Bloomberg — Para algumas das pessoas mais ricas do mundo, o caos nos mercados globais aumentou a urgência de fechar o capital de importantes empresas de seus portfólios.
Enquanto os mercados de ações despencavam em todo o mundo na segunda-feira, a empresa de investimentos do bilionário sul-africano Natie Kirsh anunciou que se uniu à norte-americana Public Storage em uma oferta para fechar o capital da Abacus Storage King.
Kirsh é o maior acionista do grupo australiano de self-storage, que foi avaliado em cerca de 1,9 bilhão de dólares australianos (US$ 1,1 bilhão) na oferta.
“A condição atual do mercado é favorável para o fechamento de capital”, disse Jason Saw, chefe do grupo de banco de investimento da CGS International Securities.
Para os bilionários, “ter uma empresa fechada permite reduzir custos e tomar decisões de negócios mais rapidamente, longe do escrutínio público”, segundo ele.
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Outros estavam fazendo movimentos semelhantes mesmo antes da queda desencadeada pela implementação de tarifas dos Estados Unidos.
O clã bilionário da indústria de transporte marítimo Maersk disse na semana passada que compraria todas as ações que ainda não possuía da operadora de rebocadores Svitzer Group em um acordo que avalia o negócio em 9 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 1,3 bilhão).
No final de março, Olof Hallrup, presidente da empresa sueca de software contábil Fortnox, concordou em se associar à EQT em uma oferta de aquisição de US$ 4,5 bilhões.
“Os preços de ações estão relativamente deprimidos e criaram uma oportunidade de compra atraente, particularmente para empresas que não têm um caminho claro para a recuperação do preço das ações”, disse Edward Freeman, sócio da Freshfields em Hong Kong.
Desde que a volatilidade do mercado de ações atingiu um nível que não era visto desde os primeiros dias da pandemia de covid-19, investidores experientes com uma visão de longo prazo estão mais bem posicionados para enfrentar a tempestade, segundo Nigel Green, CEO da empresa de consultoria financeira deVere Group.
“Definitivamente não é hora de ficar de fora”, escreveu Green em uma nota. “Aqueles que permanecem investidos e agem estrategicamente durante momentos como estes são consistentemente os que colhem as maiores recompensas.”
Ainda assim, famílias como a dinastia italiana Agnelli e a família fundadora da Lego recentemente realizaram ganhos ao vender parte de suas fatias em empresas listadas.
Apesar de muitos estarem se esforçando para diversificar seus ativos, os super-ricos não estão imunes à turbulência do mercado: as 500 pessoas mais ricas do mundo chegaram a sofrer a maior perda de três dias já registrada no Índice de Bilionários da Bloomberg.
“Muitas vezes é difícil precificar um fechamento de capital com sucesso em uma queda de preço de ações de curto prazo”, disse Freeman da Freshfields.
“Mas quando há um problema de longo prazo pesando sobre o preço das ações, acionistas controladores ou fundadores — que têm o capital ou podem levantá-lo — frequentemente estão bem posicionados para aproveitar a oportunidade de fechar o capital da empresa e fazer as mudanças necessárias.”
Enquanto os índices de ações despencaram na segunda-feira, a notícia da oferta da Abacus Storage enviou a ação da empresa na direção oposta, subindo um recorde de 21%. Os mercados, de forma mais ampla, se recuperaram parte das perdas ao longo da semana.
“Com os mercados negociando da maneira que estão, a oferta é atraente”, escreveu Brian Freitas, fundador da Periscope Analytics, que também publica na plataforma Smartkarma, em uma nota sobre o acordo da Abacus Storage.
A fortuna de Kirsh está principalmente na Jetro Holdings, uma empresa com sede em Nova York que administra dois negócios de atacado de alimentos nos Estados Unidos.
O bilionário, nascido em Potchefstroom, na África do Sul, iniciou seu próprio negócio na vizinha Suazilândia — agora Essuatíni — aos 26 anos.
Ele expandiu para o setor imobiliário na década de 1980, mas o negócio foi atingido por uma crise econômica naquela década.
Agora, aos 93 anos, Kirsh tem uma fortuna estimada em US$ 9,2 bilhões, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg.
Na Europa, a família Maersk ofereceu-se para fechar o capital da Svitzer apenas um ano após a listagem das ações em Copenhague.
A empresa dinamarquesa de serviços marítimos faz parte do Grupo Maersk há mais de 40 anos, depois que a Maersk se tornou acionista majoritária em 1979.
A unidade de investimento da família disse que a listagem não gerou tanto interesse quanto o esperado.
As ações da Svitzer caíram quase 8% desde a época do IPO em 2024 até 1º de abril. Elas saltaram 30% no dia do anúncio do fechamento do capital.
O impulso para retirar as empresas da bolsa ocorreu por uma confluência de fatores, incluindo valuations fracas, incapacidade de levantar capital a um bom preço, ou falta de necessidade disso, disse Saw da CGSI.
Além disso, bilionários, com capital de reserva, estão investindo nos negócios que conhecem melhor, acrescentou.
“Há cada vez mais capital privado procurando bons negócios para investir, incluindo private equity, que tem muita reserva para fazer aquisições”, acrescentou Saw. “Isso facilita muito para os proprietários encontrarem sócios adequados para fechar o capital das empresas.”
Qualidade e resiliência
A queda do mercado pode, no entanto, testar o apetite dos investidores ricos para prosseguir com os termos de acordos de fechamento de capital alinhados antes da recente volatilidade do mercado.
A família Moreira Salles, uma das principais acionistas do Itaú Unibanco, lançou uma oferta em 10 de março para assumir a empresa francesa de embalagens Verallia para ajudar um de seus principais investimentos a navegar melhor nas tensões comerciais.
Da mesma foram, a família ultrarrica indonésia Widjaja anunciou em 27 de março uma oferta para adquirir as ações da empresa de propriedades Sinarmas Land, listada em Singapura, que ainda não possui, avaliando a empresa imobiliária em 1,32 bilhão de dólares de Singapura (US$ 978 milhões).
Enquanto o preço das ações da Sinarmas Land pouco mudou desde o final de março, o da Verallia caiu mais de 10% desde que a família Moreira Salles lançou sua oferta pela fabricante de garrafas de vidro.
A família brasileira, que possui importantes ativos de mineração e finanças, tem um patrimônio líquido de cerca de US$ 23 bilhões, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg.
“Estamos entrando em um período em que qualidade, diversificação e resiliência definirão o sucesso”, disse Green, do Grupo deVere. “Trata-se de inclinar as carteiras de forma inteligente em direção à força, não de ficar paralisado pelo medo.”
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