Novo CEO do Julius Baer assume com dupla missão: cortar custos e entregar lucro

Stefan Bollinger, ex-Goldman Sachs, assume nesta quinta-feira (9) em um momento em que os investidores pressionam pelo aumento da lucratividade e pela volta dos dividendos

O ex-sócio do Goldman Sachs Group, de 50 anos, é o primeiro chefe permanente em quase um ano (Foto: Stefan Wermuth/Bloomberg)
Por Noele Illien - Levin Stamm
09 de Janeiro, 2025 | 11:05 AM

Bloomberg News — Stefan Bollinger assumiu o cargo de executivo-chefe do Julius Baer Group nesta quinta-feira (9), com investidores em busca de respostas para duas grandes questões: até que ponto ele conseguirá aumentar a lucratividade e com que rapidez voltará a lhes pagar dividendos?

O ex-sócio do Goldman Sachs, de 50 anos, é o primeiro chefe permanente em quase um ano, após a renúncia de Philipp Rickenbacher em fevereiro de 2024, depois que as perdas ligadas ao magnata do setor imobiliário Rene Benko reduziram pela metade o lucro anual. Nic Dreckmann dirigiu o banco nesse intervalo.

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Os acionistas e os clientes estão mais uma vez em busca de confiança na instituição de 135 anos, com o aumento de novos ativos e a avaliação de mercado tendo recuperado em grande parte o impacto begativo do caso Benko.

Stefan Bollinger é o novo CEO do Julius Baer

Como parte da busca por uma operação mais eficiente e com gastos a menos, o Julius Baer fechou nesta semana a venda de sua operação no Brasil para o BTG Pactual por R$ 615 milhões.

No entanto, Bollinger ainda tem muito a fazer, desde a redução de custos até a finalização da saída do negócio que gerou uma exposição de US$ 700 milhões às empresas Signa de Benko.

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“Será tudo uma questão de restaurar o crescimento”, disse Nicolas Payen, analista da Kepler Cheuvreux, em Londres. “O Julius Baer também está atualmente atrasado em relação a todas as suas metas financeiras para o final do ano. Ele terá de apresentar novas metas convincentes e realistas.”

Bollinger assume as rédeas do banco com sede em Zurique em um momento em que o pior do desastre com Benko parece ter ficado para trás.

Ações do Julius Baer apagaram as perdas registradas com o escândalo do magnata Rene Benko no fim de 2023

O Julius Baer já disse que espera que o lucro de 2024 seja “significativamente” superior aos níveis de 2023, e foi capaz de relatar uma aceleração nos fluxos de entrada de clientes em novembro.

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Os investidores estão ansiosos para que o banco retome as recompras de ações, embora a empresa tenha dito que só poderá fazê-lo depois que uma investigação regulatória tiver sido resolvida.

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O custo de administração do banco tem sido uma preocupação persistente. A relação entre custo e receita do Julius Baer tem se deteriorado constantemente desde 2021, uma vez que as despesas cresceram mais rapidamente do que a receita.

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"A necessidade de ação para o novo CEO é clara", disse Andreas Venditti, analista da Vontobel em Zurique.

Os custos com pessoal no Baer representam entre 60% e 70% das despesas totais, e o número de funcionários do banco cresceu substancialmente nos últimos anos.

O Julius Baer também fez muitas contratações após o colapso do Credit Suisse, embora ainda não tenha visto o retorno total dos gestores de patrimônio trazidos a bordo.

“Houve muitas contratações sem o correspondente crescimento líquido”, disse Anke Reingen, analista da RBC Capital Markets. Embora tenha havido alguma melhora, “posso imaginar que haverá um foco maior na produtividade dos gerentes de relacionamento”, disse ela.

A diretoria executiva do banco, que cresceu para 14 membros sob o comando do ex-CEO Rickenbacher, também pode estar na mira de Bollinger.

(Fonte: Julius Baer via Bloomberg)

Fusões e aquisições

O Julius Baer não abriu mão de crescimento por meio de fusões e aquisições no passado, aumentando significativamente sua receita na década de 2010 após uma série de aquisições, incluindo o negócio de patrimônio internacional do Merrill Lynch em 2012.

Nos últimos anos, o número de fechamentos ou vendas de empresas - como a sua operação brasileira - ultrapassou o número de aquisições.

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Embora pareça estar fora de cogitação por enquanto, há um negócio que poderia ressurgir novamente sob o mandato de Bollinger.

No ano passado, a Bloomberg News informou que o Julius Baer estava explorando uma aquisição do banco privado suíço rival EFG International como parte de uma associação que teria criado uma gestora de patrimônio com mais de 500 bilhões de francos suíços em ativos sob gestão.

Investigação

Na frente interna, os desafios enfrentados por Bollinger são agravados pelo fato de que seu poder de implementar seus planos é limitado por uma investigação em andamento do órgão regulador financeiro suíço Finma sobre as deficiências nos controles do Julius Baer que permitiram que o banco criasse uma exposição massiva de dívidas com Benko e suas empresas.

Em uma reunião com analistas em novembro, o diretor financeiro Evie Kostakis disse que o cenário básico do banco era retomar os pagamentos aos investidores em 2025, embora o conselho de administração esperasse até que a investigação da Finma fosse concluída. Kostakis não deu uma estimativa de quando isso aconteceria - tampouco a Finma.

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"Do ponto de vista dos acionistas, uma coisa muito importante é que Bollinger reinicie os programas de recompra de ações", disse Reingen.

Isso mantém a pressão sobre o novo CEO. Bollinger nunca dirigiu um grande banco nem fez parte da diretoria executiva de um, o que significa que a gestão de algumas das partes interessadas mais importantes do Baer - seus investidores e órgãos reguladores - será nova para ele.

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