A visão de Ken Griffin, de sócio ideal e regulação aos riscos do governo Trump

Bilionário investidor, fundador da Citadel, disse em entrevista à Bloomberg News que o protecionismo pode levar, no fim do dia, à perda de produtividade de empresas diante da menor competição

Ken Griffin
Por Sonali Basak - Katherine Burton - Hema Pamar
23 de Novembro, 2024 | 05:51 AM

Bloomberg — Ken Griffin disse que consideraria vender uma parte da Citadel, o fundo hedge multiestratégia de US$ 65 bilhões que ele fundou em 1990, um dos mais bem-sucedidos e admirados de Wall Street.

“Estaríamos abertos à possibilidade de vender uma participação minoritária na Citadel em algum momento no futuro”, disse o bilionário investidor em uma entrevista à Bloomberg News na última quinta-feira (21), no Economic Club of New York.

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Na ampla conversa, Griffin também discutiu o tipo de empresa que ele poderia considerar para tal parceria, descartou a possibilidade de abrir o capital de sua empresa irmã de formação de mercado, a Citadel Securities, em breve, e elogiou e advertiu o novo governo de Donald Trump.

Há dois anos, a Sequoia Capital pagou US$ 1,15 bilhão por uma participação na Citadel Securities, avaliando a formadora de mercado em US$ 22 bilhões à época.

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Quando questionado sobre o tipo de parceiro que Griffin consideraria para o fundo hedge, ele disse que procuraria uma empresa “que se pareça com a Sequoia, que nos incentive a sermos melhores no que fazemos, administrando nossos negócios dia após dia”.

Griffin disse que a Citadel Securities recebeu uma oferta de uma empresa de private equity para investir US$ 5 bilhões há alguns dias, o que permitiria à empresa manter o capital fechado por mais tempo.

Mas ele disse que a formadora de mercado deve evitar fazer um IPO (oferta pública inicial de ações) “no futuro próximo”, devido aos encargos regulatórios sobre as empresas de capital aberto.

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“O trabalho regulatório tornou-se tão grande que vocês estão vendo uma rápida diminuição no número de empresas de capital aberto, e estão vendo as empresas mantendo o capital fechado por muito, muito mais tempo”, disse Griffin na quinta-feira.

‘Início de derrocada’

A amplitude da entrevista de Griffin ressaltou seu papel como uma das figuras mais influentes de Wall Street e um grande doador para políticos republicanos.

Ele doou mais de US$ 100 milhões para comitês de ação política pró-republicanos nesse ciclo presidencial, de acordo com o site OpenSecrets, que compila os dados de financiamento eleitoral. Nenhum desse dinheiro foi para apoiar a campanha de Trump.

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Griffin disse que, sob a Securities and Exchange Commission de Trump, “não passaremos os próximos quatro anos tentando descobrir qual problema a SEC está tentando resolver”.

Ele previu que grande parte da agenda do atual presidente Gary Gensler - que já anunciou que deixará o cargo quando Trump assumir - não sobreviverá, dados os processos judiciais e a nova liderança da SEC.

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Mas ele fez um alerta sobre as tarifas de importação que Trump promete promover. Embora as empresas americanas tenham inicialmente uma vantagem no mercado doméstico com a eliminação da concorrência global, as tarifas acabariam levando à diminuição do crescimento e da inovação, de acordo com Griffin.

“Estou muito mais preocupado que esse seja o início de uma ladeira em direção à irrelevância econômica” e um declínio na produtividade, disse ele.

Os republicanos também devem estar atentos ao efeito dos cortes de impostos sobre a dívida pública crescente, disse Griffin. O partido, que controlará a Casa Branca, o Senado e a Câmara a partir de janeiro, também precisará considerar o corte de gastos, advertiu ele.

Griffin reconheceu que isso será difícil porque “essas são decisões realmente impopulares para os políticos tomarem”.

Griffin também reiterou os comentários que fez no início desta semana sobre suas preocupações com os planos declarados de Trump para deportações em massa de imigrantes.

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“É uma área de real preocupação para mim, porque grande parte do sucesso de nossa nação está enraizada em nossa capacidade de atrair os melhores e mais brilhantes de todo o mundo para trabalhar com empresas americanas e abrir empresas americanas”, disse ele.

Embora tenha afirmado que a política de imigração dos EUA está “defasada”, ele disse que gostaria de ver uma política de imigração “ponderada” que “proteja a grande posição dos EUA no mundo de ser o país para o qual as pessoas vêm para perseguir seus sonhos”.

Ao comentar sobre os candidatos a próximo secretário do Tesouro, Griffin disse que adoraria que o CEO da Apollo Global Management, Marc Rowan, aceitasse o cargo se Trump o oferecesse.

"Marc, por favor, aceite o cargo", disse ele.

Na noite de sexta-feira (23), no entanto, Trump anunciou a escolha de Scott Bessent,do fundo hedge macro Key Square Group, para comandar a economia em seu próximo governo.

-- Com a colaboração de Katherine Doherty, Bill Allison e Hadriana Lowenkron.

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