Larry Fink antecipou a ‘febre’ em ETFs. Agora prepara o próximo salto da BlackRock

Negociações para a compra da HPS e de fatia da Millennium, além de outros deals, reforçam a ambição para que a gestora esteja bem posicionada para capturar o boom previsto em ativos privados

Larry Fink foi um dos cofundadores da BlackRock em 1988 e liderou a sua expansão até se tornar a maior gestora do mundo em ativos
Por Silla Brush
16 de Novembro, 2024 | 07:15 AM

Bloomberg — Larry Fink recorreu a grandes negócios para fazer com que a BlackRock saísse na frente da década da “avalanche” de capital para ETFs. Agora ele está fazendo o mesmo para garantir que sua empresa não seja deixada para trás na debandada de investidores para ativos privados.

O chefe de longa data da BlackRock - da qual foi um dos cofundadortes em 1988 - investiu cerca de US$ 16 bilhões neste ano para se tornar o segundo maior investidor em infraestrutura do mundo e adquirir os dados necessários para, como ele disse, “indexar os mercados privados”.

Agora, sua empresa está em negociações avançadas para comprar a HPS Investment Partners - uma das maiores empresas de crédito privado - e discute a aquisição de uma participação na Millennium Management, de Izzy Englander, um dos mais importantes fundos hedge do mundo.

Enquanto isso, a BlackRock informou aos funcionários nesta semana que decidiu encerrar uma estratégia de private equity de longo prazo, devolver o capital aos investidores e parar de captar novos recursos. Além disso, está reformulando as unidades de crédito privado e de fundos hedge que já possui.

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O objetivo das medidas é posicionar a BlackRock para competir com os maiores participantes dos mercados privados: KKR & Co., Apollo Global Management, Carlyle Group e Blackstone Inc., da qual a BlackRock foi desmembrada há três décadas.

Tudo isso para se antecipar ao boom dos mercados privados, que seus proponentes preveem que poderá atingir a escala do movimento de investimento passivo que levou muitos gestores de ativos tradicionais à crise e transformou a BlackRock em um gigante de US$ 11,5 trilhões sob gestão - o maior do mundo.

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Embora as pessoas com conhecimento do assunto que falaram com a Bloomberg News alertem para o fato de que tanto as negociações com a HPS quanto com a Millennium podem terminar sem um acordo, elas ilustram as ambições dos líderes da BlackRock de transformar a empresa, como aconteceu em dois momentos críticos anteriores.

Em 2006, a BlackRock adquiriu a Merrill Lynch Investment Management por mais de US$ 9 bilhões, criando uma empresa com cerca de US$ 1 trilhão em ativos.

Três anos depois, adquiriu a Barclays Global Investors por US$ 15,2 bilhões - no início da era dos ETFs. Com esse salto, ganhou uma operação de US$ 1,5 trilhão em ativos da Alemanha ao Reino Unido e colocou a empresa de Fink no caminho para se tornar a maior provedora de ETFs nos EUA e na Europa.

“O dinheiro está fluindo para os ativos privados, e a BlackRock quer estar em posição de capturá-lo”, disse Michael Rosen, diretor de investimentos da Angeles Investments, que lembrou que conheceu Fink em meados da década de 1990 durante uma reunião com um cliente sobre investimentos em renda fixa.

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"Eu nunca apostaria contra ele".

Negócios maiores

Os investimentos oferecem fees e lucros mais altos do que os ETFs e os fundos de índice de referência, dos quais a BlackRock administrava US$ 7,75 trilhões no fim de setembro.

E, embora a empresa já administre mais de US$ 300 bilhões em ativos alternativos líquidos e ilíquidos, ela agora procura oferecer negócios ainda maiores para seguradoras, pensões e fundos soberanos que desejam investimentos de longo prazo e de maior rendimento.

“Os mercados privados são uma parte cada vez mais central dos portfólios de nossos clientes”, disse um porta-voz da empresa sediada em Nova York em um comunicado.

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“A BlackRock tem investido no crescimento de nossa plataforma de mercados privados há mais de uma década. Isso nos coloca em posição de oferecer mais aos nossos clientes, que continuam a buscar fazer mais conosco. Nossos resultados recentes refletem sua confiança.”

Riscos até para a BlackRock

Ainda assim, essas compras em massa trazem riscos, mesmo para a BlackRock.

