Citi cresce 80% em banco comercial no Brasil e elege país como mercado chave

Em entrevista à Bloomberg Línea, Head Global da área, Tasnim Ghiawadwala, diz que o banco de Wall Street tem buscado apoiar mais o crescimento de empresas que buscam se internacionalizar

Citi Sao Paulo
14 de Abril, 2025 | 05:10 AM

Bloomberg Línea — O Citi escolheu o Brasil como um de seus oito mercados chave no mundo para avançar no segmento de banco comercial, depois que a unidade registrou um crescimento de 80% das receitas no país entre 2021 e 2024, de acordo com executivos do gigante de Wall Street.

A expansão tem sido puxada pelo maior interesse de clientes brasileiros em se internacionalizar, de olho em uma diversificação de receitas e em novas frentes de expansão, de acordo com Tasnim Ghiawadwala, Head Global da unidade de Commercial Bank do Citi (CCB, na sigla em inglês).

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“O Brasil é uma economia muito grande que reconhecemos que precisamos estar envolvidos e precisamos apoiar o crescimento das empresas”, disse Ghiawadwala em entrevista à Bloomberg Línea no escritório do Citi em São Paulo, em recente passagem pelo país.

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Segundo a executiva, o Brasil é o único mercado da América Latina entre os principais países em que o Citi tem apostado na área de banco comercial. Para alcançar o objetivo, o Citi planeja continuar a investir para ampliar as capacidades e a equipe, mesmo diante das turbulências globais.

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“O Brasil parece estar no lugar certo, com tudo o que está acontecendo no mundo. A balança comercial com os Estados Unidos está mais ou menos equilibrada. As taxas de juros estão altas, mas os clientes estão acostumados a lidar com essa situação. E mesmo a inflação, que está em torno de 5% [ao ano], é alta, mas não é absurdamente alta”, afirmou.

A visão é compartilhada por André Cury, executivo que lidera a operação de banco comercial do Citi (C) para a América Latina. Segundo ele, as empresas têm buscado uma diversificação regional como uma maneira de reduzir a exposição e o risco ao mercado brasileiro.

“Não é que eles veem um problema ou algo do tipo. Mas porque são empresas que já cresceram o máximo que poderiam no país e buscam mercados lá fora”, disse Cury. “Ou elas querem obter diferentes fontes de receitas em diferentes mercados e diferentes moedas. Isso é parte das discussões que temos hoje com clientes.”

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Segundo o executivo, o Citi mapeou cerca de cem negócios no Brasil com ambições de atuarem no exterior em diferentes segmentos. Entre eles estão empresas que atuam com tecnologias digitais e comunicações, que hoje já representam mais de 10% dos negócios.

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Além disso, parte da estratégia de crescimento inclui não apenas trazer mais clientes mas também oferecer mais produtos e serviços para os mesmos clientes, segundo ele.

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Negócio prioritário

O crescimento da área de banco comercial é uma das prioridades do Citi para 2025 e 2026, de acordo com a apresentação dos resultados financeiros mais recentes da instituição.

A área é responsável por fornecer serviços financeiros, assessoria e capital para atender clientes do middle market, divididos em dois grupos, segundo a Head Global Tasnim Ghiawadwala.

O primeiro são as empresas com vendas anuais entre US$ 10 milhões e US$ 100 milhões. E o segundo, as companhias com faturamento entre US$ 100 milhões e cerca de US$ 3 bilhões.

No ano passado, a unidade de banking do Citi, que inclui também o segmento corporate e investment banking, teve receitas de US$ 6,2 bilhões em 2024, com um crescimento de 32% sobre o ano anterior, segundo os resultados do quarto trimestre.

Diante da turbulência global provocada pelas tarifas comerciais e decisões de Donald Trump, a líder da área de banco comercial disse que o Citi não mudou a estratégia e pretende continuar a focar em um tipo específico de clientes, que são empresas que buscam uma expansão internacional.

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“Nós não tentamos cobrir o mercado todo. Concentramos os esforços em clientes que têm ambições globais, que precisam de um certo nível de complexidade para soluções bancárias”, afirmou Ghiawadwala.

Sobre o cenário internacional e a possibilidade de uma desaceleração da economia dos Estados Unidos, a executiva lembrou que as empresas já passaram por outras instabilidades, a exemplo da crise da pandemia de covid-19.

Nesse ambiente, segundo ela, é preciso se planejar para diferentes cenários, avaliar os riscos potenciais e ficar atento às cadeias de suprimentos para reconfigurá-las caso seja necessário.

“Não podemos prever o futuro. Mas o que podemos fazer é ajudar os clientes a planejar cenários considerando diferentes resultados e procurar as fraquezas, seja no modelo de negócios ou em determinadas partes da cadeia de suprimentos”, afirmou.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.