Bloomberg Línea — Anos antes de assumir o cargo de Vice-Presidente Global da Solinftec, Denis Arroyo conheceu a companhia de tecnologia e monitoramento agrícola de perto, mas “do outro lado” do balcão, como cliente. E foi justamente essa experiência que lhe conferiu uma visão estratégica sobre as soluções oferecidas e o preparou para o cargo que viria a desempenhar mais de uma década depois.
“Eu conheci a empresa quando ela tinha em torno de quatro anos de idade. E naquela época falávamos com naturalidade de tecnologias que na época mal existiam”, disse Arroyo em entrevista à Bloomberg Línea.
O executivo acaba de completar quatro meses de Solinftec. Antes disso, ele atuava como CEO da Gruner, empresa de transporte com sede em Lençóis Paulista, no interior do estado de São Paulo.
Em 2024, a Solinftec teve um crescimento superior a 20%, o que levou a sua receita recorrente para R$ 370 milhões. Para este ano, a expectativa é crescer ainda mais e atingir R$ 450 milhões.
Um dos principais braços da agtech é o de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que conta com 330 desenvolvedores e recebe investimentos equivalentes a algo entre 30% e 40% do faturamento. Esse volume é o que garante a evolução contínua de suas soluções tecnológicas, segundo os seus executivos.
Hoje, a agtech opera em 11 países, mas o Brasil ainda representa cerca de 97% dos negócios. Estados Unidos e países da América Latina também são mercados importantes da companhia que monitora mais de 13 milhões de hectares e possui 60 mil equipamentos em campo.
“A nossa perspectiva é que o agro brasileiro vai crescer muito nos próximos anos. Não acho que vamos equilibrar com os EUA, mas, quando fazemos a conversão pelo dólar, isso leva as coisas para outro patamar. Imaginamos que os EUA irão representar de 20% a 30% do negócio nos próximos anos”, disse Arroyo.
Segundo o VP da Solinftec, o plano de crescer no mercado americano passa pela possibilidade de trabalhar com outras cestas de moeda e financiamentos. “Nós já temos o visto carimbado e estamos lá dentro [dos EUA]. Agora, escalar no mercado americano com certeza vai levar o jogo para outro nível”, disse.
No ano passado, a agtech recebeu um aporte de R$ 300 milhões da Yvy Capital, gestora fundada pelo ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes e pelo ex-presidente do BNDES Gustavo Montezano. A primeira parte do aporte foi concluída ainda em 2024, enquanto a segunda está prevista para o primeiro trimestre de 2025.
Segundo Arroyo, por enquanto, não há novas rodadas de captação no horizonte.
“É uma questão de não ter necessidade pela escala que vamos ganhar. Todas as rodadas feitas até agora estavam no business plan. Agora, irei precisar de uma próxima rodada? Muito provavelmente, mas no próximo projeto”, disse.
“Somos uma empresa que já passou do breakeven e que anda com as próprias pernas. Ou seja, já consegue fazer todo o seu business com os próprios recursos.”
Além das rodadas, a agtech realizou entre 2019 e 2023 quatro emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócios (CRAs) que totalizaram R$ 500 milhões - três delas receberam o selo verde da Climate Bond Initiative (CBI). Quando se soma a outros investimentos, o montante levantado atinge R$ 1,3 bilhão.
“É uma empresa de tech que tem um cash burn forte, como esperado. O plano que está aí, ele roda. Que plano que nós vamos agora buscar além desse? Passa muito por aí”, disse Arroyo, que relaciona a sua chegada com o momento de preparação da empresa para dar os próximos passos de olho no futuro.
O robô Solix
Uma das apostas da companhia para ganhar escalabilidade no Brasil e nos EUA é o robô autônomo Solix, que é movido a energia solar. O Solix tem como objetivo reduzir o uso de herbicidas e monitorar as lavouras de grãos, algodão e cana.
O robô foi lançado em 2022 e tem sido aprimorado desde então com novas atualizações tecnológicas. Para ter acesso à solução, o produtor precisa desembolsar, além do investimento inicial perto de R$ 370 mil, cerca de R$ 7.000 ao mês para as atualizações tecnológicas de Inteligência Artificial, a depender do plano de negócio acertado, contou Emerson Crepaldi, COO (Chief Operating Officer) da agtech.
Com uma vida útil estimada entre cinco e seis anos, o robô monitora lavouras em tempo real, identifica pragas, doenças e deficiências nutricionais, além de contribuir para a redução do uso de insumos químicos, segundo a Solinftec.
“A partir da nossa escala atual, também estamos investindo no mercado de peças usadas e pós-venda, já que identificamos a partir daí uma nova demanda.”
Apesar do investimento considerado alto, os executivos da Solinftec dizem que o Solix se paga para o produtor já na primeira safra em que ele atua, diante da redução de mais de 90% do uso de herbicidas em fase de pós-emergência no caso da soja e do milho, além do aumento da produtividade em 10 sacas por hectares.
Para a cana-de-açúcar, a redução estimada dos herbicidas é de 65%, segundo a agtech, enquanto para o algodão ainda não há dados, uma vez que ainda está no início da operação.
Atualmente, há 150 robôs Solix no mundo - desse total, 20 operam em canaviais e a expectativa é expandir para 50 a 60 robôs ainda neste ano apenas nessa cultura.
A agtech tem como meta vender mais 150 unidades neste ano e expandir a frota do Solix para 700 robôs até 2026, o que a tornaria uma das maiores provedoras de dados agrícolas do mundo, com foco em clientes agrícolas de todos os tamanhos: pequenos, médios e grandes, disse Arroyo.
A empresa prepara para lançamento em 2026 um módulo para o Solix com foco em controle de pragas e já possui uma linha de 18 produtos voltados para a cana-de-açúcar, incluindo softwares e hardwares.
O nascimento da Solinftec
A empresa de tecnologia e monitoramento agrícola completa 18 anos em 2025 e já “atingiu a maioridade”, disse Crepaldi em apresentação para jornalistas na última terça-feira (4).
Com sede em Araçatuba, no interior de São Paulo, a agtech nasceu a partir da visão de dois engenheiros de automação cubanos. Um deles, Britaldo Hernandez, desembarcou no Brasil em 1998. Naquela época, o empresário focou em desenvolver soluções de automação para a cana-de-açúcar.
Nos primeiros anos de operação, a Solinftec atendeu dois clientes de peso: a Cosan e a Clealco. A empresa inicialmente projetou soluções tecnológicas para essas duas empresas, e um cheque de R$ 1 milhão da Clealco colocou o negócio em pé.
A cana segue como sendo a estrela dos negócios da companhia: hoje, estima-se que 90% das usinas já usam as soluções da agtech. Ao todo, são 18 produtos voltados para essa cultura, incluindo produtos como softwares e hardwares.
O plano é crescer ainda mais “com a possibilidade de adesão de novos produtos que chegaram mais recentemente, como o monitoramento de tratos culturais e de plantio”, disse Crepaldi.
Nas demais culturas, o market share estimado é menor: 20% para grãos e fibras, 25% para o café e 74% para o citrus. Há ainda o desejo da companhia de crescer no mercado de algodão.
“Há uma perspectiva de que o Brasil se torne o maior exportador global dessa cultura, o que reforça a importância das soluções tecnológicas para otimizar a produção e aumentar a competitividade do setor”, disse o COO.
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