Aposta de Pequim em carne bovina derruba preços e deixa produtores no prejuízo

Preços no atacado caíram 18% no país em relação ao pico de 2023 depois de o governo pressionar fazendeiros a aumentar a produção e abrir as portas para mais importações

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Bloomberg — O mercado chinês de carne bovina enfrenta um dilema. O governo pressionou os fazendeiros a aumentar a produção interna e abriu as portas para mais importações, mas a desaceleração da economia fez com que o estoque de carne se acumulasse nos freezers e derrubou os preços locais para o menor nível em cinco anos.

Os preços no atacado caíram 18% em relação ao pico do ano passado, para cerca de 62 yuans (US$ 8,53) o quilo. A maior parte do setor pecuário agora enfrenta prejuízo e pode se tornar cada vez mais um dreno para os cofres públicos depois que o Ministério da Fazenda do país pediu às autoridades locais que fornecessem subsídios aos agricultores.

Em um país com mais de 1,4 bilhão de habitantes, a segurança alimentar é um tema importante para o governo, que tem procurado promover a autossuficiência nos principais mercados, incluindo o de carne bovina.

As pressões deflacionárias que têm dominado a economia forçaram Pequim a intervir e apoiar uma variedade de setores, desde a pecuária até a produção de grãos.

Agora, o desafio é manter os fazendeiros solventes, estabilizar a produção e superar um período de perdas, uma tarefa que se tornou mais complicada para o setor de carne bovina devido a uma enxurrada de produtos provenientes do exterior.

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As importações de carne bovina da China aumentaram 23% nos primeiros cinco meses do ano, à medida que Pequim passou a conceder mais acesso ao mercado de outros países - o que chamamos de diplomacia alimentar - para estreitar as relações com nações como o Brasil e a Espanha. A Austrália foi recentemente adicionada à lista.

A carne bovina é um alimento relativamente luxuoso na China. Ela custa quase três vezes mais do que a carne de porco, que costuma liderar a preferência dos consumidores.

À medida que a nação enriqueceu, isso permitiu ganhos constantes tanto na produção quanto no consumo. A China produziu cerca de 7,5 milhões de toneladas no ano passado, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A demanda foi de pouco mais de 11 milhões de toneladas, sendo que o saldo foi composto por importações.

Atualmente, o USDA prevê aumento de 2,3% na produção este ano, ante um crescimento da demanda de apenas 0,4%, embora a diferença possa ser maior devido à piora das condições do setor.

Poderá haver mais carne bovina disponível se os preços mais baixos obrigarem os produtores a reduzir suas perdas e abater mais de seus rebanhos. Os abates no setor de laticínios, que também está indo mal, estão exacerbando o excesso, disse Yang Chun, analista-chefe de carne bovina e de carneiro do departamento de mercados do Ministério da Fazenda.

E a demanda diminuiu à medida que as famílias são obrigadas a rever seus gastos. Yang disse que alguns vendedores de carne bovina fresca para supermercados relataram uma queda significativa nos pedidos desde agosto. Os comerciantes, que pediram para não serem citados discutindo as condições do mercado, disseram que os estoques congelados da carne continuam elevados.

O setor procura atrair novos clientes, mas há poucos segmentos imunes enquanto a crise imobiliária da China persiste. Isso sugere que qualquer reviravolta pode depender da capacidade do governo de promover uma melhoria ampla no otimismo do consumidor.

“As pessoas comuns não têm mais tanto dinheiro no bolso como antes”, disse Yang. A necessidade de consumir proteína mais barata significa “desistir de produtos premium como a carne bovina”, disse ela.

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