A empresa está gastando dinheiro rapidamente e assumindo mais dívidas para adquirir gestoras de ativos privados, e muitas vezes é difícil integrar culturas e reduzir o que pode ser um abismo na remuneração.

A despesa de remuneração da BlackRock por funcionário foi de cerca de US$ 292.000 no ano passado, enquanto as maiores empresas de mercados privados dos EUA tiveram em média aproximadamente o triplo desse valor.

Quando avaliaram a perspectiva da dívida da BlackRock, os analistas da Moody’s Ratings questionaram se o tamanho e o momento dos negócios poderiam criar dificuldades, já que colocaram uma perspectiva negativa na classificação Aa3 da empresa, a nota de crédito mais alta entre as gestoras de ativos de capital aberto.

"Continuamos preocupados com o fato de que os riscos associados à absorção e à integração de duas aquisições exercerão pressão sobre os recursos de gestão da BlackRock, embora o histórico da empresa em realizar grandes aquisições seja bom", disse a Moody's em uma nota de 10 de novembro.

O tamanho da BlackRock lhe dá uma vantagem distinta: o poder de comprar líderes do setor.

É um desafio para as empresas tradicionais de investimento em ações e títulos recuperar rapidamente o atraso nos mercados privados globais, avaliados em mais de US$ 13 trilhões pela McKinsey & Co.

A captação de recursos leva meses, se não anos. Os investimentos podem durar cinco, sete ou até dez anos. Fundos de pensão públicos, family offices, indivíduos muito ricos e fundos soberanos geralmente exigem um longo histórico das empresas.

Como parte de seu acordo de US$ 12,5 bilhões para adquirir a Global Infrastructure Partners, a BlackRock criou um pool de retenção de US$ 650 milhões para manter os profissionais da GIP satisfeitos.

O cofundador da GIP, Adebayo Ogunlesi, um dos maiores acionistas individuais da BlackRock, deve entrar para o conselho da empresa, com grande influência sobre a estratégia.

Seu diretor de operações, Raj Rao, é membro da equipe executiva global da BlackRock, e outros investidores sênior do GIP ganharam grandes salários e pacotes de incentivos lucrativos para ficar.

Para algumas pessoas com conhecimento direto da empresa, o acordo foi algo semelhante a uma chegada de bilionários às fileiras de seus funcionários, em que a remuneração às vezes fica atrás dos rivais nos mercados privados.

Muitos dos atuais funcionários da BlackRock na área de infraestrutura fazem parte da divisão de investimentos para a área com 600 pessoas, que agora é conhecida como “GIP, uma parte da BlackRock”.

Fees mais elevados

Além da compra da GIP em 1º de outubro e da busca pela HPS - possivelmente por mais de US$ 11 bilhões -, a BlackRock também está para adquirir a Preqin. E se uniu ao Partners Group Holding para criar novas cestas de ativos alternativos, incluindo private equity e crédito, para investidores ricos.

Todos esses negócios podem ajudar a impulsionar os resultados financeiros da BlackRock.

Os fundos alternativos cobram taxas mais altas do que os fundos de índices passivos e ETFs. No terceiro trimestre, os ativos alternativos líquidos e ilíquidos totalizaram cerca de 2% dos ativos da empresa, mas as taxas de administração e performance foram responsáveis por cerca de 14% da receita total.

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Isso poderia ajudar a empresa a atingir sua meta de dobrar a receita dos mercados privados até 2028, possivelmente até o fim do próximo ano.

De modo geral, a BlackRock administra atualmente cerca de US$ 450 bilhões em alternativos. A conclusão de um acordo com a HPS, que supervisionava US$ 117 bilhões de ativos em meados do ano, aumentaria o total.

Os esforços anteriores da BlackRock para comprar e operar empresas de mercados privados, no entanto, nem sempre foram tranquilos.

Veja o caso da Tennenbaum Capital Partners, uma empresa de crédito que tinha cerca de US $ 9 bilhões de capital comprometido com clientes quando a BlackRock a comprou em 2018 - antes que a “corrida do ouro” do setor começasse pra valer.

Embora a BlackRock tenha dito que a continuidade era fundamental para o sucesso da transação, três dos cinco sócios seniores da Tennenbaum saíram e um quarto está em vias de sair.

