Vendas da Apple mostram que consumidor espera muito mais de iPhones com IA

O ‘superciclo’ previsto para acompanhar o lançamento do primeiro iPhone aprimorado por IA, cujas soluções por ora deixam a desejar, não se concretizou e não mostra sinais de que aparecerá em breve

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Bloomberg Opinion — A Apple (AAPL) descreveu seus últimos resultados como seu “melhor trimestre de todos os tempos”, mas isso só é verdade se você parar de ler perto do início do comunicado à imprensa divulgado na noite de quinta-feira (30).

A receita geral pode ter atingido níveis recordes, mas há grandes dúvidas sobre grande parte dos negócios da fabricante do iPhone.

Em primeiro lugar, o “superciclo” de vendas de Inteligência Artificial (IA) previsto para acompanhar o lançamento do primeiro iPhone aprimorado por IA não se concretizou e não mostra sinais de que aparecerá em breve.

O iPhone não atendeu às expectativas no primeiro trimestre fiscal encerrado em 28 de dezembro, com queda de 0,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 69,1 bilhões, em comparação com os US$ 71 bilhões previstos por Wall Street. Isso não foi o que os investidores pensaram que aconteceria após o lançamento do primeiro telefone habilitado para IA da empresa.

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O lançamento foi imperfeito.

A Apple não tinha os recursos prontos a tempo, o que levou a algumas soluções inventivas de marketing – os outdoors diziam que o iPhone mais recente foi criado “para” a Apple Intelligence em vez de “com”. Mesmo quando os recursos começaram a ser lançados, os usuários não viram nada que mudasse suas vidas e que atraísse um número suficiente de pessoas a comprar um novo aparelho.

A Siri continuou atrapalhada, e a manchete dos esforços de IA da Apple até agora tem sido sua falta de jeito ao resumir as notificações. A empresa continua errando em detalhes básicos e, em uma atualização recente, a Apple desativou alguns aspectos das notificações (mas não mencionou isso na quinta-feira).

Aos analistas, o CEO Tim Cook disse que as vendas do iPhone foram mais fortes nos locais em que a IA foi disponibilizada, em comparação com os mercados que ainda não a receberam. Além disso, ele enfatizou que alguns recursos estavam disponíveis apenas nesses locais a partir de meados de dezembro – bem perto do final do trimestre. É justo, mas o otimismo para o trimestre atual também pareceu discreto.

Outro ponto problemático na frente da inovação foi o declínio da receita do segmento de wearables, que inclui o novo headset Vision Pro. As vendas caíram 1,7% em relação ao ano anterior.

É claro que o Vision Pro nunca seria um grande sucesso de vendas. Mas a queda geral do segmento se destacou porque inclui os AirPods e o Apple Watch, ambos presentes populares que receberam uma atualização no ano passado.

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As coisas podem se recuperar em 2025 com o lançamento do iPhone SE.

Mark Gurman, repórter especializado em Apple da Bloomberg News, prevê que o dispositivo, por US$ 500, atrairá usuários de Android que desejam uma forma mais barata de ter acesso à experiência amplamente superior do iOS.

Isso, por sua vez, oferece uma chance de aumentar ainda mais a receita de serviços à medida que esses novos clientes comprarem a Apple TV ou o armazenamento e começarem a usar os pagamentos no aplicativo. O negócio de serviços foi um dos destaques do trimestre, com um aumento de 14% em relação ao ano anterior.

Em um cenário mais amplo, o estado volátil dos negócios da Apple na China continua a desafiar as previsões.

As vendas caíram 11%, atribuídas a desafios de estoque, disse a Apple. Quando questionado se a empresa estava preocupada com quaisquer tarifas de Trump, Cook disse que a empresa tem monitorado, mas não quis discutir mais. O que acontecerá com os negócios da Apple na China é uma incógnita.

As negociações após o pregão sugeriram que os investidores não estão muito preocupados com tudo isso; as ações subiam até 3%. Os acionistas foram aplacados, ao que parece, pela perspectiva positiva de crescimento geral da receita para o trimestre atual, algo em torno de um dígito baixo a médio.

Ainda assim, acredito que é um resultado ruim e deve reforçar as dúvidas mais amplas sobre o que a Apple oferece em termos de inovação, especialmente em IA.

De forma reveladora, quando um analista perguntou se a Apple ofereceria IA “agêntica”, capaz de realizar tarefas para os usuários, Cook não teve muito a dizer, apesar de esse ser um foco claro para seus concorrentes.

A boa notícia é que a Apple tem um fosso duradouro de 2,35 bilhões de dispositivos em uso, todos presos a um ecossistema altamente popular que parece quase impossível de abandonar. É provável que nenhum dos concorrentes de IA crie um hardware de consumo melhor do que os engenheiros de Cupertino.

Por esse motivo, o iPhone, o iPad e o Mac continuam sendo máquinas extremamente boas – as melhores disponíveis para as necessidades atuais ou para acessar a IA feita por outras empresas que não a Apple. Veremos por quanto tempo Wall Street ficará satisfeita com esse fato.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Foi correspondente em São Francisco no Financial Times e na BBC News.

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