Bloomberg — A disparada dos juros futuros nos últimos dias mostra que esse mercado “está sem defesa” diante da percepção dos investidores de que o governo resiste em promover cortes consistentes dos gastos públicos, segundo o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall.
Os contratos de juros futuros, os DIs, de vencimentos mais longos chegaram a disparar cerca de 30 pontos básicos nesta terça-feira (17), antes de um alívio visto à tarde. As taxas de juros continuaram em alta mesmo depois que o Tesouro anunciou que faria leilões apenas simbólicos de títulos públicos nesta semana.
A forma para tentar conter esse movimento, via oferta do Tesouro no sentido contrário, para recompra de títulos públicos, também não resolveria o problema, disse ele, mesmo sendo um tipo de intervenção que já foi usada em outros momentos para conter o avanço das taxas.
“Se o problema é do fundamento fiscal, o Tesouro usar seu caixa para aliviar os juros só agravaria a percepção de risco. Só atuar no sintoma, queimar caixa, não resolver a doença, iria piorar a situação”, disse Kawall, que é sócio-fundador da Oriz Capital, à Bloomberg News.
“O problema é que no DI não tem defesa”, afirmou.
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No câmbio, o Banco Central tem mais capacidade de atuação, mas, ainda assim, o dólar chegou a subir até R$ 6,20 na máxima histórica nesta terça, mesmo com dois leilões de venda da moeda à vista realizado pela autoridade monetária no dia — depois de outros dois nas duas sessões anteriores.
A divisa americana reverteu o movimento no meio da tarde e passou a mostrar leve baixa. “O BC está a reboque da situação”, afirmou Kawall.
Investidores têm se tornado cada vez mais céticos em relação às promessas do governo de reforçar as contas públicas e abordar a questão da trajetória da dívida do país.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad anunciou isenções de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 juntamente com um plano para cortar R$ 70 bilhões em gastos, o que decepcionou investidores que enxergaram isso como o mais recente sinal de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua mais focado em impulsionar o crescimento do que em reforçar as perspectivas fiscais.
Para controlar a situação no mercado, Kawall afirmou que o BC precisaria da ajuda de uma política fiscal anticíclica vinda do Palácio do Planalto. “O governo deveria pisar no freio, mas está pisando no acelerador”, afirmou o ex-chefe do Tesouro.
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