Itaú Asset reforça estratégia em FIDC na disputa por investidores qualificados

Em entrevista à Bloomberg News, diretora responsável por crédito privado na gestora, Fayga Delbem, diz que vê oportunidade no segmento

Agência do Itaú Personnalité, em São Paulo
Por Giovanna Belotti Azevedo - Cristiane Lucchesi
20 de Março, 2025 | 05:20 PM

Bloomberg — A Itaú Asset Management tem ampliado a aposta em produtos securitizados como forma de ajudar os investidores a diversificar e lidar com o ambiente macroeconômico do país, que inclui aumento das taxas de juros.

Com R$ 460 bilhões em crédito privado líquido sob gestão, a Itaú Asset está criando um fundo que compra pacotes de crédito, conhecido como FIDC. O novo produto é o primeiro do Itaú com vantagens fiscais voltado para “investidores qualificados”, pessoas físicas com mais de R$ 1 milhão em investimentos financeiros.

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“Quando a estrutura é bem construída, os FIDCs oferecem boa proteção aos investidores com uma relação atrativa entre risco e retorno”, disse Fayga Delbem, responsável por crédito privado na gestora, em entrevista. “Achamos que esse produto veio para ficar, então estamos lançando este FIDC com um portfólio diversificado neste mês e planejando ter outros em breve.”

Os FIDCs são fundos que existem apenas no Brasil e investem em pacotes de crédito, com cotas vendidas aos investidores em tranches que podem ser separadas por risco, semelhante ao mercado de securitização dos EUA. Eles foram as estrelas em ascensão no Brasil no ano passado, pois os investidores buscavam a segurança de investimentos em renda fixa com garantias.

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O FIDC que a Itaú Asset está lançando é o primeiro para investidores qualificados que terá um imposto de 15% pago apenas quando o investidor sacar o dinheiro.

Normalmente, os FIDCs e outros fundos de crédito antecipam os pagamentos de impostos duas vezes ao ano, em maio e novembro. Os fundos de longo prazo pagam imposto de renda de 15% e os de curto prazo, 20%.

Os FIDCs ganharam um impulso com uma mudança regulatória em 2023 que permitiu que fossem vendidos a investidores de varejo, e tiveram entradas líquidas de R$ 120,9 bilhões em 2024, de acordo com a Anbima, associação do mercado de capitais do Brasil.

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No mês até 7 de março, esses fundos captaram R$ 2,8 bilhões, após um total combinado de R$ 11,4 bilhões de saídas em janeiro e fevereiro.

Os investidores veem boas perspectivas para o produto em meio à incerteza com as tarifas globais e mercados voláteis.

“O ano passado foi o ano do crédito privado no Brasil, e depois de um excesso de otimismo tivemos uma correção técnica em dezembro”, disse ela. “E agora temos uma situação com algumas oportunidades, considerando muitas empresas com diferentes perfis de crédito que pagam spreads atrativos.”

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O crédito vendido sem garantia por empresas altamente alavancadas tem sido motivo de preocupação porque as altas taxas de juros do país dificultam o pagamento de suas dívidas em dia, de acordo com Ricardo Espindola, gerente de portfólio de crédito da Porto Asset, o braço de gestão de ativos da seguradora Porto Seguro.

É por isso que os spreads estão diminuindo para empresas AAA, pois os investidores buscam essas empresas menos arriscadas, disse Espindola, cuja gestora tem R$ 35 bilhões em ativos sob gestão.

Os FIDCs, por outro lado, são estruturados para navegar em tempos turbulentos, disse ele. Os FIDCs oferecem menos volatilidade e retornos mais altos, mas também têm menos liquidez, disse Espindola, acrescentando que está investindo mais dinheiro dos fundos da Porto Asset em tranches seniores de FIDCs, levando em consideração os requisitos de liquidez de cada fundo.

“A securitização é uma forma de aumentar a resiliência do seu portfólio de crédito, uma vez que as taxas de juros cobradas de pessoas físicas e empresas menores já são tão altas que elas são menos afetadas por um aumento na taxa básica”, disse Alexandre Coutinho, gestor sênior de portfólio e chefe de crédito do Brasil do Pátria Investimentos, uma das maiores gestoras de ativos alternativos da América Latina.

O Pátria está lançando um fundo de pensão que investirá em FIDCs e títulos de empresas menores com alavancagem muito baixa. Também está planejando oferecer um novo FIDC em breve. A empresa tem cerca de R$ 3 bilhões em fundos locais de crédito privado estruturado.

Com 25 funcionários, o dobro do número em 2021, a equipe de crédito da Itaú Asset tem seu próprio rating para empresas e não depende das agências de classificação de risco de crédito externas. A gestora também tem três traders em sua mesa de crédito de títulos locais.

No ano passado, a gestora teve R$ 130 bilhões em captação líquida para fundos de crédito privado, que foram investidos em dívida com diferentes riscos de crédito e também em debêntures de infraestrutura isentas de impostos.

De acordo com Delbem, o mercado secundário de crédito privado no Brasil costumava negociar cerca de R$ 5 bilhões por mês há cerca de cinco anos, e agora o número subiu para R$ 40 bilhões.

No ano passado, a Itaú Asset comprou R$ 160 bilhões em crédito privado e cerca de R$ 130 bilhões foram comprados diretamente de empresas. Em 80% dessas transações de mercado primário, a Itaú Asset foi a única investidora em uma colocação privada ou atuou como investidora âncora.

“O mercado de crédito privado se desenvolveu muito no Brasil nos últimos anos”, disse Delbem, “e agora é parte estrutural do portfólio de qualquer investidor”.

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