A nova empresa agora iniciou suas operações em 10 de fevereiro, após aprovação do Banco Central e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

O objetivo da joint venture é expandir a oferta de crédito para diferentes perfis de produtores rurais, segundo Alex Ferreira, CEO da joint venture, em entrevista à Bloomberg Línea.

Além de fortalecer as linhas já existentes para pequenos agricultores, a parceria busca ampliar o acesso ao financiamento para médios e grandes produtores.

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“O banco existe para apoiar os negócios da John Deere, com foco na agricultura, construção e setor florestal, que são as três principais áreas de atuação da companhia”, disse Ferreira.

Mais de 80% da carteira do Banco John Deere está concentrada no setor agrícola. Com a joint venture, a instituição planeja expandir sua atuação para os segmentos de construção e florestal, alinhando-se à estratégia global da empresa americana.

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O Banco John Deere opera por meio de uma modalidade considerada mais tradicional de financiamento, mas também já consolidada no mercado. Clientes, sejam produtores ou concessionárias parceiras, podem solicitar crédito para aquisição de maquinário ou capital de giro voltado à modernização e adoção de novas tecnologias.

Mas o plano agora é diversificar as opções de financiamento, e ir além do modelo convencional e do foco exclusivo nos equipamentos John Deere.

“A gente vê esse mercado em mudança nos últimos anos, na qual o agricultor vem se sofisticando com técnicas de agricultura de precisão, de uso de dados e centro de serviços compartilhados”, disse o CEO.

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Com 26 anos de trajetória na John Deere, Ferreira já ocupou cargos de destaque, como o de diretor financeiro e de crédito do Banco John Deere. Entre 2016 e 2024, também integrou o conselho do plano de previdência do Bradesco Multipensions, do qual a John Deere é participante.

John Deere

Ferreira observa que as linhas de financiamento agrícola subsidiadas pelo BNDES vêm diminuindo para grandes produtores com o passar do tempo e esse processo foi notado também pela carteira de financiamento dos clientes da John Deere.

A migração de clientes para a carteira dos bancos, com instituições financeiras privadas ganhando mais espaço, se mostrou uma oportunidade para a companhia.

“Ao lado do Bradesco, queremos ser o banco do agricultor, e oferecer não apenas crédito para aquisição de equipamentos, mas também um portfólio completo de serviços financeiros”, afirmou o executivo.

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A parceria permitirá, por exemplo, acesso a mecanismos como Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), nos quais o Bradesco já possui experiência.

“O cliente hoje procura diversas formas de se financiar com outros mecanismos, como LCA e CRA, e um grande banco como o Bradesco já atua nesta frente. Nosso desejo é trabalhar daqui para frente para ser o banco do agricultor, desse agricultor que compra o equipamento da John Deere e prover a ele o necessário de serviços financeiros”, disse o CEO da joint venture.

Globalmente, a John Deere opera sua divisão financeira sob a marca John Deere Financial, com presença em diversos países, como Argentina e México.

No Brasil, a estratégia da empresa sempre esteve voltada ao fortalecimento da mecanização agrícola. O Banco John Deere, fundado em 1987 com sede em Indaiatuba, no interior de São Paulo, é resultado da evolução do antigo banco Agroinvest S.A.

A joint venture com o Bradesco é um modelo exclusivo do Brasil. “O Banco John Deere é uma subsidiária local e, por isso, esta parceria só acontece aqui”, disse Ferreira.

A companhia tem um histórico de investimentos no país. Em dezembro de 2024, o vice-presidente sênior e CTO da John Deere, Jahmy Hindman, reforçou em encontro com jornalistas que o Brasil segue como uma prioridade estratégica do grupo, ao lado dos Estados Unidos.

Um exemplo desse foco é o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento inaugurado em dezembro do ano passado em Indaiatuba, onde a empresa investiu R$ 180 milhões.

Uma parceria com a Starlink, de Elon Musk, com foco no Brasil, também foi desenhada no ano passada, com previsão de entrar em operação ainda neste primeiro trimestre.

Além de expandir a oferta de crédito, a parceria com o Bradesco busca impulsionar a inovação tecnológica no braço financeiro da John Deere. Ferreira disse que um dos principais desafios dos bancos de fabricantes de máquinas é acompanhar a evolução digital das grandes instituições financeiras.

Com o Bradesco, o Banco John Deere busca acessar novas tecnologias financeiras, e tornar a concessão de crédito mais ágil e eficiente. A meta, segundo ele, é proporcionar uma experiência digital mais fluida, simplificar processos e aumentar a competitividade da instituição.

“Somos um grande banco do agro, mas quando comparamos aos grandes bancos, somos pequenos. A gente concentra todos os riscos, as incertezas do custo de financiamento e o acesso à tecnologia. Foi então que começamos entender as nossas dores do crescimento e como a gente poderia endereçar isso”, disse o executivo.

Maquinário para construção da John Deere

Visão de longo prazo

O cenário do agronegócio apresenta desafios, como as altas taxas de juros, que impactam diretamente o custo de produção.

Ferreira diz que a John Deere mantém uma visão de longo prazo, confiando no potencial do setor e, por isso, a aposta em uma joint venture para reforçar a operação.

A presença da instituição seguirá o modelo atual, no qual os concessionários da John Deere atuam como correspondentes bancários, para garantir a capilaridade nacional.

Hoje, são 312 pontos de venda no Brasil: 266 agrícola, 30 de construção e 16 que atendem as duas linhas (agrícola e construção).

O foco da nova fase, segundo Ferreira, é fortalecer o suporte aos clientes e concessionários, e otimizar produtos e serviços financeiros para impulsionar o crescimento sustentável do setor.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.