Bloomberg Línea — A Systemica, empresa de estruturação e gestão de créditos de carbono, tem avançado com projetos de conservação e de restauração de florestas quase um ano e meio depois de receber um investimento do BTG Pactual.
Até o fim deste ano, a empresa espera concluir o trabalho para adicionar 700 mil hectares a seus projetos de conservação de florestas, mais que triplicando o total de terras sob gestão para 1 milhão de hectares, o equivalente a cerca de 6,6 vezes a área do município de São Paulo.
A expansão, que se concentra principalmente em terras no Amazonas, no Pará e no Mato Grosso, deve permitir a comercialização de cerca de 1,5 milhão de toneladas em créditos de carbono ao ano a partir de 2025, segundo os sócios Munir Soares e Tiago Ricci, em entrevista à Bloomberg Línea.
Isso levará a um crescimento em relação ao total de 2 milhões de toneladas de créditos de carbono que a empresa comercializou desde 2020 até este ano, relacionados aos projetos de conservação já em operação, segundo os empresários.
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“A nossa ideia é comercializar 1,5 milhão de toneladas por ano a partir de 2025. Isso deve aumentar para 2 milhões de toneladas a partir de 2026, 2,5 milhões em 2027 e por aí vai”, afirmou Ricci.
De acordo com a estimativa dos executivos, cada hectare de floresta conservada pode gerar em média 5 créditos de carbono por ano, que são negociados atualmente por cerca de US$ 10 cada um no mercado global.
“Em um território de 160 mil hectares, estamos falando de um potencial de receitas futuras de R$ 10 milhões a R$ 20 milhões por ano durante 30 anos. É uma receita significativa para transformar esses territórios”, disse Munir Soares, que também é o CEO da companhia.
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A Systemica não adquire as terras diretamente, mas trabalha com comunidades e proprietários rurais para estruturar os projetos.
Isso inclui a realização de estudos de viabilidade, verificações e adequação de documentos, pesquisas sobre a fauna e a flora do terreno, auditorias, obtenção de certificações, e, por fim, a própria comercialização dos créditos de carbono gerado.
As receitas são divididas com os proprietários. Segundo os sócios, o trabalho dura até dez meses para ser concluído.
“O grande gargalo hoje que nós temos no Brasil é a questão fundiária”, disse Ricci.
“O carbono tem que ser visto como uma ferramenta de indução de melhoria econômica no território, com regularização fundiária e melhoria da qualidade de vida socioambiental. E esse é o viés.”
Fundada em 2012 por Munir Soares, a Systemica atuava inicialmente como uma consultoria na área ambiental. Em 2020, os sócios mudaram o foco e passaram a desenvolver os próprios projetos de originação de projetos de crédito de carbono.
O trabalho chamou a atenção do BTG Pactual (BPAC11), que já atuava no segmento desde que adquiriu em 2015 a Timberland Investment Group (TIG), gestora especializada em ativos florestais com US$ 7,2 bilhões sob gestão.
O banco fez um investimento de valor não divulgado e se tornou sócio minoritário da Systemica em maio de 2023.
Reflorestamento
Além de avançar com os projetos de conservação de florestas que continuam em pé, a Systemica também tem apostado em crescer em duas outras frentes: a restauração de terras degradadas e o desenvolvimento de sistemas agroflorestais (SAF, na sigla em inglês) - trata-se do cultivo de produtos agrícolas, como cacau, açaí e andiroba, em combinação com área de florestas.
O avanço nessas áreas foi reforçado pela aquisição da Arapuá, empresa do Pará especializada em projetos de SAF comprada pela Systemica em julho desde ano. Os termos e os valores da transação não foram divulgados.
Segundo o CEO, a empresa tem mapeados cerca de 6 milhões de hectares que atendem a critérios técnicos – relacionados a chuva, solo, inclinação, distância de rodovias, acesso à mão de obra – e têm potencial de serem desenvolvidos em projetos de restauração florestal.
Atualmente a empresa trabalha no desenvolvimento de cerca de 50 mil hectares para áreas de restauro ecológico e 3 mil hectares para áreas de sistemas agroflorestais.
As terras estão na fase de análise regulatória e diligências para que os investimentos possam começar a ser realizados. A expectativa era de que esse trabalho começasse até o final do ano.
No caso desses projetos, o investimento é de longo prazo, pois é preciso, transportar as mudas até o local, plantar as árvores, cuidar do desenvolvimento das plantas, combater pragas e fazer o manejo da terra.
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Os proprietários têm a opção de arrendar a área ou se tornar sócios do projeto, dividindo a renda dos créditos de carbono e do cultivo de produtos agrícolas - e correm os riscos de mercado.
“Conseguimos ter dois efeitos na renda do produtor. A renda dele aumenta, porque em geral são terras de baixíssima produtividade. E o valor da propriedade sobe, porque geramos um fluxo de caixa futuro que tem uma rentabilidade significativa”, afirmou Soares.
A meta da empresa é contar com 40.000 hectares de áreas de restauro em operação até 2030, sendo 30% - ou 12.000 hectares - em sistemas agroflorestais, segundo o CEO.
Para alcançar os objetivos, os sócios sabem que não basta convencer os proprietários das terras da importância ambiental de manter uma floresta no terreno ou, no caso dos projetos de conservação, argumentar de que o desmatamento seria ilegal. É preciso oferecer uma alternativa econômica e mais lucrativa.
“Se trouxermos recursos para que essas populações, para que os proprietários privados possam fazer a conservação dos seus territórios, gerando dinheiro para que possam continuar suas práticas produtivas, mas sem desmatar, é esse o argumento que você tem que levar para frente”, afirmou Ricci.
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