Bloomberg Línea — O aumento da demanda por títulos de renda fixa no Brasil tem feito surgir oportunidades para empresas que buscam digitalizar operações no mercado de capitais, de olho em um negócio que movimentou cerca de R$ 710 bilhões em emissões em 2024.
Uma dessas empresas é a Bloxs, startup fundada por Felipe Souto, ex-sócio da gestora Azimut no Brasil, e apoiada pelo fundo de venture capital Domo e pelo banco BS2.
Fundada em 2018, a fintech tem se especializado em fornecer um serviço digital para que clientes como boutiques de investment banking possam originar, gerenciar e fechar operações estruturadas.
Em entrevista à Bloomberg Línea, Souto disse que a empresa transacionou no ano passado cerca de R$ 10 bilhões em deals, dos quais aproximadamente R$ 350 milhões foram liquidados por meio de sua plataforma.
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Agora, a empresa tem investido para aprimorar o serviço em uma nova plataforma de transações e espera crescer em mais de 10 vezes o volume de negócios transacionado dentro do próprio ambiente digital.
“Da mesma forma como a XP se tornou o back office e a infraestrutura dos agentes autônomos, nós estamos nos propondo a fazer isso para as boutiques, para as empresas de capital solutions”, disse Souto, CEO e sócio-fundador da Bloxs.
Ele disse que a Bloxs trabalha com 37 casas de sell-side e conecta os produtos a cerca de 270 empresas de buy-side, entre investidores institucionais e gestores de fundos, que estão cadastrados na plataforma.
Entre os principais produtos originados e transacionados atualmente pela plataforma da Bloxs estão Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Cédulas de Crédito Imobiliário (CCIs), notas comerciais e debêntures, segundo o CEO.
A empresa busca crescer em um mercado que tem atraído um volume de capital significativo nos últimos anos, diante das taxas de juros elevadas no país.
No ano passado, as emissões de debêntures somaram R$ 473,6 bilhões, o dobro do volume de 2023 para esse tipo de título de crédito privado, segundo dados da Anbima, a associação de entidades e empresas do mercado de capitais do país.
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Somados às operações de Notas Comerciais e de outros títulos como CDCAs, CRs, CRIs e CRAs, o volume das emissões de renda fixa somou mais de R$ 709,2 bilhões em 2024, ante R$ 399,5 bilhões no ano anterior.
Para crescer, a startup conta com capital de investidores e dos sócios.
Em 2020, a Bloxs levantou R$ 3 milhões em uma rodada Seed com a Domo, gestora de venture capital de Marcello Gonçalves e Rodrigo Borges, cofundador do Buscapé.
Dois anos mais tarde, a empresa levantou mais R$ 15 milhões com o banco BS2 em uma rodada bridge, que avaliou a Bloxs em R$ 50 milhões.
Outros negócios semelhantes também têm atraído investidores para esse mercado. Em janeiro, a startup Kanastra, dos fundadores Gustavo Mapeli e Manuel Netto, levantou um investimento do Itaú, de valor não revelado.
A empresa, que atua como uma plataforma de serviços de estruturação e gestão de produtos financeiros para gestoras e fundos, já havia levantado R$ 110 milhões em uma rodada Série A no ano passado com a Kaszek Ventures e o fundo Atlântico.
Acesso ao mercado de capitais
A ideia de criar a Bloxs surgiu depois de o CEO deixar a Azimut, em 2016. Souto tinha sido sócio-fundador da FuturaInvest, empresa que começou como uma assessoria de investimentos e depois operava como DTVM.
Em 2013, a gestora de patrimônio italiana Azimut comprou 50% do capital da FuturaInvest, formando uma joint venture, em um movimento de expansão no país. Souto continuou no negócio como sócio até 2016 atuando como diretor de desenvolvimento de negócios.
Ele vê a nova empresa como uma continuidade do movimento de digitalização do mercado financeiro, que começou com o crescimento das corretoras e das gestoras independentes, anos atrás, e permitiu um maior acesso de investidores de varejo a uma variedade maior de produtos de investimentos.
Da mesma forma, ele disse acreditar que a tecnologia permitirá que as casas especializadas possam como atuar para estruturar e originar produtos de crédito.
“Nós fornecemos infraestrutura para boutiques de crédito. Essas empresas são uma grande aposta, porque acreditamos que, da mesma maneira que vimos o crescimento dos agentes autônomos, está nascendo uma nova geração de investment bankers digitais, que montaram as suas estruturas corporate e que não necessariamente precisam ter uma infraestrutura de tecnologia e regulatória”, disse.
“Esse sell-side pluga na nossa plataforma, e eu entrego um ambiente white label para ele gerenciar, originar, gerenciar e fechar mandatos de operações estruturadas.”
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O objetivo, segundo Souto, não é concorrer com bancos de investimento responsáveis pelas operações maiores de grandes empresas, mas focar em negócios que não são totalmente atendidos pelas instituições financeiras, que acabam “deixando dinheiro na mesa”, na sua visão.
Hoje, o foco da Bloxs são as empresas de small e middle market que buscam acessar o mercado de capitais, e o tíquete médio por papel originado pela startup é de R$ 28 milhões, valor considerado baixo em relação às emissões realizadas por bancos tradicionais.
A tese da empresa é que o avanço da tecnologia e mudanças na regulamentação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) vão permitir reduzir os custos das operações - e que assim mais empresas possam buscar o mercado de capitais para se financiar.
O maior negócio já intermediado pela plataforma da Bloxs foi uma emissão de R$ 1 bilhão, segundo o empresário. Mas Souto disse que gosta de citar como exemplo a menor operação que já foi estruturada na plataforma da startup: a emissão de um CRI de R$ 1 milhão para a construtora catarinense Terrassa.
Na visão dele, empresas menores desconhecem a possibilidade de acessar o mercado de capitais ou não procuram esse tipo de financiamento por causa dos custos elevados.
Do outro lado, bancos de investimento e empresas especializadas preferem se concentrar em operações maiores, com a premissa de que dá o mesmo trabalho fazer uma operação de R$ 1 bilhão ou de R$ 1 milhão.
“Quando você diminui a barreira de entrada, você começa a possibilitar que operações menores parem de pé”, disse Souto.
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