Bloomberg Línea — Frita, assada, na vaca atolada ou no tutu. A mandioca está presente em diversos pratos da culinária brasileira, mas seu potencial vai muito além da gastronomia.
Empresas do setor industrial têm apostado nesse tubérculo rico em amido como uma alternativa ao açúcar, especialmente no mercado de bebidas e de suplementação alimentícia.
A Lorenz é um exemplo dessa tendência que mostra sinais de crescimento no país. Líder em seu segmento, a empresa investiu no amido extraído da mandioca para expandir sua atuação e consolidar o Brasil como um dos principais players do setor.
Segundo Aleksandro Siqueira, diretor de Novos Negócios da Lorenz, a maltodextrina, um dos principais produtos da empresa, ganhou ainda mais relevância após a regulamentação sobre açúcares adicionados.
“Muitas indústrias substituem o açúcar convencional por maltodextrina para evitar a obrigatoriedade de declarar açúcares adicionados nos rótulos. Esse ingrediente é essencial para o setor de nutrição e suplementação alimentar e amplamente utilizado por grandes marcas”, afirmou Siqueira à Bloomberg Línea. “A maltodextrina é um produto super importante para a gente, de olho justamente no mercado health, de nutrição, e de suplementação.”
A maltodextrina é um pó branco, sem sabor ou levemente adocicado, utilizado principalmente por empresas do setor de sucos em pó, bebidas e aromas para substituir o açúcar adicionado, e agregar valor nutricional e adequação regulatória aos produtos. O componente é derivado do amido de cereais, como o milho, ou tubérculos, como a mandioca.
A Rotulagem Nutricional Frontal (RNF), regulamentada em lei no Brasil em 2022, estabelece como exigência o ícone de lupa preta na parte da frente das embalagens acompanhado de “alto em” para aqueles produtos quem tenham quantidade alta de açúcares adicionados e sódio, por exemplo. O prazo para sua adoção completa termina em 2025.
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Além da mandioca
Além da fécula de mandioca, a Lorenz também trabalha com produtos derivados do amido de milho, amido waxy (ceroso) e fécula de batata, e atende tanto o mercado alimentício quanto o industrial.
A empresa projeta um crescimento de 25% em 2025, com expectativa de faturamento de R$ 412 milhões, frente aos R$ 330 milhões registrados em 2024 - avanço de 11% em relação à 2023.
Hoje, 50% da produção da Lorenz é destinada à exportação. A empresa tem presença consolidada nos Estados Unidos, Europa e América Latina.
Na Colômbia, a empresa exporta fécula para panificação, fécula orgânica e amidos modificados, enquanto para a Europa, a maltodextrina e a fécula orgânica ocupam as primeiras posições. Para os EUA, o foco é a exportação de amidos catiônicos, fécula orgânica e amido especial de expansão.
Siqueira explica que a mandioca se adapta às necessidades específicas de cada cliente, como na indústria de laticínios, que busca alternativas para substituir açúcar, sódio e gordura, além de melhorar viscosidade, brilho, textura e aumentar a vida útil dos produtos.
Os amidos hidroxipropilados são outro exemplo de uso da mandioca, aplicados em produtos como lasanhas e iogurtes para evitar a liberação de líquidos e aumentar a resistência ao armazenamento e transporte, diz Siqueira.
A empresa investe em tecnologias para modificação de amidos em suas fábricas.
Além do segmento alimentício, a Lorenz atende setores como o óleo & gás, no qual os amidos modificados são utilizados na exploração.

Fundada em 1916, a Lorenz foi a primeira fecularia da América Latina e conta hoje com 1,2 mil produtores parceiros e processa cerca de 280 mil toneladas de mandioca por ano.
Em 2014, a empresa foi adquirida pelo grupo GTFoods, um dos maiores processadores de carne de frango do Brasil, que tem ampliado sua atuação em outros segmentos alimentícios. O grupo comercializa mais de 30 mil toneladas de produtos, incluindo frango, peixes, vegetais congelados e ovinos.
Segundo o CEO da GTFoods, Rafael Tortola, a Lorenz desempenha um papel estratégico para os negócios da companhia.
“Neste ano, estamos consolidando nossa posição no mercado com produtos que atendem tanto à crescente demanda interna quanto às exigências do mercado externo. Estamos otimistas com o cenário de 2025, que certamente apresentará oportunidades significativas para expansão e fortalecimento das parcerias”, disse Tortola à Bloomberg Línea.
O crescimento da Lorenz acelerou após a aquisição da unidade de Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, em 2021, explica Siqueira, o diretor de Novos Negócios. Atualmente, metade da produção dessa unidade é voltada para exportação. A empresa já atende mais de 40 países.
Além dessa planta, a Lorenz possui outras unidades industriais em Quatro Pontes, Cianorte e Paranavaí (PR).
Com uma capacidade mensal de processamento de 25 mil toneladas de raiz de mandioca – sendo 10 mil toneladas em Paranavaí, 10 mil em Mundo Novo e 5 mil em Cianorte –, a empresa gera cerca de 12 mil toneladas de produto acabado por mês.
O crescimento da Lorenz também é impulsionado pelo cenário favorável do setor. De acordo com o último boletim do Departamento de Economia Rural (Deral), a produção de mandioca no Paraná deve crescer 6% em 2025, o que representa uma produção de aproximadamente 4 milhões de toneladas.
Apesar do avanço, o Brasil ainda enfrenta forte concorrência da Tailândia, cujas fecularias chegam a processar até 2.000 toneladas de raiz de mandioca por dia, o que torna a disputa por preços mais acirrada, explica Siqueira.
Para se destacar nesse mercado, a Lorenz aposta na agregação de valor aos seus produtos, para garantir um diferencial competitivo no mercado global, diz Siqueira.
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