Bloomberg — A era do crescimento explosivo dos fundos hedge multiestratégia chegou ao fim, de acordo com o bilionário Ken Griffin, que dirige uma das maiores empresas que atua no segmento.
“Esse capítulo chegou ao fim”, disse o fundador da Citadel em uma entrevista à Bloomberg News em Oxford, no Reino Unido. “Os fluxos de ativos sob gestão para fundos multiestratégia estão basicamente estagnados hoje em dia.”
Esses fundos têm atraído dinheiro nos últimos anos ao proporcionarem ganhos constantes, mesmo durante períodos de volatilidade do mercado, impulsionados por uma ampla variedade de abordagens de investimento em suas equipes de negociação.
A capacidade de cobrar taxas mais altas, gastar muito para recrutar os melhores operadores e abastecer suas posições com dinheiro emprestado fez deles a força mais influente no setor de fundos hedge de US$ 4,5 trilhões.
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O capital da Citadel aumentou mais de cinco vezes, chegando a US$ 65 bilhões desde 2008, enquanto a rival Millennium Management cresceu no mesmo ritmo, chegando a mais de US$ 70 bilhões, e a D.E. Shaw acumulou mais de US$ 60 bilhões.
Muitos dos principais participantes não estão mais levantando dinheiro ativamente, pois a escassez de talentos e os desafios de entrar e sair das apostas alavancadas reduzem sua capacidade de continuar crescendo.
Os ativos administrados por fundos hedge multiestratégia caíram ligeiramente para US$ 366 bilhões este ano, a primeira queda desde 2016, de acordo com o Goldman Sachs. Em 2017, o volume sob gestão era de US$ 134 bilhões.
Para Griffin, a trajetória de crescimento foi impulsionada pelos retornos de capital aos investidores, conhecidos como limited partners ou LPs. “Sejamos realistas: isso foi impulsionado pelo fato de que nós, em particular, estávamos devolvendo bilhões de dólares de capital por ano aos LPs. Eles estavam querendo colocar esse dinheiro para trabalhar”, disse Griffin.
A Citadel tem devolvido lucros regularmente para controlar seu tamanho, distribuindo US$ 25 bilhões aos clientes desde 2017.
O titã dos fundos hedge de 56 anos falou à Bloomberg logo após discursar para uma plateia de estudantes na histórica Oxford Union na segunda-feira, onde discutiu uma série de tópicos, desde as possíveis políticas tarifárias de Donald Trump até investimentos e imigração.
‘Trump Trade’
Em um setor conhecido por seu sigilo e relutância em falar em fóruns públicos, a postura de Griffin tem sido atípica. Ele tem apoiado uma agenda de impostos mais baixos e de livre mercado e tem sido um crítico veemente dos protestos anti-Israel nos campi universitários de elite dos EUA.
Ele doou mais de US$ 100 milhões para comitês de ação política pró-republicanos nesse ciclo presidencial, de acordo com o rastreador de finanças de campanhas eleitorais OpenSecrets, e no mês passado previu que Trump ganharia a presidência.
Quando perguntado sobre um possível “Trump trade” para os próximos quatro anos, Griffin fez uma longa pausa antes de prever que as empresas anteriormente sujeitas a um ataque regulatório se sairiam melhor.
“A maior mudança não é uma empresa específica em si, mas é que os espíritos animais nos Estados Unidos estão sendo reacendidos”, disse Griffin à Bloomberg.
Ele previu que as empresas sob o novo governo estarão dispostas a assumir mais riscos, construir mais fábricas, investir mais em pesquisa e desenvolvimento e alocar mais dinheiro para investimentos de longo prazo, desde a aquisição de clientes até novas tecnologias.
"Essa é a maior mudança radical", acrescentou Griffin. "Isso vai levantar todos os barcos."
Com relação aos riscos que no setor de fundos hedge, particularmente a “operação de base” (basis trade), Griffin disse que esse mercado é muito menor atualmente.
Esse tipo de estratégia, popular entre alguns dos maiores fundos hedge do mundo, busca lucrar com as pequenas diferenças de preço entre os títulos do Tesouro e derivativos conhecidos como futuros. O Financial Stability Board (Conselho de Estabilidade Financeira), organismo internacional de supervisão do sistema financeiro, tem estudado fazer uma avaliação mais profunda sobre essas apostas.
“O basis trade foi retirado da conversa”, disse Griffin. “A discrepância de preços entre os futuros e os títulos, particularmente nos mercados de dólar dos EUA, diminuiu e a quantidade de dinheiro empregada diminuiu.”
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