Tarifas são como um imposto sobre consumidores e protegem empresas ineficientes

Estudo aponta que taxas propostas por Donald Trump equivaleriam a um custo de mais de US$ 1.200 por ano para famílias dos EUA, o crescimento pode ser reduzido em 0,4% e cerca de 400.000 empregos estão em jogo

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Bloomberg Opinion — De Wall Street a Washington, as tarifas têm sido o assunto de muitas conversas ansiosas nas últimas semanas. Enquanto os americanos debatem a sabedoria das barreiras comerciais intermitentes do governo — a mais recente foi uma ameaça emitida na terça-feira (11) de dobrar as taxas sobre o aço e o alumínio canadenses, agora aparentemente no limbo — alguns pontos gerais valem a pena ter em mente.

Um é que essas medidas são um imposto sobre os americanos. Os países estrangeiros simplesmente não pagam; as empresas dos EUA o fazem quando importam um produto. Isso significa que os custos são, em última análise, sustentados pelos consumidores e pelas empresas que usam insumos importados. O efeito desses preços mais altos é a corrosão dos orçamentos familiares, redução dos salários reais e do crescimento econômico.

Mesmo que os eleitores estivessem dispostos a tolerar preços mais altos, além disso, as tarifas provavelmente significariam menos empregos americanos. Tudo o mais constante, à medida que os custos aumentam, a demanda diminui. A menor demanda reduz a produção, o que leva a menos empregos. Se outras nações retaliarem — como a maioria está planejando — os efeitos piorarão, significando preços ainda mais altos e menos empregos.

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Esse protecionismo também não reviverá a indústria americana. As tarifas reduzem a concorrência, tornando mais fácil para as empresas nacionais se safarem com produtos piores e menos eficiência. No caso emblemático, os impostos cobrados de carros estrangeiros nas décadas de 1970 e 1980 cegaram as montadoras americanas para a necessidade de inovar — tanto no design quanto na produção de veículos — e permitiram que os concorrentes japoneses corressem à frente.

A história oferece muitos outros motivos para cautela. Uma rodada anterior de tarifas sobre aço e alumínio em 2018 aumentou os custos do produtor e os preços ao consumidor, impediu as exportações e resultou em cerca de 75.000 empregos a menos na indústria. Cada emprego “salvo” nas indústrias visadas custou cerca de US$ 650.000. Uma dinâmica semelhante prevaleceu para as tarifas de 2009 do presidente Barack Obama sobre pneus chineses e as tarifas de aço de 2002 do presidente George W. Bush.

Os planos da administração atual — incluindo uma tarifa de 25% sobre a maioria dos produtos do Canadá e do México, também no limbo, mais um imposto de 20% sobre os da China — podem ser especialmente caros.

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Um estudo descobriu que eles equivaleriam a um imposto de mais de US$ 1.200 por ano para famílias dos EUA. O crescimento pode ser reduzido em 0,4% ou mais. Cerca de 400.000 empregos estão em jogo. E isso não inclui planos para uma tarifa de 25% sobre importações da Europa e novos impostos sobre agricultura, carros, chips, cobre, madeira, produtos farmacêuticos e muito mais.

Além do dano econômico imediato, essas medidas ameaçam envolver os EUA em anos de disputas, impor imensos custos administrativos e corroer ainda mais o sistema de comércio global baseado em regras que facilitou a prosperidade crescente. A incerteza adicional só impedirá o investimento. Isso sem falar dos danos diplomáticos causados ​​pelo antagonismo a aliados dos EUA.

Mais precisamente: as empresas americanas não devem ter nada a temer da concorrência. As empresas americanas mais bem-sucedidas não tiveram sucesso por causa das tarifas. Elas tiveram sucesso aproveitando o espírito empreendedor e entregando melhores produtos e serviços a preços mais baixos. As empresas que exigem protecionismo estão sinalizando que não podem competir sem a ajuda do governo, o que deve ser um grande sinal de alerta.

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O Congresso e a Casa Branca não devem distribuir favores a essas empresas. Em vez disso, devem adotar políticas que incentivem o investimento e o crescimento, encorajem a pesquisa e o desenvolvimento, criem uma força de trabalho qualificada e criativa, modernizem a infraestrutura e, sim, acolham mais imigrantes talentosos para trabalhar nos EUA e iniciar a próxima geração de grandes empresas.

Esse é o jeito americano — ou, pelo menos, deveria ser.

O Conselho Editorial publica as opiniões dos editores sobre uma série de assuntos de interesse global.

— Editores: Timothy Lavin, Nisid Hajari

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