Tim O’Hara, codiretor global de crédito da BlackRock na época, saiu em 2022. James Keenan, atualmente chefe global de dívida privada, também está de saída após cerca de duas décadas na empresa.

Os esforços da BlackRock para crescer em investimentos secundários também enfrentaram contratempos. Três dos principais executivos da empresa nessa parte do setor mudaram-se em 2022 para a Apollo, pouco depois de ajudar a empresa a levantar mais de US$ 3 bilhões para essas transações.

Na quinta-feira (14), executivos seniores da BlackRock disseram à equipe que a estratégia de capital privado de longo prazo agora se concentrará em devolver o dinheiro restante do fundo - cerca de US$ 1 bilhão - aos investidores.

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A estratégia ficou bem aquém da meta inicial de captação de recursos de cerca de US$ 12 bilhões. A empresa decidiu interromper uma segunda safra do fundo, de acordo com um memorando do presidente Rob Kapito, do diretor de Operações Rob Goldstein e de Brent Patry, chefe global de mercados privados de ações.

"Entendemos que clientes diferentes têm necessidades diferentes e acreditamos que reorientar todos os nossos esforços para maximizar o valor das empresas do portfólio existente e retornar o capital é do interesse de todas as partes interessadas", escreveram os executivos.

Reformulação de sua estrutura

O negócio do GIP foi estruturado de forma diferente das aquisições anteriores.

Com seus US$ 115 bilhões em ativos de infraestrutura, a equipe de gestão sênior do GIP está agora encarregada dos investimentos combinados em infraestrutura da BlackRock, incluindo os cerca de US$ 50 bilhões já anteriormente na casa.

O GIP, que deve gerar cerca de US$ 1 bilhão em fees em 2025, está levantando seu quinto fundo de infraestrutura, visando uma captação de US$ 25 bilhões. Isso rivalizaria com os US$ 28 bilhões levantados no ano passado pela Brookfield Asset Management.

A BlackRock e o GIP também firmaram uma nova parceria com a Microsoft (MSFT) em um dos maiores esforços já realizados para financiar a construção de data centers e de infraestrutura de energia para pegar carona do boom de Inteligência Artificial (IA).

A aquisição da HPS poderia trazer ainda mais nomes importantes dos mercados privados para a BlackRock.

Fundada em 2007 por Scott Kapnick, Scot French e Mike Patterson, a empresa comprou a si mesma do JPMorgan Chase em 2016, um negócio que a avaliou em quase US$ 1 bilhão.

Um acordo com a Millennium também poderia ser mutuamente benéfico.

A BlackRock obteria uma parte de um dos maiores e mais bem-sucedidos fundos hedge do mundo, adquirindo credibilidade instantânea nesse setor e tornando-se o primeiro investidor externo a deter uma participação na empresa de 35 anos.

Para o Millennium, a venda de uma participação para a BlackRock ajudaria seus esforços para se tornar mais institucional - com sua equipe de executivos no comando, em vez de um fundo hedge dirigido principalmente por um único indivíduo.

Mesmo que os negócios com a HPS e o Millennium fracassem, a BlackRock ainda avança na reformulação da liderança de seus negócios atuais.

A gestora encerrou sua unidade autônoma de investimentos alternativos no ano passado, criando unidades separadas de mercados de capital acionário e de dívida privada.

Em seguida, como parte do anúncio da aquisição do GIP, o diretor de mercados privados de ações da BlackRock, Edwin Conway, disse que sairia.

A empresa reformulou seus negócios de dívida privada em setembro, anunciando a saída de Keenan e a criação de uma nova unidade de empréstimos diretos.

No início deste ano, a gestora informou aos funcionários sobre seu plano de reformular seus negócios de investimento em fundos hedge. Cerca de dois terços de seus cerca de US$ 75 bilhões em ativos de fundos hedge eram mantidos em fundos diretos da BlackRock em meados do ano, e o restante, em fundos externos que a empresa avalia para os clientes.

A nova iniciativa - chamada BlackRock Hedge Funds - está sendo liderada por Philip Vasan, que chegou à empresa em 2016 vindo do Credit Suisse, em que dirigia o financiamento de corretagem de primeira linha para fundos hedge e investidores institucionais.

-- Com a colaboração de Hema Parmar e Dawn Lim.

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