Bloomberg — As mulheres controlam somas cada vez maiores de dinheiro em todo o mundo, o que prepara o cenário para mudanças na gestão de riqueza e na filantropia.
Nos Estados Unidos, a McKinsey estima que as mulheres controlarão US$ 34 trilhões — ou aproximadamente 38% — dos ativos para investimentos até 2030, quase o dobro do total do ano passado. Há 10 anos, esse número era de US$ 7,3 trilhões, ou 29% do total.
O maior motor desse crescimento é uma simples tendência demográfica: mulheres da geração dos baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964) vivem, em média, cinco anos a mais do que os homens, e maridos ricos estão cada vez mais deixando suas fortunas familiares sob controle das esposas.
Foi o caso da bilionária Miriam Adelson, que tornou-se a acionista majoritária da operadora de cassinos Las Vegas Sands após a morte de seu marido Sheldon em 2021. Essa mudança também é impulsionada por um número crescente de mulheres que seguem carreiras lucrativas.
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“As mulheres estão se tornando, cada vez mais, chefes financeiras das famílias devido à herança, ao divórcio ou ao sucesso profissional, assumindo papéis de liderança nas decisões financeiras”, disse Casey Jorgensen, chefe do Dynasty Institute for Adaptive Leadership da Dynasty Financial Partners.
Essa mudança é colossal para as mulheres nos EUA, que há 50 anos não podiam abrir uma conta bancária ou ter cartão de crédito por conta própria.
Agora, existem centenas de mulheres com patrimônio ultraelevado em todo o mundo — incluindo pelo menos 62 bilionárias, que controlam cerca de 11% dos US$ 9,9 trilhões analisados pelo Bloomberg Billionaires Index.
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Lacunas de gênero
Claro, ainda existem grandes lacunas de gênero. As mulheres ganham apenas 84% do que os homens ganham e ocupam apenas 12% dos cargos executivos em empresas de capital aberto. Apenas 41 CEOs das empresas do S&P 500 são mulheres. E, embora a participação da riqueza controlada por mulheres tenha aumentado na última década, ela era inferior a 35% no ano passado.
Mas à medida que mais mulheres entram para o grupo dos mais ricos do mundo, a indústria de gestão de patrimônio — historicamente masculina e voltada para homens — está correndo para mudar a forma como atrai e retém esse novo grupo de clientes.
E como mulheres de todas as idades tendem a doar mais para a caridade do que os homens, espera-se que organizações filantrópicas recebam uma nova onda de doações.
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Ganhos globais de fortunas
A porcentagem de indivíduos com patrimônio ultraelevado em todo o mundo — definidos como aqueles que possuem riqueza de US$ 30 milhões ou mais — subiu para 11% em 2023, contra apenas 6,5% em 2010, segundo a empresa de gestão de patrimônio Julius Baer.
Isso se deve a uma combinação de heranças e fortunas construídas por esforço próprio, segundo os pesquisadores. No passado, homens ricos que construíam dinastias corporativas passavam seus impérios para os filhos, mas agora, mais mulheres estão assumindo o controle.
Na Europa Ocidental, as mulheres atualmente detêm cerca de um terço dos ativos totais sob gestão, totalizando cerca de 4,6 trilhões de euros (US$ 4,85 trilhões), de acordo com a McKinsey. Esse número deve crescer para 45% até 2030.
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Durante esse período, os ativos das mulheres devem crescer a uma taxa anual de 8,1%, comparado a apenas 2,7% para os homens. Nesse ritmo, elas podem alcançar a paridade com os homens no início dos anos 2030, segundo a consultoria.
“Há uma enorme oportunidade econômica para as organizações atenderem mais prontamente às necessidades das mulheres”, disse Beth Viner, diretora-gerente e parceira do Boston Consulting Group.
“A gestão de patrimônio foi concebida quando a maioria dos chefes de família eram homens. Vale a pena questionar: ‘Estamos atendendo às necessidades das mulheres hoje?’”
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Filantropia
À medida que as mulheres controlam uma fatia maior dos ativos globais, espera-se que organizações filantrópicas recebam mais dinheiro.
Mulheres de todas as faixas de renda e gerações têm maior probabilidade de doar do que seus equivalentes masculinos, de acordo com a pesquisa da Lilly Family School of Philanthropy da Universidade de Indiana.
As motivações para a filantropia diferem entre os gêneros, mostram os estudos da escola. As mulheres tendem a doar por empatia, enquanto os homens geralmente doam por interesse próprio. As mulheres também tendem a distribuir suas doações por mais organizações.
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Carey Shuffman, diretora-executiva e chefe do segmento feminino do UBS, disse que os grupos etários variam amplamente em suas doações. Mulheres da geração millennial se preocupam fortemente com justiça social, igualdade e mudanças climáticas, enquanto as mulheres da geração baby boomer preferem organizações religiosas e aquelas focadas na redução da pobreza.
Gestão de Patrimônio
Líderes de empresas de consultoria financeira nos EUA afirmam que estão adaptando suas operações para melhor atender às mulheres. Clientes do sexo feminino valorizam mais a transparência e a colaboração no planejamento financeiro do que os homens, disse Jorgensen, da Dynasty.
Elas não querem apenas alguém para investir seus ativos — elas querem entender o que está acontecendo e como as estratégias de investimento se alinham com seus valores e objetivos.
Elas também dão mais importância a conhecer pessoalmente o consultor financeiro antes de contratá-lo para administrar seu dinheiro, disse Maggie Bilby, vice-presidente da Cyndeo Wealth Partners.
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“Percebemos que as mulheres não valorizam tanto o intelecto ou as credenciais do consultor, mas como ele aplica esse conhecimento de maneira criativa e eficaz”, disse ela.
Muitas mulheres — embora certamente não todas — preferem uma gestora de patrimônio feminina, e as empresas estão aumentando seus esforços de contratação. Em 2024, apenas 24% dos planejadores financeiros certificados eram mulheres.
Elas também precisam avançar nos investimentos em ações. Apenas 71% das mulheres relataram ter investimentos em ações, de acordo com o Women and Investing Study 2024 da Fidelity, comparado a 80% dos homens. Ainda assim, o número aumentou em relação a apenas 60% em 2023 e 44% em 2018.
As mulheres são mais propensas do que os homens a descrever sua abordagem de investimento como “conservadora”, segundo a Fidelity, e mais de 70% dizem que gostariam de ter começado a investir suas economias mais cedo.
“As mulheres fazem um ótimo trabalho ao economizar, mas trabalharam tanto para ganhar esse dinheiro que não querem arriscá-lo”, disse Ryan Viktorin, vice-presidente e consultor financeiro da Fidelity. “Isso parece bom, mas na verdade está ampliando a lacuna de riqueza.”
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