Bloomberg Línea — Os rendimentos das ações na Colômbia superaram em 20 vezes os principais índices de bolsa dos Estados Unidos. Mas, para analistas do JPMorgan (JPM), esse desempenho não é motivo suficiente para recomendar o investimento em ativos colombianos.
Esta é uma das conclusões da atualização mais recente da estratégia de renda variável, na qual não só se analisou o mercado colombiano como também se revisou a perspectiva para toda a América Latina.
O banco apontou que, no México, a narrativa sobre as tarifas comerciais a serem impostas por Donald Trump parece exagerada, enquanto o Chile aumentou sua atração devido a taxas de juros mais baixas e à aprovação da reforma da previdência. Em contraste, a incerteza fiscal no Brasil e a possível instabilidade política no Peru limitam o apetite para os investidores.
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No caso da Argentina, embora o país tenha se destacado como um caso atípico na América Latina em 2024, com um retorno anual de 109,5%, analistas consideram que ainda há interesse para realizar investimentos, apesar das quedas neste ano. Essa é a estratégia que o banco mantém por países:
Cautela com o Brasil
No relatório, o banco destacou que o Brasil tem sido um dos mercados com melhor desempenho neste ano, em meio a valuations atrativos e a um posicionamento leve que contribuiu para o bom desempenho do mercado.
A recente queda na popularidade do presidente Lula fortaleceu a percepção de que ele pode não se candidatar à reeleição, o que abriria caminho para a oposição.
Mas um aumento na desaprovação do presidente pode levar a medidas macroeconômicas mais heterodoxas, o que complicaria o ambiente econômico em 2025 e 2026.
Outro fator-chave é o possível fim antecipado do ciclo de elevação das taxas de juros.
O JPMorgan avalia que esse cenário pode funcionar como catalisador para o mercado acionário, pois, uma vez encerrado o aperto monetário, passará a se especular sobre um eventual corte nas taxas, possivelmente em 2026.
Mas alerta que há poucos fatores idiossincráticos que possam sustentar o atual rali do mercado brasileiro.
O JPMorgan enfatiza que os investidores devem acompanhar de perto a interseção entre os fatores macroeconômicos e a política, já que o repique atual apresenta características de um “bear market rally” sem fundamentos estruturais sólidos.
Do ponto de vista setorial, o JPMorgan segue com recomendação de empresas exportadoras, embora reconheça que elas foram afetadas recentemente pela valorização do real.
Dentro desse grupo, destacam-se empresas como Embraer (ERJ), Suzano (SUZ) e JBS (JBSS3) como opções atrativas.
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Além dos exportadores, o setor financeiro figura entre as principais apostas da instituição, com o Itaú Unibanco (ITUB4) como sua escolha preferida e com a inclusão do Banco do Brasil (BBAS3) em sua carteira, ao considerá-lo uma das ações mais baratas da América Latina, com catalisadores positivos no horizonte.
Ademais, o JPMorgan manteve uma visão favorável sobre o setor de serviços públicos (utilities), mantendo sua exposição a Eletrobras (ELET6) e Sabesp (SBSP3).
Argentina: uma aposta a longo prazo
O JPMorgan adotou uma visão positiva sobre a Argentina e considerou que o potencial de alta do mercado vai além da simples redução do risco macroeconômico.
Apesar de o país ter se destacado como um caso atípico na América Latina em 2024, com um retorno anual de 109,5%, a instituição entende que o interesse dos investidores permanece sólido, impulsionado pelas expectativas de um cenário para 2025 que se diferenciará significativamente de 2024.
Analistas do JPMorgan ressaltaram que, se Milei mantiver seu ímpeto reformista e aproveitar o potencial dos recursos naturais do país, especialmente o gás natural de Vaca Muerta, a Argentina poderá dobrar suas exportações nos próximos anos e se posicionar como um destino-chave para o investimento estrangeiro.
Para 2025, o banco identificou dois fatores determinantes para a evolução do mercado argentino: o fim dos controles de capital e as eleições legislativas de outubro.
Em consonância com sua perspectiva otimista, o JPMorgan manteve inalteradas suas principais recomendações de investimento para a Argentina, com destaque para empresas como Mercado Livre (MELI) e Grupo Financiero Galicia (GGAL) em sua carteira modelo.
A instituição também sustentou sua recomendação overweight para a Vista (VISTA), empresa focada na exploração de Vaca Muerta, uma das reservas de shale gas mais atrativas em nível mundial.
