Por que a Petrobras criou uma área dedicada a como armazenar energia em bateria

Grupo de executivos pesquisa a viabilidade de projetos relacionados ao armazenamento de energia, contou a gerente da área, Clarissa Pelú, à Bloomberg Línea em evento do BloombergNEF

Petrobras investe em estudos para diversificação de seus negócios (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)
07 de Abril, 2025 | 01:54 PM

Bloomberg Línea — Em meio ao cenário de incerteza sobre a transição energética no curto prazo, diante da guinada nas políticas para o setor do governo de Donald Trump, a Petrobras (PETR3, PETR4) vem investindo em estudos de viabilidade de projetos relacionados ao armazenamento de energia.

Embora incipiente, a pequena área dedicada a estudos de bateria é “barulhenta”, segundo a gerente da área de baterias e novas tecnologias da estatal, Clarissa Palú.

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“Bateria é uma parte da transição energética, não é só energia eólica, solar, biocombustíveis. A companhia teve essa visão de que esse também era um tema que precisava ser explorado”, disse a executiva em entrevista à Bloomberg Línea, no evento BloombergNEF Forum em São Paulo, na última semana.

Inicialmente com mandato de estudo, Palú esclareceu que a área só avançará com projetos que façam sentido para a Petrobras. Ela e sua equipe trabalham sob o guarda-chuva da diretoria de transição energética e sustentabilidade, comandada por Mauricio Tolmasquim.

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“São cinco pessoas na equipe, de áreas diversas da companhia, como financeiro e outros negócios. Não existia essa massa crítica formada sobre o assunto. Isso está sendo formado por pessoas que se interessaram por fazer essa guinada de carreira [dentro da empresa]”, contou.

A executiva disse que trabalhava na divisão de fusões e aquisições (M&A) da Petrobras quando foi chamada para liderar a área de baterias e novas tecnologias.

“A proposta era estruturar uma área de negócio de baterias para a companhia. Foi bem desafiador porque a Petrobras não tinha muitos profissionais com esse conhecimento.”

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Segundo ela, o desafio também passa por formar pessoas para trabalhar com esse assunto dentro da empresa, porque se trata de um tema complexo do ponto de vista técnico. “Exige muita dedicação dessa equipe, que vem se formando ao longo de um ano e meio.”

Palú destacou que a questão da segurança foi uma prioridade da equipe para começar a estudar, de fato, potenciais negócios para a Petrobras na área.

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“O tema da segurança foi um dos primeiros que nós atacamos justamente para desmistificar os riscos de acidentes. Conversamos com players que já operam ativos de bateria, e essa preocupação vai se dissipar conforme a Petrobras venha a adquirir ativos para operar.”

A executiva lembrou que, atualmente, a companhia já atua no segmento de usinas termelétricas. “Nós procuramos trabalhar em conjunto com as diversas áreas da companhia. Temos estudado, por exemplo, sinergias com projetos de geração com baterias no segmento de termelétricas.”

Aposta em renováveis

No plano de negócios da estatal para o período de 2025 a 2029, divulgado em novembro, a Petrobras prevê investimentos totais (capex) para transição energética no montante de US$ 16,3 bilhões.

Entre as apostas estão 4,5 gigawatt (GW) de capacidade de eletricidade renovável até 2030, “preferencialmente via parceria” com empresas de grande porte do setor. O plano também prevê potencial para projetos de eólica onshore (em terra) e offshore (alto-mar), além de solar.

Segundo Palú, a Petrobras estruturou diversos segmentos no âmbito da transição energética, como geração, combustíveis sustentáveis, CCUS (sigla para captura de carbono e reinjeção), entre outros.

“Agora temos também uma gerência de bateria. Essa área partiu do zero, então temos um trabalho que vai além da estruturação, que é criar uma massa crítica dentro da companhia para que isso de fato se torne uma área de negócio.”

Ela afirmou que a equipe tem estudado nesse um ano e meio principalmente a cadeia de valor. “Estamos olhando para os players e conversando com todo mundo no mercado, entendendo de que forma a empresa conseguiria se inserir no segmento.”

Leilão de reserva para baterias

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) discute a regulamentação dos sistemas de armazenamento de energia e planeja promover, ainda neste ano, um leilão de reserva de capacidade na forma de baterias.

Nests contexto, a executiva afirmou durante o BloombergNEF Forum que a companhia estuda participar do leilão de reserva de capacidade de bateria. “Estamos ansiosos para ver como vai sair a portaria do leilão, para eventualmente apresentar um lance”, disse em painel promovido no evento.

Ela acrescentou que a Petrobras quer que a área de bateria se torne uma divisão de negócios competitiva, porque hoje a companhia já tem geração.

“Estamos olhando não só o arcabouço do leilão. Temos visto que os projetos [de energia] já vêm com geração com baterias. Estamos estudando como entrar no segmento.”

Em sua avaliação, a companhia também precisa ficar atenta aos movimentos da geração distribuída (GD), que apresenta um crescimento exponencial nos últimos anos.

“Nesse segmento, enxergamos uma oportunidade do ponto de vista das baterias, mas é um desafio a mais na viabilidade econômica dos projetos.”

Palú esclareceu que a Petrobras busca projetos de geração com escala maior, para que o investimento de recursos e tempo faça sentido.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.