Bloomberg — Joan Solotar, da Blackstone (BX), passou a maior parte da última década dedicada a atrair dinheiro de investidores ricos, ajudando o gigante do mercado de investimentos privados a alcançar US$ 1 trilhão em ativos sob gestão.
Agora, depois de atingir uma meta de captação de US$ 250 bilhões para sua unidade, cerca de quatro anos antes do previsto, a chefe global de soluções de patrimônio da Blackstone se concentra em um novo objetivo ambicioso de chegar a US$ 1 trilhão na sua divisão.
Nos últimos cinco anos, a unidade de wealth da maior gestora de ativos alternativos do mundo aumentou em quase cinco vezes o montante de dinheiro administrado, como parte de uma iniciativa de expansão nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.
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Isso ajudou a fazer com que o preço das ações da empresa de Nova York atingisse um recorde este ano e posicionou Joan Solotar como uma figura fundamental na empresa na qual ela ingressou em 2007, depois de dirigir a equipe de pesquisa de ações do Bank of America.
Solotar, de 60 anos, conversou com a Bloomberg News sobre o futuro dos mercados privados, o que a inspira e o que aprendeu liderando seus negócios na Blackstone, que no ano passado atingiu sua meta original de administrar US$ 1 trilhão em ativos totais até 2026.
Os comentários dela foram editados e condensados para fins de brevidade. Ela deu a entrevista durante o evento Women, Money & Power, da Bloomberg, realizado em Londres no início desta semana.
Bloomberg: Agora que já atingiu sua meta de captar US$ 250 bilhões, o que a motiva a continuar?
Joan Solotar: O próximo passo é chegar a US$ 1 trilhão, espero. Continuaremos construindo esta unidade para torná-la ainda mais escalável. Estabeleci a meta de US$ 250 bilhões com base no que achei que conseguiríamos entregar em um período de 10 anos, e conseguimos alcançá-la antes do previsto.
Ao revisar nossos planos estratégicos e analisar as oportunidades disponíveis, acredito que podemos dobrar e até triplicar a divisão ao longo do tempo.
É difícil saber exatamente em qual ano isso acontecerá — e muitas coisas precisam se alinhar —, mas, ao redor do mundo, estamos vendo um aumento nas alocações em mercados privados, partindo de praticamente 0%.
A maioria dos diretores de investimentos tem como meta alocar algo entre 20% e 30% em investimentos privados recomendados em um portfólio. Portanto, se mantivermos nossa participação de mercado, isso representa um conjunto de oportunidades muito significativo.
Bloomberg: Vocês deram acesso aos mercados privados para investidores individuais. À medida que continuam nesse caminho, há algo que vocês temem que possa atrapalhar?
Joan Solotar: O caminho a seguir está claro: os indivíduos alocarão mais, mas nunca há um percurso totalmente linear, então uma disrupção no mercado — que pode mudar o sentimento para aversão ao risco — pode causar, pelo menos, recuos temporários. Mas acredito que a tendência secular é muito, muito clara.
Os mercados privados não apenas oferecem retornos mais altos, como também têm menor correlação com ações e títulos, proporcionando uma boa diversificação. Além disso, há mais produtos de qualidade acessíveis, enquanto a tecnologia e a educação estão melhorando.
Para mim, todos esses fatores são necessários para desbloquear o mercado, e eles estão acontecendo simultaneamente.
Bloomberg: Muitas pessoas falam agora em democratizar o acesso aos mercados privados. O segmento está ficando mais competitivo?
Joan Solotar: Temos concorrentes em cada uma das classes de ativos — concorrentes fortes, mas não muita competição de forma abrangente. Se você é uma grande instituição e quer alocar, no final, entre US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões em mercados privados, vai querer fazer isso com empresas que conseguem gerenciar em grande escala.
Há poucas empresas que conseguem atender a essa demanda, e você realmente não tem visto novos participantes surgindo, seja no setor de private equity ou no de grandes empresas imobiliárias — mesmo olhando desde a crise financeira global.
Bloomberg: O que você aprendeu ao expandir seu negócio de wealth dos EUA para outros mercados?
Joan Solotar: Cada país tem elementos únicos em relação às regulamentações e à forma como as pessoas investem. Na Alemanha, há uma tendência à posse de grandes imóveis, então eles podem ter mais interesse em crédito privado ou private equity. No Japão, eles tiveram crescimento e inflação zero por décadas, mas isso está mudando, e há interesse em várias classes de ativos, como crédito privado, imóveis e private equity.
Levamos as lições dos EUA para outros mercados, como a necessidade de encontrar as pessoas pessoalmente.
Não dá para presumir que, só porque você tem um fundo, elas virão até você. Gosto de dizer que, em fundos abertos — conhecidos como “fundos perpétuos” —, perpétuo significa sempre e para sempre. Então, é preciso estar constantemente conversando com consultores financeiros todos os dias.
Bloomberg: Por fim, o que você tem assistido, ouvido ou lido recentemente que deixou uma impressão marcante?
Joan Solotar: Recentemente, li a biografia de Elon Musk, escrita por Walter Isaacson. Gosto de ler biografias em geral, então colocaria essa na mesma categoria de outras que achei fascinantes, como as sobre Steve Jobs, Phil Knight ou Barack Obama.
Byron Wien, que trabalhou em nossa equipe, costumava dizer que você deveria tentar descobrir o que impactou a vida de alguém antes dos 18 anos. Quando você lê sobre a infância de Elon Musk, entende melhor o que o motiva e como sua personalidade foi moldada ao longo do tempo.
Também adoro ler ficção. Um livro que li recentemente é ”Pequenas Coisas como Essas” (Small Things Like These), de Claire Keegan. É uma história tocante e poderosa, lindamente escrita, que fala sobre o impacto que um único indivíduo pode ter.
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