Ele fez carreira em fundos nos EUA. Agora deve se tornar o czar das sanções de Trump

John Hurley, fundador da Cavalry Asset Management e ex-gestor da Tiger Management, deve assumir a liderança do setor de inteligência financeira e terrorismo do Departamento do Tesouro

John Hurley
Por Ben Bartenstein - Daniel Flatley
19 de Abril, 2025 | 06:00 AM

Bloomberg — Um discreto executivo de fundos, que está entre as dezenas de discípulos do lendário investidor Julian Robertson, já falecido, está prestes a se tornar o chefe da estratégia de sanções do governo Trump.

Se confirmado após sua audiência no Senado no último dia 10, John Hurley liderará o setor de inteligência financeira e terrorismo do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, um cargo crucial que lida com questões desde financiamento ao terrorismo até lavagem de dinheiro e cartéis de drogas.

PUBLICIDADE

O cargo, que supervisiona cerca de 1.000 funcionários, ganhou destaque na última década à medida que Washington intensificou o uso de sanções como ferramenta preferida para atingir adversários.

As ações do TFI, como é chamada a unidade, têm relevância particular para os traders de commodities, já que qualquer indício de ajuste das restrições dos Estados Unidos a nações ricas em petróleo como Rússia, Irã e Venezuela pode abalar o mercado.

“O papel do TFI é uma das posições mais poderosas no governo dos Estados Unidos”, disse Justyna Gudzowska, ex-funcionária do Tesouro que agora é diretora executiva do The Sentry, que monitora questões de corrupção e direitos humanos.

PUBLICIDADE

“Embora o subsecretário não comande um exército, ele tem um poderoso arsenal de ferramentas de política econômica à sua disposição.”

Leia também: Citi cresce 80% em banco comercial no Brasil e elege país como mercado chave

À medida que aumentaram em prevalência, as sanções nos últimos anos têm um histórico misto na obtenção dos objetivos de política externa dos Estados Unidos.

PUBLICIDADE

São creditadas por trazer o Irã à mesa de negociações para o acordo nuclear de 2015 e custar à Rússia centenas de bilhões de dólares após sua invasão em grande escala da Ucrânia.

Mas frequentemente tiveram efeitos adversos, infligindo maior dor aos civis e irritando aliados contrários ao seu uso unilateral.

Em sua audiência, Hurley elogiou o “enorme sucesso” da estratégia de pressão máxima do primeiro mandato de Donald Trump sobre o Irã.

PUBLICIDADE

Ele enfatizou a importância de se engajar com aliados internacionais e bancos para implementar adequadamente quaisquer restrições; e disse que iria intensificar o foco em entidades chinesas que poderiam estar explorando tecnologia crítica dos Estados Unidos.

Quem é John Hurley

Depois de se formar com honras em Princeton, John Hurley serviu na Guerra do Golfo, nos anos 1990, em que supervisionou sistemas de comunicação de campo de batalha. Mais tarde recebeu uma Estrela de Bronze.

Um MBA de Stanford o impulsionou para o mundo das finanças, primeiro na Fidelity Investments e depois na Bowman Capital Management, que se tornou um dos principais fundos hedge de tecnologia da Costa Oeste sob o comando do veterano da Tiger Management Lawrence Bowman.

Em 2002, Hurley fundou a Cavalry Asset Management — uma referência ao seu serviço militar — e fez seu nome com apostas iniciais em ações de big techs, como Microsoft, Alphabet, Apple e Nvidia.

Como muitos Tiger Cubs e Tiger Grand Cubs — como são conhecidos os discípulos de Robertson —, o gestor favoreceu apostas concentradas de longo prazo em vez do estilo multiestratégia em voga hoje, segundo Michael Tierney, um ex-investidor que trabalhou com Hurley na Bowman e na Cavalry.

Há três anos, Hurley foi escolhido para o conselho inaugural do America’s Frontier Fund — um esforço apoiado por bilionários como Peter Thiel e Eric Schmidt para apoiar avanços tecnológicos considerados de interesse nacional.

“John é um cara extremamente inteligente”, disse Kurt Lanzavecchia, um gestor de dinheiro baseado em Austin que trabalhou para Hurley na Bowman e na Cavalry. “Seu segredo era analisar toda a cadeia de suprimentos para entender quem se beneficia das mudanças na tecnologia.”

Leia também: BTG compra área de wealth da JGP, de Jakurski, e chega a R$ 120 bi em family office

Um porta-voz do Tesouro disse que o histórico bem-sucedido de Hurley como profissional de mercado, veterano de combate condecorado, especialista em cadeia de suprimentos e acadêmico o torna bem qualificado para o cargo.

Hurley não respondeu a um pedido de comentário da Bloomberg News.

Os nomeados devem se desfazer de participações que possam potencialmente representar um conflito de interesses, geralmente dentro de 90 dias após a confirmação, embora mais tempo seja concedido para ativos mais complexos.

Hurley poderia vender sua participação na Cavalry ou seguir o exemplo do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que disse que encerraria seu fundo hedge Key Square Capital Management.

Experiência na China

Diferentemente dos ocupantes mais recentes do cargo — Sigal Mandelker, Justin Muzinich, Brian Nelson e Brad Smith —, Hurley não tem formação jurídica formal nem vem do restrito mundo de profissionais focados no combate ao financiamento ilícito.

Mas sua experiência na Ásia — a Cavalry tinha escritórios em Taipei e Hong Kong — poderia ajudá-lo a ver questões de segurança nacional por meio da perspectiva da China, que muitos funcionários de Trump apontaram como a maior ameaça de longo prazo de Washington.

Em sua audiência, Hurley elogiou o 'enorme sucesso' da estratégia de pressão máxima do primeiro governo Trump sobre o Irã (Foto: Ali Mohammadi/Bloomberg)

Hurley também fez parte de iniciativas informais de diplomacia entre oficiais militares aposentados dos Estados Unidos e da China.

Preocupação com yuan

Entre os desafios centrais com os quais as recentes administrações dos EUA têm lutado está calibrar o equilíbrio certo entre alavancar as ferramentas de guerra econômica enquanto mantém o status do dólar como moeda de reserva global, com o yuan chinês visto como uma alternativa.

No ano passado, a China foi a segunda jurisdição mais visada por sanções financeiras dos Estados Unidos e enfrentou mais controles de exportação baseados em entidades do que qualquer nação, segundo uma análise do Center for a New American Security, com sede em Washington.

Desde o retorno do presidente Donald Trump ao cargo, Washington sinalizou seu desejo de cortar as exportações de petróleo do Irã, estabeleceu um prazo para a Chevron interromper suas operações na Venezuela e silenciosamente apertou as restrições à indústria energética da Rússia.

O governo Trump também abalou os mercados nas últimas semanas ao revelar tarifas sobre dezenas de países, e depois recuar em relação a algumas delas.

A Bloomberg News reportou no mês passado que os conselheiros do presidente esboçam possíveis sanções à Rússia que ele poderia suspender ou ajustar — incluindo o teto do preço do petróleo — se houver progresso nas negociações com Moscou sobre o fim da guerra na Ucrânia.

Hurley ecoou esse sentimento durante a audiência no Senado quando questionado sobre buscar cessar os combates.

“Se o presidente Putin resistir, eu esperaria que o presidente olhasse para mim e para o resto das agências para aplicar mais pressão”, disse ele. “E na medida em que estamos seguindo em uma direção melhor, eles olharão para nós para potencialmente aliviar a pressão.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Bilionários querem fechar o capital de empresas. A queda das ações acelera os planos

Como este ex-sócio da Azimut quer digitalizar as emissões no mercado de capitais