Nova Miami? Punta del Leste atrai gestores de wealth após migração de bilionários

Corretoras e bancos têm aberto ou expandido operações na cidade, que se tornou um refúgio para pessoas ricas da América Latina, incluindo do Brasil e da Argentina e de fora da região

Punta del Este
Por Ken Parks
11 de Janeiro, 2025 | 06:15 AM

Bloomberg — O refúgio de verão de endinherados da América do Sul tem se tornado um novo polo para gestão de riqueza, à medida que o Uruguai consolida sua reputação como um paraíso favorável a investidores em uma região tumultuada.

Punta del Este há muito tempo atrai os ricos do continente em busca de sol e ondas no ambiente seguro e acolhedor do país. Mas, desde a pandemia, a região tem visto um fluxo de estrangeiros ricos — incluindo americanos e europeus — que adquirem imóveis na região, atraídos por generosos incentivos fiscais e como uma espécie de seguro contra a polarização política no hemisfério norte.

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Gestores de riqueza adotam à risca o mandamento follow the money, com empresas ampliando operações no Uruguai. A chegada de novos moradores abastados impulsiona a construção de projetos imobiliários de luxo, clínicas de alto padrão e a expansão de um terminal para aviões privados.

A Puente, uma corretora focada na América Latina, abriu um escritório na península histórica de Punta del Este após a pandemia, que agora atende cerca de 450 clientes que vivem na área, integral ou parcialmente, segundo Nicolás Cristiani, chefe local de gestão de riqueza da empresa.

A Puente planeja adicionar até quatro pessoas à sua equipe de cinco colaboradores neste ano para atender à demanda, ele afirmou.

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“Os clientes valorizam muito mais do que há dois ou três anos o fato de termos um escritório físico em que podem ter reuniões presenciais e tomar um café,” disse Cristiani em entrevista à Bloomberg News.

Leia mais: Como o Uruguai se tornou um refúgio de bilionários da América Latina

A mudança para Punta, como é conhecido o destino na costa atlântica sul, marca um renascimento da gestão de riqueza no Uruguai, que sofreu uma debandada de empresas em meados da década de 2010 devido a cortes de custos e maior fiscalização regulatória.

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O número de empresas de gestão de riqueza no país aumentou de 155 em 2020 para 174 no final de 2023, de acordo com dados do banco central do país. Nesse período, os clientes aumentaram 80%, chegando a quase 49.400, e os ativos cresceram 29%, totalizando US$ 37,2 bilhões.

Punta del Este

Os concorrentes da Puente não estão parados. A Latin Securities chegou no final de 2022, enquanto a Gletir Corredor de Bolsa, com sede em Montevidéu e que administra cerca de US$ 1,5 bilhão, inaugurou um escritório com dois colaboradores em abril passado.

A subsidiária do Santander no Uruguai planeja fortalecer suas operações de private banking em Punta este ano, onde já possui uma equipe dedicada de quatro pessoas, segundo Andreina Roux, chefe de gestão de riqueza e seguros do banco.

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A Balanz Capital planeja abrir um escritório em Punta dentro de três anos para atrair clientes ricos argentinos, brasileiros e europeus, afirmou o gerente local, Juan José Varela, em entrevista. A empresa abriu em 2023 seu segundo escritório na Argentina, em Nordelta, uma comunidade fechada em Buenos Aires, que pode servir como modelo para Punta del Este, segundo ele.

“Quando apostamos em um lugar, apostamos alto,” disse Varela. “Construímos um grande escritório em Nordelta. No dia em que abrirmos em Punta del Este, faremos levando em conta o possível crescimento.”

Estabilidade política

O Uruguai, um país de 3,5 milhões de habitantes, limitado pela Argentina e pelo Brasil, se destaca na América Latina por sua alta renda per capita e boa governança.

Sua estabilidade política ficou evidente na eleição presidencial de novembro, que teve candidatos tradicionais competindo, em vez de outsiders disruptivos. O presidente Luis Lacalle Pou, cujo partido de centro-direita perdeu para o esquerdista Yamandú Orsi, prometeu garantir uma transição tranquila.

A aversão do Uruguai a aventuras políticas radicais está trazendo benefícios. O Google escolheu o país no ano passado para sediar um grande data center, enquanto bilionários fundadores das maiores empresas de tecnologia da região possuem casas em Montevidéu e Punta del Este.

