Kinea cita ‘fantasma fiscal’ e diz que mantém posição vendida na bolsa brasileira

Em carta mensal, gestora com R$ 132,7 bilhões em ativos afirma que um possível aumento da Selic a 15% pode trazer novamente o problema estrutural das contas públicas

Brasil
Por Felipe Saturnino
02 de Dezembro, 2024 | 04:43 PM

Bloomberg — A Kinea Investimentos avalia que o “fantasma” da questão fiscal no Brasil pode voltar a reaparecer com a perspectiva de elevação da Selic a níveis que podem ser de 14% ou mais no ano que vem.

“Uma taxa Selic a esses níveis pode trazer novamente o fantasma do problema fiscal estrutural brasileiro, em que um primário com déficit em torno de 1% e o elevado nível de juros reais pressionam o crescimento da relação dívida/PIB, fazendo com que a política monetária perca potência”, disse a Kinea, em carta mensal sobre sua estratégia multimercado.

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A preocupação crescente com as contas públicas tem levado economistas a debater recentemente o risco de o Brasil entrar em um cenário de “dominância fiscal”, uma situação na qual a política fiscal ganha uma influência predominante sobre a inflação e a atividade econômica, e a política monetária do Banco Central perde a eficácia.

O fundo Kinea está vendido em bolsa doméstica — operação que ganha com a desvalorização dos ativos —, dada a combinação de alta de juros e contração fiscal, e diz notar oportunidades melhores de aplicação em ações no exterior. Já no mercado de juros, a Kinea diz que tem apenas pequenas posições “táticas”, sem especificar.

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A economia brasileira está sobreaquecida como resultado do aumento dos gastos públicos, disse a Kinea, que estima um impulso fiscal de cerca de 3% do PIB.

Apesar dos alertas, a gestora não vê o Brasil numa situação insustentável do ponto de vista das contas do governo, o chamado “fiscal cliff” — ou abismo fiscal.

Nos próximos meses, haverá uma perda de tração do impulso fiscal, disse a Kinea, citando que o governo não está acelerando mais os gastos e que a política monetária está se tornando mais contracionista — o que deve levar a uma desaceleração da economia.

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O mercado local recentemente reagiu de forma negativa ao anúncio do pacote de corte de gastos anunciado junto com isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5.000, com avanços de dólar e taxas futuras de juros.

A atividade doméstica deve ter um pouso suave em 2025, mas o fundo não descarta o risco de uma espiral negativa de elevação do prêmio de risco sobre os ativos locais — que seria reflexo da dificuldade do governo conquistar credibilidade e do ambiente externo mais turbulento.

A gestora estima que, no primeiro semestre de 2025, os núcleos de inflação, que excluem itens mais voláteis como alimentos e energia, devem rodar próximo de 6%.

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Com a depreciação do real, que alcança 20% no ano, há aumento significativo da inflação no atacado, disse a Kinea. Além disso, há choques nos preços de alimentos, como no caso do boi gordo, que dispara 45% desde setembro.

A Kinea avalia que o dólar deve se fortalecer frente às principais moedas devido à perspectiva do aumento do diferencial de juros dos Estados Unidos, na esteira da força da atividade econômica americana e da política de tarifas do futuro governo de Donald Trump.

A estratégia multimercado da gestora está comprada na moeda americana contra o renminbi — a divisa chinesa — e outras moedas europeias.

A Kinea, controlada pelo Itaú (ITUB4), detinha R$ 132,7 bilhões em ativos sob gestão em 31 de outubro.

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-- Com informações adicionais da Bloomberg Línea.

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