México e Chile: melhores perspectivas
De acordo com o relatório, há uma visão positiva sobre as ações mexicanas, mesmo com a incerteza persistente em torno das tarifas.
A análise da instituição sustenta que qualquer fraqueza no mercado de ações provém, principalmente, do peso mexicano.
O JPMorgan avaliou que a narrativa das tarifas de Donald Trump parece exagerada, já que sua implementação foi adiada e ainda não se tem certeza se ocorrerá.
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Além disso, o mercado em moeda local já incorporou grande parte do impacto potencial.
A análise apontou que as empresas mexicanas continuam a apresentar fundamentos sólidos, com expectativas de crescimento dos lucros de 15% em dólares americanos para o ano fiscal de 2025.
No que diz respeito à estratégia de investimento, o JPMorgan manteve um enfoque seletivo, priorizando empresas com exposição operacional significativa aos Estados Unidos e ao dólar, ou aquelas com baixo risco de lucros para o próximo ano.
Em termos setoriais, a instituição elevou sua recomendação sobre o setor financeiro para overweight e incluiu ações como Gentera (GENTERA) juntamente com títulos do Grupo Financierto Banorte (GFNORTEO).
Por outro lado, removeu Chedraui (CHDRAUIB) e Grupo Gruma (GRUMAB) e adicionou Tiendas BBB (TBBB).
Além disso, manteve a recomendação overweight para bens de consumo básico, com Arca Continental (AC), Coca-Cola FEMSA (KOF) e, no setor imobiliário, ressalta Fibra Prologis (FIBRAPL).
No caso do Chile, analistas ressaltaram que os fatores macroeconômicos e políticos continuam a sustentar o desempenho positivo da renda variável no país.
Segundo o JPMorgan, o interesse dos investidores se concentrou em dois aspectos-chave: a corrida presidencial e a reforma da previdência.
Por um lado, as principais pesquisas sugerem uma possível mudança política para um governo mais orientado ao mercado nas eleições presidenciais de novembro.
Por outro lado, segundo estimativas do banco, os investimentos no mercado podem aumentar em aproximadamente US$ 6 bilhões anuais quando a reforma da previdência for plenamente implementada.
Quanto à estratégia de investimento, o JPMorgan manteve inalterada sua carteira modelo para o Chile. Atualmente, a instituição conta com cinco empresas: Itaú Chile (ITAUCL), Latam Airlines (LTM), Mall Plaza (MALLPLAZ), CMPC (CMPC) e SQM (SQM/B).
Colômbia e Peru: fundamentos fracos
O banco americano manteve a sua recomendação underweight para o mercado acionário colombiano e destacou que o repique recente não está respaldado por fundamentos sólidos.
O panorama macroeconômico não sofreu mudanças significativas desde a última revisão da instituição. Dois fatores podem afetar o desempenho da renda variável na Colômbia:
- A reforma previdenciária aprovada, que reduzirá pela metade os fluxos de investimento no setor privado.
- A necessidade de financiamento do Ministério da Fazenda, que continuará a pressionar as condições financeiras locais.
O JPMorgan sustentou que não há fundamentos sólidos que justifiquem uma postura positiva em relação à Colômbia e reiterou que existem oportunidades de investimento melhores em outros mercados latino-americanos.
Um possível catalisador a médio prazo pode surgir com as eleições presidenciais de maio de 2026, as quais podem se tornar um fator relevante para o mercado.
Mas o JPMorgan considerou prematuro tomar posições baseadas nesse evento.
O banco não incluiu nenhuma ação colombiana em sua carteira modelo para a América Latina. No entanto, a instituição identifica a Cementos Argos (CEMARGOS) como sua opção preferida para obter exposição ao mercado colombiano.
No caso do Peru, o banco também manteve uma recomendação underweight para o mercado acionário e destacou que o desempenho do país foi inferior ao do restante da América Latina neste ano.
Embora existam alguns fatores macroeconômicos positivos em termos de crescimento e política monetária, estes não se mostram suficientemente robustos para atrair novamente o interesse dos investidores.
O país continua exposto a condições externas adversas que podem frear sua expansão, e o déficit fiscal aumentou, mesmo com a recuperação econômica, o que limita a flexibilidade financeira do governo.
O conflito persistente entre o Executivo e o Congresso gera incerteza e desestimula o investimento, o que retarda o progresso econômico, conforme o relatório.
Na carteira para a América Latina, o JPMorgan mantém a Intercorp Financial Services (IFS) como sua única ação peruana com classificação de overweight.
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