Ultrarricos e executivos dos EUA aumentam investimento em segurança pessoal

Empresas especializadas na proteção de CEOs e bilionários citam demanda em alta em meio a ampliação das desigualdades e crescente ansiedade por eventos sociais e políticos

Palm Beach
Por Sophie Alexander - Paulina Cachero
16 de Dezembro, 2024 | 03:50 PM

Bloomberg — Executivos e bilionários dos Estados Unidos têm intensificando sua segurança pessoal.

A Fortified Estate, empresa que instala acessórios blindados sob medida e salas seguras em casas de ultrarricos, teve um de seus meses mais movimentados em outubro, antes das eleições presidenciais, segundo Jon Harris, fundador da empresa.

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“As pessoas simplesmente não tinham certeza do que iria acontecer”, disse Harris, que fundou a empresa em 2018 e viu um aumento nos negócios durante e após eventos desestabilizadores como a pandemia de Covid-19, os protestos pela morte de George Floyd e a invasão do Capitólio dos EUA em 2021.

Segurança de alto nível para os ultrarricos não é novidade. Mas, nos últimos anos, as famílias mais ricas do país têm demonstrado um interesse sem precedentes por sua segurança pessoal, de acordo com entrevistas com quatro executivos da indústria de proteção a bilionários.

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Propriedades nos Hamptons estão instalando câmeras infravermelhas e robóticas que permitem aos proprietários ver e ouvir tudo o que acontece, mesmo quando estão em um iate no Mediterrâneo. Moradores de casas multimilionárias em Los Angeles e São Francisco estão adicionando salas seguras blindadas e janelas com vidros à prova de balas. E vizinhos ricos estão juntando dinheiro para contratar forças policiais particulares.

Aumento da ansiedade

Essa sensação de ansiedade aumentou após o assassinato de Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, no início do mês, quando reações online minimizaram o crime, ou até mesmo comemoraram. Palavras escritas nos cartuchos usados no ataque a Thompson se transformaram em um lema para aqueles que consideram o assassinato justificado. Em Manhattan, cartazes de “Procurado” apareceram com essas palavras ao lado dos rostos de executivos de saúde e finanças.

Russell Grey, diretor da Security Services International, sediada no Reino Unido, que atende clientes ultrarricos e corporativos, disse que a ansiedade vinha crescendo de forma constante mesmo antes do assassinato.

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“O cenário político fez com que as pessoas se sentissem bastante inseguras”, disse Grey. A instalação de vidros à prova de balas nas casas de seus clientes “se tornou muito comum” nos últimos quatro anos, mas especialmente nos últimos 18 meses, afirmou. “Eles têm a percepção de que há um assassino em cada esquina, mas não há.”

As bases de clientes de Harris e Grey nos EUA estão amplamente concentradas em Nova York, Califórnia, Texas e Flórida. Harris afirmou que viu um aumento específico no interesse de indivíduos em áreas onde “há muita desigualdade, com casas de alto padrão perto de residências mais pobres”.

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Segurança Privada

Barbara Goodstein é sócia-gerente da R360, uma comunidade de investimentos com cerca de 150 membros cuja riqueza média é superior a US$ 500 milhões. A segurança se tornou um tópico mais frequente entre os membros nos últimos anos, e “os serviços de proteção residencial aumentaram drasticamente”, afirmou.

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A R360 fez parceria com a empresa de segurança Global Guardian, que trabalha com mais de 220 conglomerados importantes e 180 famílias e escritórios familiares em todo o mundo. Seu CEO, Dale Buckner, disse que observou uma mudança nos EUA desde o início da pandemia, quando seus clientes começaram a temer mais violência e roubos. Após qualquer grande agitação, ele recebe mais consultas de empresas e famílias ricas. Às vezes, ele disse, o medo é exagerado.

“Acredite ou não, tivemos que acalmar tantas pessoas quanto tivemos que convencer a considerar segurança adicional”, disse Buckner, acrescentando que a Global Guardian recebeu mais de 90 consultas nos dias após o assassinato de Thompson.

Matthias Fitzthum, fundador da Bespoke Home & Yacht Security, disse que viu um aumento nas consultas de executivos de empresas americanas na última semana para instalar salas seguras em escritórios em caso de ataque e equipamentos de segurança em casa.

Muitas famílias ricas estão dobrando ou até triplicando seus orçamentos de segurança, afirmou. Isso pode incluir câmeras térmicas, portas e janelas blindadas, salas seguras, sensores para obras de arte valiosas, sistemas antidrone, sistemas de detecção de gases e mais — uma lista de tecnologias avançadas de segurança que começa em cerca de US$ 1,5 milhão em sua empresa.

Desigualdade e insegurança

Embora os americanos ultrarricos possam estar reforçando sua segurança privada, a elite global ainda vê os EUA como um refúgio relativamente seguro, disse Paul Whalen, sócio da empresa de arquitetura Robert A.M. Stern, que projeta desde propriedades particulares até edifícios de luxo, como o 15 Central Park West.

“Nosso país tem um urbanismo de cidade pequena onde você tem uma casa unifamiliar, uma cerca branca pela qual pode enxergar e um bairro com uma comunidade em que você confia”, disse Whalen. “Muitas pessoas de outros países, acostumadas a ter muros em torno de suas casas, vêm para cá por causa disso.”

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Buckner ecoou esse sentimento, apontando a desigualdade de riqueza como um indicador importante dos níveis de ameaça em diferentes países. Ele tem clientes no Brasil, onde muros de seis metros e seguranças armados são a norma nas casas de bilionários.

“O Brasil é um ótimo exemplo, onde a maioria da população vive na pobreza e, ao mesmo tempo, existe uma riqueza extrema”, disse ele. “Se a classe média deste país continuar a ser erodida, não há dúvida de que isso criará um ambiente de ameaça muito diferente.”