Fundos ganham com avanço do dólar e das taxas de juros para superar o CDI

Apostas na deterioração dos ativos domésticos, após a frustração com o plano de contenção de gastos do governo, trouxeram ganhos para gestoras em novembro

Vista de região da Av. Faria Lima, em São Paulo
Por Felipe Saturnino - Raphael Almeida Dos Santos
16 de Dezembro, 2024 | 02:21 PM

Bloomberg — As gestoras de fundos multimercado brasileiras aproveitaram a deterioração dos ativos domésticos para impulsionar os seus ganhos e voltar a bater a taxa de referência do CDI em novembro.

Apostas em alta do dólar e das taxas de juros dos contratos futuros negociados na B3 foram ganhadoras no mês, em que o mercado local reagiu a um novo pico de incerteza fiscal.

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Após a frustração com o plano de contenção de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que também trouxe uma isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5.000, a moeda americana superou R$ 6, em nova máxima histórica.

Os juros futuros de médio prazo, por sua vez, dispararam 1,5 ponto percentual, com apostas em um ciclo de aperto mais intenso pelo Banco Central que levaria a Selic para acima de 15%.

Fundos de Adam Capital, Ibiuna Investimentos, Truxt Investimentos e Verde Asset Management avançaram pelo menos 3% após taxas no mês.

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Guilherme Foureaux, gestor macro da Truxt, diz que a estratégia da gestora segue estruturalmente vendida — aposta que ganha com a desvalorização — em ativos de Brasil.

O fundo já apostava em avanço do dólar e do DI, além de uma elevação das taxas da inflação implícita embutida nos títulos públicos e de queda da bolsa, com a leitura de que o plano de cortes do governo não seria suficiente para melhorar as expectativas do mercado sobre as contas públicas.

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“Nossa cabeça segue negativa com Brasil. Temos visto um embate do governo com o mercado e há a falta de um diagnóstico fiscal correto”, disse Foureaux. “Um ajuste necessário nas contas públicas ainda não foi feito e, agora, nos aproximamos mais do ciclo eleitoral. Então, 2025 será muito mais desafiador.”

Uma cesta de fundos multimercados capturada pelo índice IHFA, da Anbima, subiu 1,4% em novembro, impulsionando os ganhos acumulados no ano para 5,4%. A taxa de referência do CDI subiu 0,8% no mês passado e tem alta de 9,9% em 2024.

Veja o que as gestoras independentes de multimercado disseram em suas cartas mensais:

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Ace Capital

Ace segue tomado — posição que se beneficia da elevação — nas taxas de inflação implícita de curto prazo. Nos juros globais, adicionou posições aplicadas — que ganham com a queda das taxas — nos EUA e na Noruega. Em renda variável, saiu de posição levemente vendida para marginalmente comprada no mercado local.

  • Ace Capital FIC FIM +2,3% contra +0,8% do CDI em novembro
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Adam Capital

A Adam Capital segue com posições compradas em bolsa e moeda americana e vendidas em outras geografias da Europa e da Ásia. Fundo disse que já esperava que a política fiscal e parafiscal elevaria em muito a taxa de juros neutra no Brasil, ao impulsionar o crédito.

  • Adam Macro II FIC +3,9%
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Bahia Asset Management

Fundo está com posições que ganham com a alta das taxas de juros nominais no Brasil. Encerrou posição comprada — aposta que ganha com a valorização — do real e iniciou posição que se beneficia da alta do dólar contra uma cesta de moedas europeias e asiáticas.

  • Bahia AM Marau FIC +0,6%
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Genoa Capital

Genoa disse que o orçamento total de Selic para trazer a inflação à meta já passa dos 4pp. Fundo tem posições em juros nominais e apostas em inflação no Brasil, sem especificar. No exterior, mantém apostas táticas em juros nominais e inflação de América Latina.

  • Genoa Capital Radar FIC FIM +1,8%
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Ibiuna Investimentos

Ibiuna disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve a credibilidade enfraquecida por outros membros do governo com anuência do presidente Lula. Fundo manteve posições tomadas — que ganham com a alta — dos juros nominais e da inflação implícita.

  • Ibiuna Hedge STH FIC +3,0%
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JGP Asset Management

Fundo teve ganho em novembro com posições tomadas em juros no Brasil e vendidas em real contra dólar e em ouro. Posição que se beneficia da queda do Ibovespa também gerou ganhos.

  • JGP Strategy FIC +1,8%
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Kapitalo Investimentos

Fundo aumentou posições que ganham com a queda dos juros no Brasil, Reino Unido, Canadá e EUA, além de elevar as apostas que se beneficiam da desvalorização do real. Mantém posições que se beneficiam da alta nas ações brasileiras e bolsas globais.

  • Kapitalo Kappa FIN +1%
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Legacy Capital

Fundo reduziu as posições compradas em dólar e mantém posições compradas em ações dos EUA, devido à perspectiva relativa favorável da economia americana.

  • Legacy Capital FIC +1,4%
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Truxt Investimentos

Gestora está posicionada com apostas aplicadas — que ganham com juros mais baixos — na Europa. Fundo teve maior retorno mensal da história em novembro com apostas contra ativos domésticos.

  • Truxt I Macro FIC FIM +3,3%

Verde Asset

Verde vê a política econômica desancorada e que o pacote de corte de gastos pode se transformar em um “trem da alegria” mirando 2026. Fundo está levemente vendido em bolsa brasileira, enquanto mantém exposição global estável. Continua com posições que ganham com a alta da inflação implícita longa.

  • Verde FIC FIM +3,3%
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Vinland Capital

Fundo mantém posições relativas em renda variável no setor bancário doméstico e está zerado em bolsa no exterior.

  • Vinland Macro Plus FIC FIM 1,4%
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