Falar de dinheiro no Uruguai ocorre em cenários diferentes dos tradicionais centros como Nova York e Londres. “É comum os clientes convidarem você para sua casa de campo ou à beira-mar para comer e conversar sobre negócios e investimentos,” disse Cristiani, que atende clientes da Puente em seus iates, na quadra de tênis ou em churrascos fartos. Ele também relatou uma vez ter esmagado uvas em uma vinícola com investidores.

Os ricos em Punta também estão mais dispostos a trabalhar com vários gestores financeiros, diferentemente dos clientes de Montevidéu, que tendem a se manter fiéis a um único consultor financeiro, afirmou Gastón Beker, que dirige a operação local da Gletir. “Aqui temos uma oportunidade de captar mais clientes, especialmente argentinos e brasileiros,” disse ele em entrevista no escritório da empresa na península.

Crescimento da região

Punta del Este está localizada no departamento de Maldonado, o que mais cresce no Uruguai. A imigração interna e estrangeira ajudou a aumentar a população local em quase 41 mil pessoas nos últimos 12 anos, alcançando cerca de 213 mil em 2023, segundo o último censo.

A chegada de residentes mais ricos está gradualmente transformando Punta del Este em uma cidade mais ativa ao longo do ano, o que, por sua vez, estimula investimentos em serviços médicos, imóveis comerciais e transporte aéreo.

O Hospital Britânico, referência no Uruguai, iniciou em 2024 a construção de sua primeira clínica em Punta del Este, em um terreno de 2,4 acres no bairro Beverly Hills da cidade.

Playa Brava, Uruguay

Na península, a torre de 27 andares com a marca World Trade Center, que domina o horizonte, deve ser inaugurada no quarto trimestre deste ano, de acordo com Carlos Lecueder, que lidera o grupo de investidores por trás do projeto de US$ 55 milhões. Lecueder acredita que empresas argentinas e brasileiras serão seus principais inquilinos.

Enquanto isso, a Aeropuertos Uruguay inaugurou em dezembro um novo terminal para táxis aéreos e aviões privados no aeroporto internacional que atende Punta del Este, afirmou Damián Pera, responsável pela aviação geral da empresa.

O terminal, mais de três vezes maior que a instalação anterior, reflete o crescimento do tráfego aéreo fora da alta temporada na região. “Começamos a perceber que precisávamos oferecer um serviço melhor durante todo o ano,” disse Pera. “Achamos que isso nos servirá por vários anos.”

Investimentos em imóveis

As empresas imobiliárias também avançam com projetos residenciais para ricos e famosos, embora alguns desenvolvimentos não tenham sido bem recebidos pelos moradores locais.

Uma proposta para construir prédios de apartamentos na cênica Punta Ballena foi fortemente contestada por residentes e celebridades que desejam que a área seja declarada protegida. Mas essa batalha é mais uma exceção do que a regra em uma região cuja economia local depende de construção civil e serviços.

Investidores uruguaios e argentinos iniciaram no ano passado o projeto de US$ 80 milhões El Nido Beach & Surf Homes, localizado a 20 minutos de carro da costa de Punta del Este.

As comodidades incluem uma piscina de 6,5 acres com praia artificial e gerador de ondas para surfe. O objetivo é concluir o condomínio fechado de 72 hectares até meados de 2026, segundo o investidor Federico Fischer.

O hotel, cassino e centro de eventos que fazem parte do projeto de US$ 500 milhões da desenvolvedora italiana Cipriani, com vista para a praia Brava da cidade, estão tomando forma, com a intenção de inaugurar em 2025.

O primeiro de três edifícios residenciais, que variam de 30 a 60 andares, está previsto para ser concluído em meados de 2027. Os preços começam em cerca de US$ 1,7 milhão para as menores unidades e chegam a quase US$ 17 milhões para uma cobertura duplex, de acordo com a Cipriani.

A atmosfera internacional de Punta del Este e a escassez de produtos imobiliários de luxo ajudaram a convencer a Cipriani a seguir adiante com o projeto, que se estenderá até o início da década de 2030, disse o CEO Giuseppe Cipriani.

“Ao longo dos últimos 30 anos, vi todos os tipos de governos. Nada mudou muito,” ele afirmou em entrevista. Essa estabilidade, acrescentou, “realmente ajuda quando você pensa em investir muito dinheiro.”

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