Bloomberg Línea — O BTG Pactual acertou a aquisição da operação brasileira do Julius Baer, em uma transação que reforça a atuação do banco de investimento em um segmento de crescente disputa no mercado doméstico.
O valor do negócio ficou em R$ 615 milhões, segundo comunicado ao mercado na noite de segunda-feira (6).
Com a incorporação da operação do Julius Baer no país, que estava no alvo de players como Santander, XP e Safra, segundo apuração da Bloomberg News, o BTG Pactual mais do que dobra o volume de ativos sob gestão ou custódia de sua franquia de negócios de family office, que superará R$ 100 bilhões.
O negócio está sujeito ainda às aprovações regulatórias.
Segundo o comunicado, o Julius Baer no Brasil possui R$ 61 bilhões em ativos sob gestão, volume que se somará aos cerca de R$ 40 bilhões do BTG Pactual.
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O Julius Baer abriu um escritório no Brasil em 2005 e depois comprou dois dos maiores family offices do país, a GPS e a Reliance, promovendo a fusão das duas empresas e a criação de um player relevante em gestão de patrimônio que tem cerca de 300 funcionários, segundo a Bloomberg News.
A informação de que o negócio estava em estágio de iminente desfecho havia sido noticiada pela Bloomberg News no fim da tarde de segunda, depois do jornalista Lauro Jardim, de O Globo.
Nos últimos anos, o segmento de wealth management em que se insere a área de family offices se tornou um dos mais competitivos do mercado brasileiro, diante da avaliação das oportunidades no atendimento a famílias e indivíduos com patrimônio de dezenas a centenas de milhões de reais.
Grandes bancos incumbentes reforçaram suas áreas, enquanto players independentes como a BR Partners e outros criaram estruturas para explorar as oportunidades associadas a negócios no mercado de capitais, dado que eventos como M&As geram liquidez para famílias envolvidas na venda de ativos.
Nessa disputa, estreitar o relacionamento com as famílias mais ricas e oferecer serviços sob medida podem fazer a diferença para ganhar a confiança do cliente, segundo contaram Mariana Oiticica, Head de Wealth Planning, e Fernando Coelho, Head de Family Office, em entrevista à Bloomberg Línea em 2024.
Segundo eles na ocasião, há uma mudança geracional que se reflete no escopo de serviços demandados, com planos de sucessão dos negócios empresariais e do patrimônio em jogo, interesse crescente da segunda geração por projetos de filantropia e investimento de impacto, sem contar as novas regras de ordem tributária. Empresários que ergueram grandes grupos estão envelhecendo e passam a gestão para os filhos.
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As sucessivas mudanças em impostos para investimentos adotadas nos últimos meses pelo governo federal, como as que afetaram fundos offshore e exclusivos, só reforçaram a relevância e a procura pelo trabalho das áreas de planejamento patrimonial nos principais bancos do segmento.
Mariana Oiticica montou a área de planejamento patrimonial no banco, que já se aproxima de duas décadas de existência e foi uma das pioneiras em grandes instituições no mercado doméstico.
A franquia de family office, por sua vez, foi montada no BTG Pactual há mais de uma década, na virada de 2011 para 2012, diante da percepção de que tais clientes têm duas características principais: o primeiro é a complexidade inerente que exige uma atenção que vai além de montar, por exemplo, apenas uma carteira de investimentos.
E a segunda veio do entendimento de que, dado que tais famílias mantêm relações comerciais com mais de uma instituição financeira, faz sentido cuidar de todo o patrimônio.
A aquisição do Julius Baer no Brasil também reflete o apetite consistente do BTG Pactual, liderado por André Esteves e Roberto Sallouti, em sua estratégia que alia crescimento orgânico com inorgânico.
Ao longo dos últimos anos, o banco tem sido um dos players mais ativos em M&As no mercado financeiro do país.
As aquisições se estendem desde a área de gestão no Brasil e no exterior, como parte da estratégia de montar uma franquia global de negócios com atuação nos mercados americano e europeu, como na frente de sua plataforma digital de investimento para o varejo, em que busca acelerar o ganho de escala com a incorporação de corretoras ou empresas de investimento.
Há um mês, o BTG Pactual acertou a aquisição de 100% da Clave Capital, uma das gestoras de maior destaque da geração que foi ao mercado nos anos de juros baixos entre 2016 e 2021, fundada por Rubens Henriques. Os valores da transação não foram revelados na ocasião.
Com a operação, fundos multimercado, de crédito e imobiliário geridos pela Clave, que contam com cerca de R$ 6 bilhões em ativos e perto de 25.000 cotistas, passam a ser incorporados pela BTG Pactual Asset Management.
Rubens Henriques, ex-CEO da Itaú Asset e um dos gestores mais respeitados do país, assume como head da BTG Pactual Asset para a América Latina.
- Com informações da Bloomberg News.
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